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Artigos-->VERNACULUM VULGARIS -- 06/09/2002 - 12:49 (Maurilio Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Todo idioma, enquanto vivo, sofre as suas transformações, praticamente diárias. Enquanto

escrevo este artigo, em algum canto do país, sem que saibamos, alguém criou um novo vocábulo, um neologismo, ou palavra nova, que dependendo de sua repercussão ou criatividade pode vir a se incorporar ao glossário regional ou mesmo nacional, nestes

tempos de globalização. Nos tempos áureos da malandragem do Rio de Janeiro, na década de 30, 40 e 50, os malandros, para poderem se comunicar sem a intromissão da polícia ou mesmo de pessoas indesejadas, criaram um modo próprio de linguajar, ou comunicação: a Gíria. O mesmo aconteceu com a população negra do Mississipi, ou dos guetos nova-iorquinos. Movidos pelos mesmos anseios, a população mais carente ou marginalizada desenvolveu uma forma peculiar e poderosa de comunicação.





Hoje em dia temos verdadeiros dialetos urbanos, em diversas camadas. O dialeto dos surfistas, dos marginais, e até dos mauricinhos e patricinhas.Vamos então fazer um passeio pelo dialeto mais antigo: o dos marginais. Nas noitadas da Lapa, onde sempre rolava um “bafafá”(confusão), o camarada chegava acompanhado de uma Grinfa ( mulher) e se por acaso um otário “mandasse uma letra”( desse uma cantada), aí então o bicho pegava e a Solinge ( marca famosa de navalha) fazia um estrago na palhaça (cara) do Mané. Naquele tempo era difícil encontrar alguém “trepado” ( armado), pois era difícil se conseguir um

“ferro”(revolver). Tudo era resolvido na mão (brigando) mesmo. A capoeira era uma praxe. Se o cara vacilasse, era só chamá-lo na perna ( dar uma pernada) e depois lhe dar uma fritada( tapa) no escutador de samba (ouvido) que, com certeza, ele sairia do ar( desmaiava).





Para ser ter uma idéia da evolução do dialeto, certa ocasião, presenciei o seguinte diálogo: -“ Fulano de tal vai se enforcar hoje”...Vou pintar lá! Vou jogar um paleco, uma bicicleta, um bobo e uma rabiola.Não entendeu? Então aí vai a tradução: Enforcar-se é casar-se. Pintar é ir a algum lugar. Bicicleta é óculos. Bobo é relógio, pois trabalha de graça, e rabiola é gravata. Existe até o economês marginal, com suas unidades monetárias bem estabelecidas. Um galo ( 50 reais) , uma perna ( 100 reais) , um barão ( um cruzeiro, na época). A palavra galera, no seu primórdio, referia-se a uma embarcação, à vela, depois passou a ser aquele espaço elevado nas laterais dos teatros onde se tem uma visão privilegiada dos atos. Atualmente galera significa grupo de pessoas, a massa. A saudação mais comum entre a juventude é: -E aí galera? Por sinal, esse “ E aí” de tanto ser usado, se incorporou, na marra, ao idioma falado, quando na verdade deveria ser: “ E então?” O cadáver de Machado de Assis deve estar se revolvendo de raiva no túmulo. Por falar nisso: - E aí, Machado? Tá feia a coisa, né mano?

Tive um colega, por nome Mendonça, que abusava em usar gírias e figuras de estilos próprias.Mendonção, como gostava de ser tratado, certa vez me confidenciou: -“ Pois é peixe!"... "Tô com uma mina , banquete para quatrocentos talheres."..." Toda maravilhosa com um burrão ( é melhor não traduzir) lindo."..." A gente namora dentro da Decca (tratamento carinhoso, pelo qual Mendonção se referia à sua DKW, carro já extinto) e eu lhe dou aquele banho de mão."..."Depois a gente parte prum “cinco letras que choram”( Motel)"..."Não vou te enganar não: morte trágica."



O idioma, usado nas penitenciárias, tem evoluído muito também. Verdadeiros códigoscifrados que encerram tantos segredos e conluios. É a globalização marginal, de vento em popa.





Maurílio Silva -silmaster@yahoo.com









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