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Teses_Monologos-->CAMARADA DEUS [Os últimos dias de Stálin] (5) -- 11/03/2003 - 04:48 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O sonho secreto do ditador

Stálin tinha todo o poder, mas um único sonho. Queria ser reconhecido, como Lênin. Este, pouco antes de sua morte em 1924, fizera o Partido jurar que não faria dele o seu sucessor. Os camaradas deixaram que essas suas palavras se perdessem no vento.

Em absoluto, eles não comparavam Stálin a Lênin. Depois do caos da guerra civil, eles não buscavam um Chefe do Partido que fosse carismático, mas um que fosse sólido e tivesse mão firme. Era isso que viam em Stálin.

De nada lhe valeu o fato de ter, ele próprio, redigido mais tarde tudo o que dele se dizia na esfera do poder em Moscou. De próprio punho, assim ele prefaciava a edição de sua breve biografia publicada em 1948:

"Muito embora dominasse com perfeição artística a sua tarefa como condutor do Partido e do Povo [...], Stálin jamais permitiu que ela fosse afetada pela mínima sombra de vaidade, soberba ou jactância".

Na realidade, eram justamente essas as qualidades que, aos olhos de seus companheiros, distinguiam Stálin de Lênin. Assim – como hoje Saddam Hussein –, ele podia até ocupar, como um trono, a ponta da longa mesa, acima dos camaradas, e anotar com lápis azul, a exemplo de Lênin, nomes e datas, disseminando o medo. Mas ninguém via nele um segundo Lênin. Disso se vingou Stálin, atingindo de forma terrível a muitos deles.

Um vingador assim não deveria sequer estar à frente do Partido. Esse temor unia, quando Stálin morreu, quase todos os membros da Presidência – tal a insegurança com que uns aos outros ainda se espreitavam. Stálin não destacara um sucessor.

O idoso Ministro das Relações Exteriores Viatcheslav Molotov havia sido por muitos anos seu mais fiel seguidor, mas, desde 1949, o Chefe do Partido não só o demitira, como despachara sua esposa, judia, para um campo de concentração.

Georgi Malenkov, zeloso porém obscuro organizador, fora ajudante pessoal de Stálin nos últimos tempos. Mas o ditador gostava de apresentá-lo aos demais como um molenga. Em Kruchev, Stálin não via mais do que um condutor de camponeses. Tampouco Béria, cuja subida ao poder era a mais temida pelos membros da Presidência, parecia menos suspeito aos olhos do seu conterrâneo da Geórgia.

O medo, que a todos por tanto tempo paralisara, fez com que os herdeiros de Stálin agissem de forma mais efetiva ainda em suas últimas horas. Durante os setenta minutos da reunião extraordinária no Kremlin, que foi interrompida pela morte na dacha, Kruchev recebeu a missão de se concentrar no trabalho no Comitê Central do PCUS. Com isso, o impulsivo mas jovial matuto tinha em suas mãos a responsabilidade de ser o futuro Diretor do Partido. Malenkov tornou-se o novo Chefe de Governo, suplantando assim o temido Béria, que ficou com o Ministério do Interior.

Quando o Serviço de Radiodifusão anunciou que Stálin tinha morrido e era velado na sala da coluna da sede do sindicato em Moscou, centenas de milhares de pessoas acorreram ao centro da cidade, que estava cercado por militares e pela polícia.

No meio da multidão, um jovem tcheco que fora colega de Mikail Gorbatchov no Curso de Direito em Moscou. Zdenek Mlynár, um dos reformadores de ponta em 1968, na Primavera de Praga que os tanques do capitalismo tardio soviético esmagaram, se despede do ditador em seu livro "Geada" [Nachtfrost]. Foi um tumulto verdadeiramente assassino, algumas pessoas morreram na ocasião:

"Houve roubos, muita vodka, libidinagem. Era uma multidão que se sentia unida na vontade de não perder um espetáculo... a mesma massa de pessoas que, na velha Rússia, acorria às execuções ou à coroação dos czares".

Quando, depois da meia-noite, Mlynár chegou de volta à republica estudantil onde morava, havia garrafas de vodka vazias sobre a mesa. Seus quatro colegas russos, que, por Stálin, já haviam lutado contra a Alemanha, estavam dormindo. "Só um deles acordou, viu o meu casaco em trapos e ficou espantado: ‘Seu idiota! Pegue amanhã mesmo o passaporte, vá de metrô ao centro da cidade, não diga uma palavra em russo, pergunte apenas pelo natschalnik, pelo presidente. Policiais haverão de levá-lo ao natschalnik, e este a Stalin. E assim exatamente se deu."

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[Na segunda parte desta reportagem: Do reino dos mortos - Josef Stálin e o labor da modernização]

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