Há pessoas que nascem com um carisma que as distingue das outras, não por serem necessariamente bonitas, inteligentes ou donas de uma esperteza que lhes confira sempre os primeiros lugares ou um prestígio artificial, coisas às quais muitos conseguem pelo uso da força, seja do dinheiro ou do tráfico de influência.
São pessoas como Milene Arder, donas de um poder que a muitos de nós falta, e não raramente nos causa inveja: o de conquistar, de graça, o carinho e a admiração de todos. Leiam, vejam, ouçam bem: eu falei conquistar. É contraditório falar em conquistas sem lutas, sem sacrifícios, sem baixas. É o tipo de constatação que nos espanta. O fulano é gente-fina. Ciclano é massa. Beltrano é uma figura. Decano não existe, etc.
Desculpem-me a adaptação desse último termo. Decano, para os jovens leitores que ainda não tiveram oportunidade de consultar o significado no dicionário, é a designação do componente mais antigo de um conselho, de um tribunal, de uma assembléia. No caso de pessoas como Milene, invariavelmente, como disse outro escritor do Usina, se não me engano o Xavier, elas são sempre as primeiras pessoas com quem fazemos amizades e as últimas com quem brigamos. Se é que seja possível brigar com pessoas dessa natureza.
As raízes mais antigas descem mais fundo no solo, e dão à árvore uma firmeza capaz de suportar as maiores ventanias. Assim se dá com a amizade e a admiração nascidas a partir do encontro com esses seres iluminados, que nos ganham de graça, dando-nos, por isso mesmo sem querer nada em troca, carinho, consolo e abrigo.
Já ouviram aquela expressão: não fui com a cara dessa pessoa? Pois é, trata-se da situação inversa àquela que muitos de nós já vivemos. Olhamos pra alguém, e pelo seu jeito especial de ser, pensamos: “eu daria qualquer coisa pra ser amigo dela(e)...” Somente assim posso justificar a eleição de Milene Arder como o membro mais admirado, lembrado e citado da Usina de Letras.
Como ela mesma reconhece, há escritores cujo talento quiçá seja superior ao seu, todavia, nenhum é mais sensível que ela e capaz de nos comover com o que escreve, a ponto de criar em torno de si um círculo tão grande de admiradores. Por esse aspecto, então, talento no sentido técnico se torna inferior, menor, desprezível em comparação ao de nos levar à emoção, ao fundo de nossas almas para questioná-las em suas intenções e “verdades”.
Como todos nós tendemos a pensar que somos os melhores, os “bambas”, os “ases” da palavra, deixo aqui minha confissão e certeza de que as palavras matam, porém o espírito que nelas se imprime, é o que vivifica.
Que Deus permita que sejamos vivificados em nossas emoções por pessoas como Milene, que, sem ambições, cultivam amizades como se elas fossem mais valiosas que todos os tesouros do mundo... E de fato o são!