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Erotico-->4. JOÃO -- 31/12/2003 - 09:48 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Era um homem forte. Viveu mais de noventa anos e só desencarnou quando se viu enleado por profunda saudade dos filhos e da esposa. Foi definhando, emagrecendo, a mente acabou por ficar nublada, até que se lhe apagou a vela da vida, com ligeiro sopro do destino.

No etéreo, foi recepcionado com muitas festas, tendo, porém, demorado para despertar da letargia dos últimos vinte anos. A velhice fora-lhe peso suplementar no sentido moral, porque não atinava com a necessidade dela.

Nos últimos tempos, fizera amizade com pessoas idosas, afeiçoando-se humanitariamente com a maioria, porque suportava as longas histórias que lhe contavam, imergindo, no entanto, em pensamentos de antanho, da época em que, vigoroso, decidia sobre a vida de inúmeras pessoas da família e sobre o destino material dos empregados otimamente remunerados.

Felícia testemunhava os acontecimentos mais importantes reproduzidos no vídeo através do disquete que lhe fora oferecido pelo protetor. Havia suplantado a dificuldade de se considerar superior, mas queria averiguar a importância do sofrimento de certos indivíduos que habitavam o mesmo edifício.

“Se não cotejar com os feitos de que me orgulho, poderei suspeitar de protecionismo ou de fragilidade conceptual na atribuição de valor aos espíritos que dizem ter vencido as provas mais contundentes.”

Sabia que não resultaria em nada positivo o seu julgamento. Mas, vencida pela curiosidade, já que a providência fora o próprio Governador quem lhe propusera, poderia ocupar-se, durante algum tempo, sem a premência da necessidade de ingressar na “Escolinha de Evangelização”.

À vista de ter sido assaltada por certo pensamento de que havia malícia em tal atitude, referendou a idéia de que poderia aproveitar-se das experiências alheias, enviando vibrações ao instrutor, na tentativa de firmar-lhe, por meio de telecomunicação mental, que estava alcançando decifrar as mensagens que vinha recebendo.

“Se não estiver sendo orientada pela consciência, então, não poderão faltar-me os que se responsabilizam pelas ponderações a distância.”

Eram pensamentos que se constituíam também em sofrimentos. Buscou interessar-se pelos serviços do amigo João, na qualidade de espírito, dentro da colônia.

Depois do período de compatibilidade vibratória após a última jornada, que não durou menos do que trinta dos anos terrestres, João se viu enredado em conflitos profundos de consciência, desses que pressupõem a necessidade de acompanhamento íntimo da parte de alguns protetores e mentores espirituais. Consistiam os tremores da alma em entender as atitudes mais drásticas relativamente à educação dos filhos e dos netos, patriarcalmente, como se todo o peso do mundo devesse arcar-lhe sobre os ombros. Era hígido, era trabalhador, era ponderado, mas também era inflexível, o que começava a parecer-lhe grave defeito intelectual, porque não chegava nunca a compreender os familiares, como fizera tão completamente com os companheiros de asilo. Sentia o influxo amoroso dos familiares, entretanto, pensava-se em débito para com eles e chorava constantemente, a pedir perdão por não tê-los abraçado com mais freqüência. Se lhe diziam que lhe compreendiam a personalidade, pela formação rígida que recebera e pelo temor de perder os entes queridos, por causa da fraqueza ocasional da displicência do perdão imotivado, ficava irado consigo mesmo e mais ainda se acusava de perdulário das infinitas graças de haver constituído família de tantas qualidades.

“Esse energúmeno não via que caminhava com a segurança de bem formulado caráter nos princípios evangélicos e cristãos?! Nos círculos da vida e da morte, ocorrem coisas que nos levam a agir sob o influxo da intemperança, mesmo que esse conceito se situe no limiar da contradição, porque o que lhe estava causando a preocupação era o fato de ter sido, talvez, exageradamente preocupado.”

Felícia desligou o aparelho e desejou conversar pessoalmente com João.

Foi encontrá-lo rodeado de amigos, aos quais oferecia um apanhado de seus últimos estudos no campo do magnetismo animal. Falava estranha linguagem, cheia de termos técnicos, contudo parecia interessar sobremodo os ouvintes.

“Em que parte da caminhada terá deixado as reflexões negativas? É verdade que não vi o inteiro teor da transcrição, porque me embaralhei nos pensamentos filosóficos…”

Felícia arrependeu-se de ter ido atrás do idoso. Idoso? A fisionomia não traduzia vetustez. A impressão talvez estivesse sendo estimulada pelo retrato corpóreo com que encerrou a vida. Fez abstração dos apanhados memoriais e deparou-se com vigoroso senhor, cheio de vitalidade, como nos tempos em que tinha trinta e poucos anos.

Antes de se retirar, sem conversar com o companheiro do “Tugúrio dos Afortunados”, ainda teve a audácia de acreditar que o homem estava pagando os débitos da insegurança de procedimento em relação aos encarnados, resgate que compreendia a necessidade das lições, no estudo das quais estaria preso.

“Esse coitado está imerso no trabalho. Não tem tempo nenhum para o conhecimento de si mesmo. Por certo, vai ainda sofrer surpresas muito desagradáveis.”

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