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Teses_Monologos-->CAMARADA DEUS [Os últimos dias de Stálin] (1) -- 06/03/2003 - 18:02 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A morte de Stálin, em março de 1953, foi o fim de uma época. Mesmo seus últimos dias foram marcados pelo medo e pela desconfiança.


__________________________________


Por Christian Schmidt-Häuer [Die Zeit online, 10/2003]
Trad.: ZPA [Usina de Letras, 19/02/2003]

[Agradeço ao Carlos Pompe pela leitura atenta e pelas sugestões quanto à grafia dos nomes russos, um problema que ainda não está solucionado por inteiro. Aceitam-se novas sugestões.]

__________________________________



Oito sanguessugas estavam grudadas na nuca do ditador. Ele estava deitado num divã em seu paradeiro preferido, a dacha Blishniaia, em Kunzevo, nas proximidades de Moscou. A cabeça virada, os olhos fechados. De quando em quando, o braço esquerdo e a perna esquerda davam um repuxão. A calça daquele homem de 73 anos estava encharcada de urina.

O Deus terrivelmente punidor da Rússia, que condenara milhões de pessoas a encarar a morte pela fome ou execução, já não tinha como se dar conta de seus últimos dias.

Eles irromperam em março de 1953. Foi o mês da morte de Júlio César, cujo destino o déspota Josif Vissarionovich Dzhugashvili, que se autodenominava Stálin, "o de aço", deve ter perseguido até então. Ainda um pouco antes de atingi-lo o golpe, ele insistia em desmascarar uma suposta "conspiração dos médicos do Kremlin" contra ele.


_____________________



Na manhã do dia 2 de março, todos os corifeus da medicina que ainda não haviam sido aprisionados se postavam ao redor do divã. Tentavam dominar o próprio pânico. Tratava-se da vida de Stalin. Mas também, de suas próprias vidas. No compartimento ao lado, nervoso, em companhia dos outros membros da direção do Partido, esperava o ex-chefe do serviço secreto Béria, o carrasco com as lunetas.

Às 7 horas da manhã, os médicos chegavam a um acordo sobre um primeiro diagnóstico:

"Arteriosclerose generalizada com comprometimento dominante das artérias do cérebro, hemiplegia no lado direito em conseqüência de um derrame arterial na metade esquerda central do cérebro; cardiosclerose arteriosclerótica, nefrosclerose. O estado do paciente é altamente preocupante".

Sem saber o que fazer, os especialistas sugeriam:

"Inteira tranqüilidade, deixar o paciente repousar no divã, sanguessugas atrás das orelhas, compressas frias sobre a testa... tirar a dentadura. Hoje, nenhuma alimentação...".

Há muitos anos, proveniente da Geórgia, o senhor da Rússia trouxera aquele divã para servir de leito em sua residência moscovita. Em contraposição ao inimigo da classe, que, de acordo com os espetaculares processos stalinistas, nunca descansava, o Generalíssimo, por hábito, só se levantava com a manhã já alta.

Quanto mais velho, mais tempo durava o festim noturno. Até passara a beber menos nesse meio tempo, mas os camaradas mais íntimos, ao longo dessas longas e lautas ceias, eram obrigados a espantar-lhe a solidão até o clarear do dia, tornando a rir das sempre mesmas histórias. Tendo se reclinado no divã, nenhum dos serviçais tinha mais permissão para importunar o sono do dono da casa.

[continua]
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