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Erotico-->16. O “ICEBERG” DERRETE -- 14/12/2003 - 07:14 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não pus todas as cartas sobre a mesa no capítulo anterior. Sabia o que me deixava aflito mas desejei perceber até que ponto arrastaria melodramaticamente a explicação tal qual se configura em meu cérebro e em meu sentimento.

Para os bons entendedores deve ter ficado clara a defecção psíquica, porque, tanto me estendi a respeito das razões de não ter feito bem em recusar o convite para a palestra, que devo ter posto desconfiado mesmo o leitor mais simplório, aquele que espera que todas as informações sejam dadas de maneira convencional, como se uma obra de exame das reações psicológicas, morais e espirituais, fosse o mesmo que um tratado em que todos os tópicos são expostos com precisão científica, dentro dos padrões de classificação inerente à matéria desenvolvida.

Antes de fazer a declaração de fé jurada de que a minha compreensão se dava de forma absolutamente clara quanto ao problema que se escondia sob a linha d’água dos conceitos que expendi, preciso dizer que meditei a respeito e que cheguei à conclusão de que irei reatar as conversações com o amigo do outro centro e aceitar expor algo a respeito de mediunidade, tomando, é claro, as precauções que assinalei.

O que me levou a rejeitar a generosa oferta de prestação de serviço comunitário muitíssimo relevante foi, sem mais nem menos, um preconceito tolo que trouxe desde os tempos da infância, qual seja, o de considerar as pessoas pobres, e aqui incluo principalmente os aspectos relativos à baixa escolaridade e ao fraco desempenho intelectual, como sendo inferiores a mim. Não passa, portanto, de expressão de orgulho, de vaidade e de egoísmo, as três pedras de tropeço mais poderosas para impedir o progresso humano.

Quando era menor, havia um outro fator de desprezo íntimo àquelas criaturas menos apaniguadas pela fortuna material: era o forçado descuido higiênico e o conseqüente desmazelo relativo à roupa do corpo. Via um remendo ou mancha e logo suspeitava de que a pessoa trazia a personalidade eivada de defeitos, inclusive resultantes da prática de atos atentatórios ao bom convívio social.

Ao adentrar a faculdade, impei-me de injustificado orgulho, crente de pertencer a u’a minoria significativa, jamais conferindo a oportunidade de estudar ao conjunto das forças produtivas, que, através de seu trabalho e de sua contribuição ao tesouro, mantinham a instituição, porque era de graça que cursava uma escola pública.

Ao me instalar em emprego em que me defrontava com as idéias alheias, mais se acentuou a ojeriza pelos menos dotados de bens de toda espécie, julgando que, por esforçar-me para sobreviver com certas facilidades, os que não conseguiam fazê-lo eram indignos de consideração.

Fique evidenciado que o mais grosso dessa massa gélida derreteu quando me predispus a freqüentar o “Louvor ao Pai”, onde me acostumei a conversar com muitas pessoas de todo simples e desprovidas daqueles recursos a que fiz referência. Acontece que, naquele ambiente, fui perlustrando, lentamente, todas as funções e respectivas responsabilidades, de sorte que fazer frente a todo tipo de público não era mais do que obrigação, se me quisesse bem aceito pela comunidade.

Então, a antiga postura contrária à universalidade do espírito fraternal renasceu naquele instante bendito (assim o vejo, porque estou tendo oportunidade de operacionalizar uma resposta espírita de bom gabarito), e pude oferecer a mim mesmo, sem contestação, a prova de que muito de verniz havia a esconder os defeitos da madeira.

Agora o aspecto mais sutil.

Essa atitude meio inconsciente, que aflorou de uma vez por todas (graças dou ao Pai e aos meus amados guias por estar escrevendo estas páginas), não deve circunscrever-se aos pobres, aos sujos, aos incultos, mas deve extrapolar as lindes dos círculos das pessoas pertencentes a uma outra realidade, para abranger também os consangüíneos e os afins, o que torna a reflexão muitíssimo mais grave e pejada de problemas, justamente na área mais importante para a ascensão à esfera subseqüente dentro da escala espírita.

Falei de meus pais e, de passagem, de meus irmãos.; citei minhas esposas e dei ênfase toda especial ao meu filho. Se incluísse meus tios, meus primos, meus sobrinhos e quantas pessoas se anexaram ao grupo maior da família, iriam ocupar lugares sem destaque, à sombra que se estendia atrás de mim etc. e tal. Pois bem, o fato de ter afiançado que a saudade vai sendo apagada com a passagem do tempo (se estão lembrados, inicialmente excluí Márcia desse “time”), com certeza será porque sempre fiz valer a minha pessoa sobre a necessidade dos relacionamentos verdadeiramente produtivos do ponto de vista evangélico.

Gostaria de poder afirmar o contrário, ou, ao menos, que, naquela gaveta que mal abri, nada mais se encontra de tão terrível. Sei que não é assim e que outros embates terei de travar com a minha consciência, para o que tenho buscado dedicar-me com afinco ao auxílio individual de quantas pessoas nos procuram no centro.

Mas prometo, isto sim, não desesperar jamais. Quero manter-me lúcido o bastante para firmar os princípios para superação dos problemas com base nos preceitos de Kardec, sob a luz dos ensinamentos do Cristo. Caso contrário, acrescentaria a tanta inferioridade mais aquela de não confiar na infinita misericórdia do Senhor.

Falei muitíssimo de mim mesmo. Agora me desperto para a possibilidade de ser lido. Então, registro uma palavrinha de utilidade para quem esteja neste mesmo barco, ameaçado por um “iceberg” que não leva em conta “Titanic” algum. Se os meus amigos se dispuserem a elaborar um álbum de recordações, mesmo que sem tanta palavra diferente nem tanta figura literária, quem sabe terminem por se encontrarem consigo mesmos, num momento em que seja possível ainda resgatar em vida alguns débitos de passado não muito condigno.

Estou vendo que várias portas se abrem para as minhas considerações, mas não voltarei a escrever antes de ter informações a respeito de como decorrem as atividades no outro centro espírita. Assinalo que o nome dele é “Mensageiros da Espiritualidade Superior”, que julguei um tanto empolado ou inadequado para um bairro tão miserável. Mas, como estou em fase de criticar-me a fundo, talvez não tenha percebido não apenas a intenção apostólica de quem atribuiu tal nome à casa espírita, como também as reações que desperta junto às pessoas que a procuram.

Enquanto isso, vou assando as massas e descascando as batatinhas. Desejei ser fino, referindo-me a tarefas preliminares ao cozimento das pizzas e à fritura das batatas, mas acordei a tempo de perceber que seria bobagem, mais tarde, inquirir das pessoas se haviam compreendido a minha intenção. Vou sovar a massa e a plantar as batatas, sem me conter a uma citação protocolar da conhecida frase machadiana: “Ao vencedor as batatas...”

Terá este sorriso a mesma coloração a que alhures fiz referência?

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