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Erotico-->13. CUIDO DE MIM -- 11/12/2003 - 06:44 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Tenho tido a precaução de não me aventurar muito longe das costas de meu território emocional. É que não pretendo criar fantasmas com que me haver ainda durante esta fase derradeira da vida. Pode parecer excesso de zelo evangélico, mas a verdade é que a felicidade meio alienada que gozo neste oásis tem de ser útil para alguma coisa, no mínimo no que concerne a um equilíbrio mental para conseguir realizar todas as minhas tarefas com prestimosa compreensão do alcance da bondade e da caridade, enquanto for capaz de vigiar as palavras e os correspondentes conceitos, para garantir aos meus semelhantes desempenho muito próximo, ou melhor, cada vez mais de acordo com as diretrizes de Jesus.

Também preciso estar atento ao expor os preceitos da doutrina espírita, mas não só nas palestras em que sou instado sempre a falar a respeito de dois temas principais: mediunidade e reencarnação. Gostaria de ser versado em História do Espiritismo.; para isso, porém, necessitaria compreender melhor o porquê das manifestações dos principais filósofos, segundo as respostas que deveram ter proporcionado à sociedade de sua época. Nesse sentido, também minha cultura deixa a desejar no que se refere ao tempo de Kardec, incapaz que tenho sido de ler na íntegra todos os volumes da “Revista Espírita”, que tenho em minha estante e da qual lanço mão quase sempre através da orientação do índice remissivo, para fundamentar uma ou outra citação.

Quero crer que os dois parágrafos acima restauram a seriedade de alguns capítulos em que dei ênfase a aspectos teóricos da doutrina, seriedade comprometida quando procuro narrar ou descrever os fatos ou as reações psíquicas, respectivamente. Não que me considere melhor quando escrevo dissertações, mas “me sinto melhor”, porque as imprecisões temáticas sempre podem ser objeto de melhoria intelectual, através de estudo detido e meditado, com o correspondente apoio bibliográfico. Como, entretanto, as minhas exposições (as reuniões de estudo nem preciso mencionar) partem de simples anotações, que vou alinhavando segundo percebo maior ou menor interesse da platéia (dom de que não me orgulho, porque sempre me critiquei essa maleabilidade meio maliciosa para direcionar a palestra no sentido do contentamento do auditório), não se refletem, a não ser indiretamente, nos temas que translado para este caderno íntimo.



Dona Letícia comparece sempre às reuniões públicas e privadas, se bem que ultimamente tenha falhado, com certeza pelas atribuições junto ao lar de Ana. Em várias ocasiões, tivemos ensejo de trocar algumas palavras, ela agradecida pelo meu interesse em colocá-la num emprego.; eu a ver se saíam naturais informações a respeito do que via e ouvia na casa da patroa.

Para não me comprometer, jamais lhe instiguei a língua, que desatasse em revelações. Esperava pela oportunidade de informação casual, pois chuchar esses assuntos escabrosos sempre tive a certeza de que redundaria em peso para a consciência.

Mas aconteceu que tive de ouvir uma longa descrição de como se dá o relacionamento entre as três pessoas daquela família. Está claro que selecionarei alguns tópicos relevantes, principalmente aqueles que enfatizam os aspectos positivos. Os negativos guardo para os momentos em que faço as orações, pedindo especial atenção dos guias e benfeitores espirituais para o auxílio oportuno, no sentido de que sejam vencidos os desajustes, para a maior harmonia possível entre aqueles seres.

Letícia contou-me que o marido de Ana é pessoa muito boa e compreensível, abonada, tanto que o salário dela está na faixa mais elevada dentre os que se pagam às empregadas domésticas, sem especial qualificação. Disse-me que Ana a trata muito bem, deixando quase toda a responsabilidade da administração da limpeza e da comida ao seu encargo. Aliás, tem ela duas ajudantes entre as quais divide os serviços.

Perguntei-lhe se essa liberdade era vigiada de perto e Letícia me respondeu que não, que presta contas ao homem, porque Ana não pára muito em casa, saindo muito bem arrumada, contribuindo para as realizações sociais de cunho beneficente, sempre pronta a atender o telefone, sempre solícita a receber algumas senhoras distintas, em reuniões bastante sóbrias, em que as bebidas são apenas alguns refrigerantes e um ou outro aperitivo, segundo ficam para o jantar ou não. Mas essas ocasiões são pouco freqüentes, saindo Ana muito mais do que recebendo.

