Erich Loest, para o Welt am Sonntag
Trad.: zé pedro antunes
Por anos a fio, ao preservador do idioma que há em mim se pregaram peças de muito mau gosto, mas era preciso que ele ouvisse e lesse ainda como o alemão foi vilipendiado pela Bundesbahn [rede ferroviária federal] e pela Bahn-AG [sociedade anônima ligada ao setor]. Uma palavra normal permaneceu: Nahverkehr [o tráfego a pequenas distâncias dos grandes centros], de qualquer modo, uma enjeitada que a rede ferrroviária absolutamente preferiria espantar para longe da sua seara. Desde a invenção do trem de ferro, usava-se Wartesaal [sala de espera], agora Launtsch, de difícil pronúncia e grafia, é claro, bastante distinta do vocábulo estrangeiro que lhe deu origem. Inter-City-Night - antigamente Schlafwagen [carro de dormir]. Com isso, se quer atrair agora, para o uso da ferrovia, a aposentada que vive em Grimma ou em Sömmerda [N. do. T.: a ironia fica por conta do sabor dialetal das denominações dessas localidades quase improváveis]. A rede ferroviária pretende sugerir cosmopolitismo, mas o fato é que soa ingênua. Dürr [seco, estéril, depauperado; usado em expressão equivalente a "de poucas palavras"], assim se chama o homem que nos impôs tal coisa. O que não teria piores conseqüências. Apenas que ele assumiu, uma vez concluída a obra lingüística, uma posição absolutamente paradoxal, tornando-se o diretor da Sociedade em Prol da Leitura [entidade fictícia; prossegue o tom de ironia]. Sua missão é fomentar a capacidade e a alegria no ato de soletrar, induzir crianças ao convívio com os livros e manter os jovens entretidos na leitura. O bode velho tem agora permissão para pastar no jardim. Imagino Dürr, o professor da quarta série, ao cruzar o recinto da estação: "E isto, minhas queridas crianças, é um Meeting-Point. É claro, ele não diz Kinder [crianças], mas Kids.
|