Uma única vez foi quebrada a determinação de não importuná-lo. No dia 22 de junho de 1941, pouco depois das quatro da madrugada, um guarda-costas bateu à porta. Georgi Schukov, Marechal da União Soviética, estava ao telefone. De roupão, Stálin recebeu a notícia do ataque alemão: "Aviões inimigos estão bombardeando Kiev, Minsk, Sebastopol, Vilnius". Chukov ouviu a respiração pesada de Stalin. "Camarada Stálin", ele perguntou, "entendeu o que eu disse?" Mas o mais alto mandatário da Rússia, que antes havia desdenhado de todos os precisos alertas sobre o ataque de Hitler, permaneceu calado.
Por uma semana inteira, em estado de choque, o "Pai dos Povos" desertou ante a responsabilidade, deu tudo por perdido, não recebia mais ninguém, permanecendo inacessível.
Doze anos tinham se passado desde esse colapso psíquico. Stálin tinha conduzido a Rússia, aparentemente perdida, da defensiva para o status de potência mundial, obrigando os cidadãos soviéticos a sofrimentos inimagináveis e a inacreditáveis desempenhos.
Mas as suas próprias energias, desde que ultrapassara a casa dos setenta, entraram em declínio. A memória o deixara na mão. Aumentara o medo de se ver prisioneiro de suas próprias criaturas, em vítima dos boiardos [NdT.: denominação russa para os representantes da velha aristocracia] que conspiravam às suas costas. Seus cabelos estavam ralos e os dentes estavam pretos. E, quando ainda entrava no Kremlin – assim anotava seu hóspede internacional mais freqüente, o comunista iugoslavo e, mais tarde, herético Milovan Djilas: "era como um anão acanhado que ele se movimentava pelos salões dourados, enquanto os cortesãos apanhavam no ar cada uma de suas palavras".
Na noite que antecedeu o primeiro de março de 1953, o Secretário Geral deixou que os camaradas presentes na dacha mais uma vez percebessem a sua inteira desconfiança. Depois da ceia da meia-noite, em tom de ameaça, ele lamentava: Que eles não teriam conseguido realizar o plano nos principais ramos da indústria; teriam perdido a Iugoslávia de Tito, deixando-a escapar ao campo socialista; não tinham vencido a Guerra da Coréia; e teriam subestimado a conspiração dos médicos contra ele.
Por volta das quatro horas, desagradavelmente comovida, mas submissa e insegura, a comitiva de Stálin deixou a casa de campo.
Como ao meio-dia daquele mesmo dia, Stálin ainda não tivesse aparecido, pela dacha espalhou-se o nervosismo. Mas ninguém ousava contrariar a determinação e invadir, sem ser chamado, a privacidade do dono da casa.
Por volta do anoitecer, as luzes se acenderam no escritório e na sala de jantar, mas ainda não havia notícias de Stálin. Por volta das 23 horas, o guarda-costas e a governanta, Matriona Petrovna, depois de ousar bater à porta, abriram-na. Inconsciente, respiração difícil, o senhor absoluto da Rússia estava caído no chão.
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