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Teses_Monologos-->"Sonhos de Fausto" (uma sinopse) -- 04/06/2001 - 19:11 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Escrito, originalmente, para integrar, como performance teatral, a instalação "Sonhos de Fausto", do artista plástico Lauro Monteiro, o meu texto assume agora, definitivamente, na voz do ator Francisco de Carlo, a qualidade de um "texto teatral".

Sob a direção de Zé Braz e com a produção de Lauro Monteiro, o monólogo será levado, como espero, para muito além das fronteiras pressupostas pelo projeto que lhe deu origem.

“Sonhos de Fausto” - e o meu texto assume aqui o título da instalação de arte e da performance originais - recria, metalingüisticamente, um meu trajeto de leitura da literatura de e sobre Goethe, trajeto pessoal e intranferível, que chega agora ao possível espectador como um documento, mais um entre os tantos documentos da recepção da obra de um dos maiores poetas da literatura de língua alemã tornada universal.

Em "Sonhos de Fausto", infundindo o sopro da palavra ao argumento que me foi encaminhado em esboço pelo artista plástico, Fausto/Mefisto perfazem um só e mesmo monólogo, percorrendo os seus próprios caminhos como personagens, discorrendo sobre o próprio fato de serem os personagens que são, sobre o ato de sua criação, sobre o seu criador, o poeta, e sobre o Criador, aquele que é a própria luz, buscada por uma e renegada pela outra metade deste personagem ainda e sempre atual.

A marca da atualidade só faz confirmar uma das linhas interpretativas mais recentes e conseqüentes da exegese da obra máxima de Goethe, de que o Fausto representaria o primeiro homem moderno, reunindo em si as contradições, os dilemas, os conflitos que vivemos hoje, nós todos, homens deste final de século e de milênio, deste período que se convencionou chamar de pós-moderno.

A dualidade representada na bipartição do personagem, que de Fausto chega a Mefisto numa só e especialíssima caminhada, espelha, em abismo, se assim o quisermos, toda uma série de dicotomias bastante recorrentes: a luta entre Deus e o Diabo, do bem contra o mal, da luz em seu combate incessante contra as trevas, lutas estas que se espalharam depois em inúmeras criações literárias posteriores, todas elas citadas, incluídas, pilhadas, plagiadas nesse texto que agora chega ao espectador brasileiro.

O meu texto é devedor, assim, de todos os outros leitores de Goethe, criadores ou exegetas, de todos quantos, ao longo desses 250 anos que, precisamente neste ano, se comemoram, se debruçaram sobre essa obra fantástica.

Desnecessário seria eu estar a me alongar aqui, na sempre temerária tentativa de discorrer sobre um texto, já que ele próprio, no caso, concretamente se diz, já que ele próprio se explicita, fala de si mesmo, descreve a sua gênese e consecução, ao mesmo tempo em que, didaticamente, situa o leitor/espectador no imenso espectro da recepção de Goethe e, em especial, do Fausto.

Não se assuste, nem se altere o espectador, ao identificar referências, frases inteiras até, de outras obras suas conhecidas. Pelo meu próprio texto, ele saberá ou não saberá de onde elas provém, e que esse meu procedimento, longe de criminoso, é a viga mestra de toda a construção da literatura em escala universal.

O próprio Goethe, como nos mostra em detalhes o grande poeta e ensaista Haroldo de Campos, cuja obra "Deus e o Diabo no Fausto de Goethe" deliciosamente pilhei e fervorosamente recomendo, também foi acusado de haver surrupiado boa parte de suas idéias, por exemplo, da obra de Shakespeare, ou de Dante, entre tantos outros.

Ler, traduzir, interpretar, dentro de uma concepção literária tão polêmica quanto inegavelmente produtiva, outra coisa não são que o mesmo ato da criação. Cada gesto ou atitude receptivos, de fruição, de degustação, de leitura do objeto artístico, é, também, uma sua recriação.

Uma obra só se completa quando lida, quando recebida, ou mesmo, o bom humor sempre foi um grande parceiro dos gestos que criam e/ou recriam, quando roubada, saqueada, plagiada.

Finalizando, a Haroldo de Campos devemos, eu e o meu texto agora recebido por vocês, entre tantas outras primícias, a delícia de nos sabermos espantosamente larápios e, o que é melhor, parceiros de uma honrosa e interminável lista dos mais contumazes larápios.

"Sonhos de Fausto" pretende seduzir, logo mais, o amável espectador, a se deixar levar pela correnteza das palavras possíveis na nossa língua portuguesa, de história, é bom que se diga, muito mais antiga que a do idioma de Goethe.

Fausto, o mito, possui na verdade a mesma idade do Brasil. Nada mais oportuno do que ver reunidos agora, na reflexão que este texto procura suscitar, contemporâneos tão ilustres: o mito de Fausto, com sua carga inegável de atualidade para as circunstâncias que vivemos, neste momento em que se acha em jogo nada mais nada menos que a nossa inserção política no mundo da globalização;
o idioma alemão, cuja criação, como sabemos, visava à traduçâo da palavra de Deus (Lutero); e o país, cujo descobrimento (ou invenção, como queria Lamartine Babo) nos preparamos para celebrar, um país que, por mais incrível que isso possa parecer aos desavisados, já produziu tantas maravilhas literárias a partir da criação de Goethe, bastando citar o "Grande Sertão: Veredas" de Guimarães Rosa e o ensaio acima citado de Haroldo de Campos, representantes máximos de todo um esforço coletivo de leitura, de tradução, de recriação deste e de todos os outros grandes clássicos, tendo como escopo maior o desenvolvimento das potencialidades do nosso próprio idioma.

Que este espetáculo, modestamente (mas nem tanto, poderia acrescentar algum inconveniente!) possa ser visto também como parte desse impulso criador, como sendo a nossa contribuição nessa tarefa comum de fazer um país, de criar um idioma, de nos acercarmos da luz, da palavra, de Deus, sempre.


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