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Cronicas-->O Cartão de Natal -- 01/12/2003 - 19:11 ( Alberto Amoêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aquela sexta-feira de abril ninguém esquece, João estava com a face, entre a alegria e o riso fácil. Todos nós estávamos contentes, afinal, não é todo o dia que o filho mais velho toma juízo. O nosso menino iria prestar um concurso para o vestibular noutro estado.
Lá na rua os poucos colegas, a namorada desejando sucesso, e a mamãe pelos cantos carregava, vez por outra, nos olhos uma lágrima enquanto o meu pai, sempre sério, esboçava no olhar um brilho de felicidade.
Quando chegamos ao aeroporto, João parecia rapaz famoso... suas colegas, seus amigos, papai, mamãe, a namorada, minhas irmãs, eu e até alguns curiosos. Todos em harmonia cantando, ou melhor, fazendo barulho, pra não se ouvir, ou quem sabe, pra aliviar a dor da partida.
Acho que foi há dois meses atrás, que João decidiu-se e chegou com o papai e lhe confessou essa vontade. Papai de imediato concordou, pois o menino só pensava em carro importado, roupas de marca, farras faraónicas e dinheiro fácil.
Pode até parecer que tudo foi tão rápido, mas vivíamos tão preocupados, que acreditamos na virada de mesa.
De forma que João foi-se pra cidade das mangueiras.Pelo menos era o que estava na passagem, pelo menos era o que todos pensavam.
Quando o avião partiu foi um chora, chora. Só o pai procurava consolar dizendo que iria ser bom pro menino, ele iria ficar mais responsável.
Porém, quinze dias de silêncio, ninguém tinha se quer notícias do rapaz. A preocupação tornou-se mortal, a nossa casa entristeceu, acometeu-se de desespero. O pai acionou todos os órgãos competentes, para ir ao encalço de seu filho. E ele mesmo foi à Belém, foi a programas de rádio e televisão. Enquanto os nossos corações ferviam em desespero, preocupações e uma grande agonia.
Nenhuma resposta, nenhuma notícia, nenhuma idéia, nenhum telefonema, nenhum e-mail, nenhuma carta...nenhuma razão.
Dias após dias descobriu-se que ele passou por Canadá.
Dias e dias disseram que ele foi pra China.
Daí em diante notícias chegavam, conversas saiam e nada de encontrar o menino.
Meu pai e minha mãe já não dormiam. Ao pé da janela, de frente pra rua revezavam, espiavam, conversavam, envelheciam, envelheciam, choravam, envelheciam, envelheciam...entristeciam...calavam.
Por causa daquele estado, eu e minhas irmãs, colegas e amigos nos entregamos às passeatas, fomos várias e várias vezes à rua, entregamos panfletos em vários estados, usávamos a camisa com a face do mano, como quem entrega santinhos num velório. Fomos às praças, às ruas, nos ónibus...
O tempo passou...meu pai faleceu, minha mãe sofre sem esperanças numa cama, minhas irmãs andam caladas, a namorada casou com outro, eu estou cursando a universidade, os amigos se preparando para o natal.
A foto de João ainda está na parede, junto com as promessas em fitas amarradas na sala. As notícias silenciaram, os nossos corações, em cada um atrapalha-se com tantas perguntas, tantas incertezas e uma certa angustia.
A cidade cresceu... as portas e janelas já não dormem abertas, o comércio local já exporta, e as únicas riquezas, que nos restam é o estudo e a casa da herança, pois tudo o que tínhamos foi-se pelo ralo, a procura do mano.
Hoje é natal, a árvore está enfeitada no meio da sala e eu cá com os meus botões, debruçada, lendo uma carta de Isaura,uma amiga de infància, que foi morar, no Japão.Me pergunto entre pensamentos e lágrimas de dor, quando ela, sem saber do ocorrido menciona lembranças ao meu irmão.
Por que ele não manda um cartão, dizendo qualquer coisa, pois pelas letras saberiamos que ele ainda está vivo!
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