O que me deixou inicialmente surpreso (para não dizer bestificado) foi a descrição do enteado, menino de doze anos, que sofre de paralisia cerebral e de quem Ana cuida com verdadeiro desvelo, com a ajuda de duas enfermeiras especializadas, essas, sim, fiscalizadas bem de perto, constantemente solicitadas para serviços extraordinários. A bem da verdade, Letícia deixou muito claro que Ana só não está em casa quando vê que a criança está bem e que sua presença não é necessária.

Outro dado importante que me passou Letícia foi quando me revelou que Ana havia cursado, durante todo um ano, as aulas sobre como cuidar do enfermo, tendo feito um longo estágio em hospital com uma ala inteira para aquele tipo de doença, hospital que merece dela um dia por mês de dedicação integral, na qualidade de voluntária. Nesse dia, o garoto vai junto, mais uma das enfermeiras, pois ali ele encontra certo companheirismo e atividades apropriadas para ganhar um pouco que seja em discernimento de sua própria condição.

Não conheço quase nada desse assunto, mas faço questão de assinalar que, sob o ponto de vista espírita, enteado e madrasta estão crescendo rapidamente, de modo a superar possíveis falhas de caráter. Ele, pela injunção cármica de uma encarnação de sofrimento, porque, se estou lembrado das lições de Kardec, a inteligência do rapazinho é bem capaz de discernir a sua inferioridade orgânica, sendo-lhe esta vida provação bastante considerável. Ela, por operar radical mudança em seu caráter de libertária, obrigando-se a vida empenhada no bem, ainda que se enfeite, porque rica, e usufrua, porque bem relacionada.

Agora uma cogitação imprescindível.

Se venho escrevendo tanto a meu respeito, fatores psicológicos de cuja realidade, extensão e profundidade as pessoas de meu mais íntimo relacionamento jamais terão condição sequer de desconfiar, como é que vou atrever-me a penetrar no coração, ou melhor, na psique de minha ex-esposa, para explorar possível série de conjecturas, em plano meramente especulativo?

Abri a gaveta fatídica só um pouquinho, tendo aparecido a ponta de um lenço de seda. Com cuidado, fui puxando-o para fora e nele encontrei a inscrição seguinte:

“Você, Murilo, deve precaver-se em relação ao julgamento das pessoas. Se trabalhar cada vez mais interessado na felicidade alheia, sem bisbilhotar a vida de ninguém, irá perceber em breve que até os seus dramas particulares quedarão esquecidos em páginas amarelecidas, não tanto pelo tempo decorrido, mais pelo desempenho evangelizado.”

Não preciso dizer que deixei escorregar pelas faces algumas lágrimas em agradecimento pela legítima inspiração que só pode ter-me sido oferecida por Augusto, o único da família que se dignou estabelecer correspondência do etéreo comigo.

Neste instante, escrevo com absoluto domínio de minhas emoções, imposição que me fiz, para demonstrar que algo deve sobrar de positivo nestas considerações, porque estou cada vez mais convicto de que poderão ser úteis um dia.



Para encerrar, preciso deixar registrado que não tenho qualquer dom de mediunidade flagrante, dessas que fazem as pessoas escreverem, falarem, ouvirem, verem, pintarem, comporem e algumas outras mais raras, como a da pneumatografia ou escrita direta, sem o concurso físico do médium, a qual (vou inventar) é a que se tem desenvolvido junto aos grupos que lidam com a chamada transcomunicação, ou seja, o apanhado de mensagens da outra esfera através de instrumentos acústicos ou de vídeo.

Acho que calhou muito bem este encerramento com um assunto técnico, a afastar-me o pensamento das preocupações com os meus eflúvios sentimentais fundamentado em vibrações de mau calibre.

E aquelas nuvens negras pejadas de promessas de tempestades e furacões? Tal como Josué ao Sol, conforme se registrou na Bíblia, creio tê-las feito parar um pouco seu avanço catastrófico. Não é essa a impressão de meus amigos leitores?...

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