Importa a hora, a voragem das coisas não escolhidas?
Nada
Lambuzo-me nos desejos que carrego
Para apenas ser escrita e beijos ao longo do dia
Enfezo-me com a ausência das tuas risadas
perdidas em tons cinzentos do vazio da tarde
- horas que se arrastam
Apenas para sofrer e escapar ao gozo
Das umidades, da brisa fresca que nos une
Queres afogar-me nessa tristeza longa
Mas tudo em mim é louca sede e pele exposta
Tudo é o momento presente, veia pulsante
Ai, pobre criança, essa alma turva
Deseja correntes, abismos, melancolias
Ai, que me perturbas o dia
Sai, sai
Sai, agonia...
Sai que lá vem o girassol na tarde
O sol poente avermelhando tudo
Para aquietar-me, vem também a mansa lua
Deito-me para esfriar-me dessa ausência
Quero teus olhos apenas, na fotografia
Ai, que tua voz se despede, todo dia
Vives te afogando em maresias
Tênues sombras, perfeitas sereias
A engolir-te a alegria
Ai, eu me deito para esfriar-me dessa ausência
Nada quero mais do dia
14/05/06
|