As flores murchas naquele vaso lascado tocaram meu coração.
Eu o quis tocar, mas um olhar me impediu.
A velha na porta me olhava intensamente.
Eu a conhecia?
Não me recordava de tê-la visto, mas os olhos dela me diziam que éramos conhecidas sim e que não devia tocar o vaso.
Aquelas flores azuis sobre a mesa me doíam.
Podia jogá-las e substituir por algumas rosas vermelhas.
Eu havia visto no jardim uma penca delas.
O olhar me dizia que não.
Fiz um gesto em direção a elas e o olhar tornou-se duro.
Então eu me lembrei quem era ela.
Quis caminhar em sua direção, mas as minhas pernas não obedeciam.
O tempo havia colocado uma barreira entre nós duas.
Olhando-a mais eu descobri que a barreira sempre existiu.
Já não sabia se me doía mais as flores murchas ou a lembrança.
Quis me afastar e descobri-me impossibilitada de caminhar em qualquer direção.
Esperei um tempo e ela se foi. Não voltei a olhar as flores.
Procurei o jardim e as rosas vermelhas já não estavam lá.
Eu me sentei num banco sob uma frondosa árvore e chorei.
Pelas flores azuis, pelas rosas e pela velha que recordei...