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Erotico-->25. SURPRESAS QUASE DESAGRADÁVEIS -- 23/12/2003 - 10:09 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Desenvolvi o tema das férias e sabem o que me aconteceu de fato? Caí doente, precisando de internação. A minha saúde sempre foi à prova de qualquer surto epidêmico de que espécie fosse, rompendo orgulhoso por entre todas as gripes. De repente, sem aviso que pudesse caracterizá-la em definitivo, eis que se me instala insidiosa pneumonia que arruinou meu sistema imunológico. Foi por pouco que não “dei com as dez”, arrumando as malas para ir bater um papinho um pouco antecipado com o pessoal do além.

Interessante foi a estadia no leito hospitalar, onde me mantiveram sedado por um curto período, enquanto recebia doses maciças de antibióticos. A bem da verdade, poderia ter sido tratado em casa, caso tivesse uma esposa que se ocupasse de mim. Nesse caso, é quase certo que não cairia tão prostrado. Mas, hipóteses à parte, não desejei dar trabalho a nenhum parente, e fiz valer os meus direitos dentro do plano médico que pago desde há muitos anos e que jamais utilizara.

Convalescente, conferi os valores consignados em minha conta de poupança e percebi que me poderia dar ao luxo de uma ligeira temporada em Campos do Jordão, satisfazendo, principalmente, o desejo de me afastar de todas as atividades, conforme descrito no capítulo anterior.

Cansei-me da monotonia do lugar e, estando bem melhor (curado estava mas isso não justificaria a permanência em férias), lá fui em excursão pelas cidades do Nordeste, resolvendo perder o pacote turístico, para me deixar ficar em hotel de segunda categoria numa praia de Natal.

Nada ocorreu de significativo, a ponto de merecer referido com relevo. Apenas me diverti fisicamente, materialmente, deixando de lado todas as leituras doutrinárias, todas as sessões mediúnicas, todas as reuniões públicas e privadas dos centros espíritas, esquecido de que as atividades do movimento kardecista crescem por todo o país. Meti-me no meio do povo, suei, dancei, bebi e comi à farta, tomei banho de mar, emagreci e tostei-me, jamais preocupado em rejuvenescer-me, dando-me conta do arfar das caminhadas e das petecas amigas dos hóspedes do hotel.

Pareceu-me recuperar a infância, sem os atropelos das obrigações.

Caso único a constar, um belo dia, dei de cara na rua com um sujeito mal-encarado que exigiu os meus pertences, sob o amparo de uma arma de fogo. Resisti ao desejo de lhe fazer um sermão e dei-lhe tudo o que queria, inclusive a carteira com todos os documentos, sem lamúrias e sem tremores.

Senti que se abalou o, como direi, salteador, bandido, facínora, malandro, amigo do alheio?... Seja como for, no dia seguinte, ao ir dar queixa do roubo, recomendaram-me passar por diversas repartições, para ver se os meus documentos teriam sido achados, porque nem sempre os meliantes são tão despojados de sentimentos que sacrificam as vítimas com o acréscimo das preocupações da restauração da papelada oficial. De fato, dois dias depois, recebi no hotel um envelope com todos os meus pertences de caráter oficial e uma nota escrita em mau português, agradecendo-me por haver procedido com muita calma, afirmando que o dinheiro que me fora surrupiado iria servir para alimentar uma família faminta.

Corri à Delegacia para ver se poderia retirar a queixa, mesmo porque a quantia que perdera era apenas a que me recomendava o bom senso carregar naqueles passeios, não muito para vir a me fazer falta, nem pouco para pôr o delinqüente zangado. Lá riram de mim ou da situação, porque aquele bilhete não era mais do que a marca registrada do larápio, indo engrossar o volume da pasta de outros tantos que também foram enviados com a mesma intenção.

Pelo teor diferente do fato, devem os argutos leitores estar concluindo que deverei estar imaginando quais efeitos morais devo extrair dessa viagem, para tornar compatível este capítulo com o nível de reflexão dos demais.

Na verdade, o principal não se deu onde mas quando, ou seja, os lugares por onde passei não contaram, mas o tempo, sim, pois os três meses afastado das tarefas habituais acabaram representando um ônus que jamais teria imaginado, sem essa experiência. É que perdi quase de todo o desejo de continuar as atividades junto aos centros espíritas, crendo preferível dedicar as minhas últimas energias, ou melhor, os recursos que me restam nesta minha “terceira idade”, para começar de novo um lar, sem rompantes de entusiasmo, sem admirações intempestivas, sem perspectivas de realizações por idealismo, pragmaticamente, economicamente, positivamente.

