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Teses_Monologos-->CAMARADA DEUS [Os últimos dias de Stálin] (3) -- 09/03/2003 - 04:21 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Stálin sofrera um ataque cardíaco pouco antes das 20 horas, no momento em que se dispunha a buscar um copo de água mineral. Já em sua primeira consulta, pela manhã, os médicos do Kremlin reconheceram como desesperador o seu estado. Mas nenhum dos especialistas ousava declará-lo.

Ao meio-dia, essa conclusão foi transmitida ao Politburo, que se reunira para uma sessão extraordinária na dacha. O coletivo que dirigia o Partido, cuja existência sob o domínio de Stálin não passara de uma quimera, recebeu o relato com um silêncio abafado.

Enquanto isso, a filha de Stálin, Svetlana Alliluieva, de 29 anos, foi tirada de sua aula de francês na Academia. Ela procedia do segundo casamento de Stálin, com Nadjeda Alliluieva, que se matara com um tiro em 1932. O filho mais velho, Jakob, como capitão da artilharia, caíra em mãos dos alemães e morrera num campo de prisioneiros, depois de seu pai ter recusado sua troca por um comandante alemão. O filho mais novo, Vassili, lutou primeiro como piloto, depois contra o alcoolismo que, em 1952, abruptamente pôs fim a sua carreira como chefe da Força Aérea da região militar de Moscou.

Mais tarde, a cena que se passou na dacha foi descrita por Svetlana: "Fizeram-se eletrocardiogramas e radiografias. Foi preciso trazer, de não importa qual instituto, um aparelho para respiração artificial e, logo, também os especialistas mais jovens; pois, afora estes, ninguém sabia lidar com o aparelho. O pesado trambolho permanecia ali, sem poder ser usado. Todos se esforçavam por manter silêncio, como se numa catedral".

A mística do déspota, que cercara a vida de Stalin, ainda foi percebida pela filha na câmara mortuária: "Num daqueles momentos – eu não sei se foi real, mas assim ao menos me pareceu -, de repente ele abriu os olhos e deixou que seu olhar percorresse todos os circunstantes. Era um olhar terrível, meio louco, meio irado... esse olhar recaiu em fracção de segundos sobre todos, e aí – foi incompreensível e terrível, até hoje eu ainda não o assimilei -, aí ele subitamente ergueu a mão esquerda e apontou para o alto, atingindo-nos a todos com uma ameaça [...]".

Nem a descrição de Svetlana e nem a afirmação de Kruchev, de que Stálin ainda uma vez voltara a reconhecer o que o rodeava, foram confirmadas pelos apontamentos dos médicos. Desde o primeiro diagnóstico, estes mantiveram um relatório sobre o estado do ditador.

Esses boletins médicos, depois da queda da União Soviética no final de 1991, com o número Ukas 338, foram transferidos do Arquivo Nacional para o Arquivo do Presidente da Federação Russa (APRF), recém-fundado por Boris Ieltsin. Depois disso, passaram a ser pesquisados por especialistas, como o historiador militar Dimitri Volkogonov ("Os sete generais").

Ao anoitecer do dia 2 de março, a presidência do Partido aprovou o tratamento a ser seguido: ventosas, soluções de sulfato de magnésio, compressas frias e chá adoçado. No dia 3 de março, enquanto piorava o estado do paciente, surgiu o filho Vassili, que, embriagado, começou a gritar: "Esses porcos mataram meu pai!" Membros da presidência precisaram acalmá-lo.

No dia 4 de março, a respiração de Stálin começou a sofrer interrupções cada vez mais freqüentes. O pulmão de ferro ainda encontrava seus mestres, que conseguiam colocá-lo em funcionamento. Na noite de 5 de março, o paciente vomitou sangue. Os lábios e as mãos tinham, pela manhã, um tom escuro, azulado.

Só por temer seu vingativo senhor, a direção do Partido não podia por mais tempo ficar vendo o inevitável. Por volta do anoitecer, os herdeiros de Stálin se locomoveram da dacha em direção ao Kremlin.

A presidência do Partido, o governo e a presidência do Soviet Supremo tiveram uma reunião conjunta, que durou 1 hora e 10 minutos. Às 21h50 do dia 5 de março de 1953, os médicos constataram a morte de Stálin. As limousines pretas dispararam de volta para a dacha. Béria, assim se recordava mais tarde Nikita Kruchev, foi o primeiro a beijar o defunto na testa. Foi seguido pela, então, velha guarda, que Stálin havia poupado na matança dos revolucionários ao final dos anos trinta: Vorochilov, Kaganovich, Molotov, Kruchev, Bulganin, Mikojan, Malenkov.

Juntamente com Svetlana, os membros da presidência Nikolai Bulganin e Anastas Mikojan velaram a noite inteira junto ao leito mortuário. A metade das luzes permaneceu apagada no salão que, por duas décadas, ficara sendo o centro de um universo que se tornara cada vez mais estreito: o universo de Stálin.
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