O modo de produção do livro é lento demais para um mundo que
sofre mutações vertiginosas a cada minuto. Os atrativos do livro
empalidecem diante do turbilhões de possibilidades aberto pelos
meios audiovisuais, enquanto sua estrutura e funcionalidades padecem,
quando comparadas com os recursos informatizados, interativos e
multimidiáticos das escrituras eletrônicas. Como se tudo não bastante,
os custos de produção do livro impresso crescem agora em progressão
geométrica, e não apenas no Brasil, chegando mesmo a ultrapassar
os custos de muitos dos novos meios, mesmo dos mais sofisticados.
Ora , como se sabe, a ampla difusão a preços baixos foi a principal
responsável pelo sucesso da imprensa como forma de circulação de
idéias a partir do Renascimento. Acho que o livro de papel não vai
morrer, mas será um artigo de luxo, vendido em antiquários e lojas,
para uma seleta clientela de resistentes nostálgicos. O livro já não
exerce o poder de que dispôs antigamente, já não é o mestre de
nossos raciocínios e sentimentos em face dos novos meios de
informações e comunicações, de que doravante dispomos. Os textos
de agora em diante, estariam fadados a uma existência eletrônica :
compostos no computador ou numerizados, transmitidos por procedimentos
teleinformáticos, eles alcançam um leitor, que os apreende num
monitor.Com constituição de um importante acervo de textos eletrônicos,
os quais poderão ser transmitidos à distância e ser objeto de um
novo tipo de leitura, possibilitada pelo posto de leitura assistido por
computador. No prefácio à obra de Henry - Jean Martin ( 1992:14)
sobre a história do livro, o historiador Lucien Febvre , vislumbra um
possível desaparecimento desse instrumento, tido como dos mais
fundamentais na construção das civilizações modernas. Para o
ilustre historiador, o livro, " que começou sua carreira na metade do
século XV", parece hoje resumir-se a um acontecimento datado :
Depois de ter contribuído para a revolução do mundo moderno, ele
encontra-se agora constrangido a justificar o seu papel numa sociedade
governada pela velocidade, numa sociedade em que as informações
circulam segundo a temporalidade própria das ondas eletromagnéticas
e das redes de fibras ópticas. Hoje , como o atual modo de produção
cientifica o demonstra, o livro se tornou uma mediação inútil entre
dois diferentes sistemas de gerenciamento de informações.Enquanto
os inteletuais de seu tempo ainda discutiam a legitimidade do uso
da máquina de escrever como substituta da escrita manual, Benjamin
já apontava para o horizonte dos bancos de dados interativos e dos
sistemas informatizados de hipertextos e hipermídias, que tendem
a se impor como as formas escriturais da próxima etapa sucessora
do livro impresso. Os prognósticos de Walter Benjamin ( 1978 )
se confirmam. Um número crescente de revistas especializadas
não são mais editadas em papel, mas encontram-se agora disponíveis
on line para assinantes. A mais nova geração de editores de textos
já não pode mais ser encarada como uma mera ferramenta para
auxiliar a escrita, mas como uma mídia nova, completa em si mesma,
discos laser ( CD-ROM ) Já são atualmente veículos poderosos de
informação, não apenas pelo impressionante volume de textos
que se pode neles armazenar, mas também por seus recursos
inovadores, tais como a possibilidade de localizar rapidamente
qualquer palavra ou conceito, de produzir elos de ligação entre
diferentes partes dos textos, de modo a permitir uma leitura não
linear. O códice foi um formato característico de manuscrito em
que o pergaminho era retalhado em folhas soltas, reunidas por
sua vez em cadernos costurados ou colados em um dos lados e
muito comumente encapados com algum material mais duro. A
partir do século IV, os cristãos elegeram esse formato como padrão
para as escrituras sagradas, de modo a diferenciá-las da literatura
pagã, em geral escrita em rolos de pergaminhos. Até então, códice
( codex ) era o nome que os cristãos utilizavam para designar as
escrituras sagradas. O códice torna-se a designação do próprio
formato. Livro ( liber ) , entretanto, tinha uma conotação mais genérica
e designava qualquer dispositivo de fixação do pensamento, seja
ele de qualquer natureza na época. Com o tempo, isto é, com a
expansão do cristianismo, o livro passa a designar exclusivamente
o códice e ficamos sem um termo mais genérico para nos referir
a qualquer outro dispositivo de fixação do pensamento. A verdade
é que o livro impresso adotou para si o formato do códice e esse
modelo plantou raízes tão fundas em nossa cultura que hoje se
torna dificil pensar o livro como algo diferente.
-José Angelo Cardoso.- Poeta, contista, artista plástico.
Presidente-fundador da Academia Guairense de Letras.
Continuação - Parte 2. Veja - atenção.
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