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Erotico-->27. UM PEQUERRUCHO NA LISTA DAS COISAS BOAS -- 25/12/2003 - 07:46 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Vou dizer desde logo que não pretendo escrever mais nada neste caderno, almejando que esta seja a minha derradeira página.

Encontramos, Maria e eu, com que nos entretermos nos próximos quinze ou vinte anos (Deus queira que seja mais!), na figura graciosa de um menininho que adotamos.

A inocência das crianças é o que há de mais sublime e de generoso que Deus soube criar no universo.

Maria deixou as aulas, bastando-lhe os proventos da aposentadoria. Eu aumentei um pouco o serviço particular que presto às editoras, mas reduzi drasticamente a contribuição que dava gratuitamente aos centros espíritas. Hoje em dia, compareço a uma ou outra reunião pública para efeito de engrossar o número dos que recepcionam os oradores de nomeada que se convidam ou os médiuns poderosos que passam pelas nossas plagas. Mas freqüentar as sessões mediúnicas ou as reuniões de estudo, isto deixei definitivamente para trás, embora tenha recomendado a muita gente que vou conhecendo, nos diferentes pontos de encontro forçado por esta ou aquela razão, até mesmo nas filas dos supermercados ou dos guichês dos bancos, que resolvam os seus problemas de caráter espiritual nas casas espíritas.

Também não me animei mais com a possível publicação de algo como este livro de memórias, resultante (aí vai o jargão epistolar mais bronco, mas que aqui cai como uma luva) “de tão mal traçadas linhas”. No começo de minhas anotações, conduzia a pena com o máximo cuidado, tentando dar a cada frase o sentido profundo da meditação que levara a cabo durante muitas noites de insônia ou de completa ausência de necessidade de dormir. Acordava tarde pela manhã e não me importava se deixava algo pendente, conquanto todos os meus prazos, durante toda a minha vida, se tenham cumprido rigorosamente, mesmo quando enlutado pela morte de Augusto, de Márcia e de Rosália.

Outro dia, visitei os escritos antigos e não me vi ali retratado absolutamente. Pareceu-me encontrar uma pessoa completamente estranha, destituída de vida material, como se tudo se resumisse em um encontro de sombras, ainda que os temas se revestissem de máxima importância doutrinária. O que escrevi está escrito, mas hoje não sei se assinaria embaixo. Também não vou incinerar nenhuma folha, deixando para a posteridade o encargo mais que certo de fazê-lo sem ler e sem consideração. Paciência! De qualquer modo, não considero que tenha perdido meu precioso tempo. Ao contrário, foram horas sacratíssimas de desvelo intelectual, numa base de reencontro emotivo com o passado, com poderosos reflexos no presente.

Considerando que me está dando comichões de desenvolver os aspectos teóricos destas considerações fundamentadas na minha objetividade de agora, posso assegurar que o que me trouxe nestes anos todos com a vela acesa da escrituração íntima foi o desejo de apagá-la para sempre, eliminando, com o passado que se desvaneceria, um futuro de problemas no campo etéreo, pelo medo de haver fracassado irremissivelmente perante os compromissos cármicos obrigatórios para todos os que reencarnam e se revestem da sabedoria inerente à doutrina de Kardec.

Osmar é um primor de obra orgânica e mental. Queria-o para filho de minha carne, como desejei tanto a Augusto, cujo nome escolhi dentre os que melhor pudessem expressar a minha vontade de criar um filho de força e poder em todos os aspectos da vida. Não foi possível pela injunção de circunstâncias de que exauri todas as causas que a minha curta capacidade teve a audácia de investigar, como se fora possível conhecer os desígnios de Deus.

Noto que, ao escrever, deixo que me envolvam as idéias de última hora. Começo a falar a respeito do pequerrucho que entrou no rol das coisas boas de nossas vidas e me deparo a examinar o passado, exatamente um minuto depois de haver assegurado que nunca mais o faria.

Para matar a curiosidade dos leitores fantasmas, porque pode ser que algum espírito perdido na erraticidade esteja acompanhando o meu escrito, sem se interessar deveras pelos acontecimentos da vida real, os quais pecam pela lerdeza de sua contextura factícia, mas propenso intelectual ou sentimentalmente para saber quais as soluções que a mente inventa para dar sentido a eles, devo afirmar que, nestes últimos seis meses, desde que redigi o tópico imediatamente anterior, não saímos de férias, nem sequer demos as sortidas noturnas para o auxílio aos irmãos da miséria.

Foi só escrever que o padre que nos havia trazido as suas bênçãos católicas extraordinárias falou aos nossos ouvidos sobre filhos que a natureza não nos daria mais, surgiu a oportunidade da adoção.

Neste século das descobertas e invenções genéticas, em que avós dão à luz netos e em que as mulheres alugam os úteros para filhos que não são seus, não nos havia passado pela imaginação (será?) criar filhos nossos ou de outrem. Mas um produto recém-saído do ventre materno, necessitado de pais de carne e osso, porque a miséria da infeliz progenitora a destinara à desencarnação no parto, sem que houvesse pai que buscasse o rebento fruto de sua insânia erótica, para dizer o menos, sem parentela conhecida nem teste de DNA que valesse perante a justiça dos homens para a responsabilidade social...

Não vou dar seqüência ao parágrafo anterior. Consigno neste que o acaso (algures discuti este tópico) nos designou para a paternidade de empréstimo, sentindo-nos profundamente honrados com tal deferência.

Para encerrar, preciso dar relevo ao fato de que todas as minhas páginas se encheram de duas tendências subjetivas de valor filosófico: o fato da vida e a ocorrência da morte. O mais são períodos intermediários sem cor, sem entusiasmo real pela existência, sem angústia verdadeira pela dor em que mergulhei muitas vezes. Ainda bem que este treino deverá surtir bons efeitos no período em que vagar pelo negrume do Umbral, idéia agora mais do que nunca integrada em minha maneira de ver o desleixo de minhas atitudes perante a vida.

Lendo cada linha, cada frase (o que estou cada vez menos alcançando realizar), observo um certo fundo de melancolia que se traduz em graça deletéria, como se todas as ocorrências de minha vida estivessem ali apenas para o meu exercício filosófico e doutrinário. Não será esta seriedade de hoje um bom motivo para não correr de novo nenhum risco de me engraçar pelas facécias de cunho literário, que julgava de nível superior, mas que simplesmente desandaram em argumentação inócua e pretensiosa, perante tantas páginas do mais profundo amor pelas criaturas e pelo Criador que lemos nas obras espíritas?

Se der certo com Osmar, apesar de termos tão pouco tempo pela frente, acredito que nos aventuraremos a chamar para a família pelo menos mais um ou dois pequerruchos, com que ocupar sabiamente as nossas vidas.

Deus nos abençoe!

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