Nada de arrumar uma paixão juvenil (Ana), nada de me dar a extremos de amor (Márcia), nada de me ver o eleito de um intelecto (Rosália), nem precisava de uma empregada (Letícia) que me cuidasse da carcaça e seus petrechos materiais. Mas precisava de uma dona de casa, alguém para cozinhar, lavar, limpar etc., que também desejasse sair em viagens curtas ou longas, dividindo os gastos, que os meus ganhos me prescreviam um arrefecimento nesse ímpeto das retiradas bancárias.

Querem saber se tive saudade de Dona Paula? Lembram-se do nome de minha mãe? Pois tive mesmo, porque meus compromissos filiais eram limitados, em comparação aos que teria de firmar com essa pessoa que entraria em minha vida.

A argúcia dos leitores que estão imaginando que já tenho em mira uma pessoa que me satisfaça os princípios que venho estabelecendo irá frustrar-se desta feita, porque apenas estou utilizando-me racionalmente do direito de registrar outro tipo de meditação neste caderno.


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Nem sei por que coloquei o pontilhado acima, uma vez que estou dando seqüência ao texto sem solução de continuidade. Mas fique ele a dividir o capítulo por assunto.

No hospital, recebi diversas visitas de amigos e parentes. Mas não estava em condições de estabelecer contato, de modo que não pude sentir deveras as reações emocionadas ou não das pessoas. Tive até a intuição de voltar a me internar sem doença, apenas para esse efeito. Pura tolice, ainda mais que por escrito.

Como saí de viagem sem pedir a opinião de ninguém, aliás, o único endereço que deixei foi o de Campos do Jordão, não recebi correspondência nem emiti, que o meu alheamento do passado queria integral.

Ao saberem que tinha voltado há uma semana, sem ter dado notícia, logo vários companheiros me procuraram, cheirando algo de diferente a ser conferido junto ao espírita embalsamado. Falei-lhes de “dar um tempo”, de voltar meu interesse para novos estudos, de escrever algo meu, que precisava “reciclar-me”, que não pensassem em obsessão e que dessem um jeito de cobrir ainda a minha ausência com os palestrantes de plantão.

Satisfeitos não ficaram mas me prometeram que, em havendo algo importante, eles me comunicariam. Não sei não.

Esta derradeira semana me mostrou um aspecto novo que havia ficado debaixo das bases sólidas de meu edifício espírita: o sentido da obrigação, como se dá por efeito da promessa do castigo eternal para quem não freqüenta a missa aos domingos. Fiquei inquieto toda vez que se repetia o horário em que me aprontava para ir ao centro. Era como se estivesse faltando algo.

Ainda não pensei muito a respeito, mas a primeira idéia que fiz sobre a necessidade criada de participar dos trabalhos gerais de uma casa espírita foi a de que esse hábito, uma vez incrustado na personalidade espiritual dos indivíduos, há de representar uma dificuldade após a morte, porque o sujeito estará à procura de satisfazer um desejo inoculado em sua mente, sem ter a possibilidade de atender a ele. Trabalhar pelos irmãos necessitados de coisas ou de noções é o que se deve ter em vista.; integrar-se num grupo de assistência é muito salutar.; querer transformar essas virtudes em costume é o objetivo mais forte que se possa ter em vista na vida.; concentrar todos esses aspectos num mecanismo de vaivém com horário e com normas é que está parecendo-me perigoso.

Por hoje, vou ficando por aqui, prometendo voltar a este caderno sempre que algo significativo se demonstre dentro de minha alma. Com certeza, se trouxer para casa uma quarta esposa, ou companheira, ou concubina, ou amante, ou namorada, sempre alguém que respeitarei com todo o meu poder de resistência afetiva (expressão esta um tanto ou quanto dúbia), não deixarei de escrever as minhas reflexões. Quase dizia que eram para os meus netos lerem, o que quer dizer que estou com saudade dos pequerruchos da família de Rosália.

Tudo isto é muito bom! Agradeço, pois, a Deus o fato de saber regrar com harmonia a minha vida, sob as vistas sérias e os conselhos enérgicos de meus guias espirituais, cuja presença sinto o tempo todo.

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