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Erotico-->12. UMA GAVETA TRANCADA -- 10/12/2003 - 07:18 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Penso que não abrirei uma de minhas gavetas. Se abrir, talvez lá não encontre mais nada. A verdade, porém, é que as minhas manifestações de benquerença não se revelam que tais, todas, sem exceção, transformadas em líquido e certo interesse egoísta, por algo que me pudesse favorecer a prepotência, segundo alguns tópicos de felicidade em diversos campos das atividades.

Eis que os amores, a partir da conceituação que tentei estabelecer em relação aos sentimentos que nutro por meus pais, também se vão deslustrando pelo tempo, única luz forte a brilhar o que dedico a Márcia, eivado de muita admiração e agradecimento.

Quem comigo trata no dia-a-dia profissional ou social não percebe nenhuma dessas íntimas tendências, porque mascaro fortemente as frustrações, não deixando transparecer indício nenhum delas. Claro está que, entre as pessoas de meu convívio, não há nenhuma criatura genial ou superdotada intelectualmente que se dedique à análise dos sintomas dos problemas psicológicos. Pelas leituras que pratiquei e pelos programas culturais de televisão a que assisto, tomei conhecimento de que é impossível deixar de demonstrar exteriormente o que se passa no interior da pessoa, desde gestos quase imperceptíveis de desagrado, por exemplo, até rugas ou pequenos vincos na pele pelo hábito de contração de determinados músculos, em função de reações inconscientes, como ocorre com o sistema autônomo, o qual bem poucas pessoas conseguem dominar.

Se eu fosse materialista, contudo, iria rir do fato de haver quem tenha o cuidado de examinar-me a personalidade, a menos que seja algum atilado vendedor com interesse em me conduzir por sua senda de consumo. Digo isto numa altura da vida em que os olhos femininos podem perscrutar-me por inteiro para aproximações amorosas ou que tais, porque me sinto vacinado contra os males das uniões que só podem redundar em tristeza e melancolia, dado que a separação é sempre aquilo com que se pode contar com certeza.

Dentre os olhares feminis que surpreendo a observar-me, nenhum me despertou para a possibilidade de qualquer coisa além de conversa formal dentro do ambiente de trabalho ou de aplicação evangélica.

Mas eu me considero espiritualista, ou melhor, espiritista, de sorte que devo imergir nos postulados da doutrina a ver se a tal gaveta haverá de permanecer trancada para sempre, fadada aos cupins e ao fogo. Aqui, se “a porca não torcer o rabo” para as minhas pretensões de ocultação desse cadáver sentimental, é porque pratiquei algum sério golpe de prestidigitação silogística nos preceitos que conheço e que ensino, o que é muito pior.

Deixando as figuras de lado, declaro, solenemente, que, se a gaveta se abre para os meus guias e benfeitores espirituais, é porque são “xeretas” e o fazem à revelia de minha predisposição ao resguardo daquilo que possa significar um pejo, perante todas as entidades que gostariam de encontrar em mim um ser um pouquinho mais lúcido e melhor preparado para subir o próximo degrau da escada espírita (eu sei que deveria dizer: conquistar mais um grau na escala espírita).

Deixem-me justificar todo o entrecho anterior através de uma razão que julgo bastante ponderável, qual seja, o fato de estar convencendo-me, à medida que os capítulos estão sendo escritos, que vai doer muito fundo em mim a incineração deste caderno, porque estou pressentindo que possa estar desenvolvendo temas em campo novo para os irmãos espíritas, no mínimo para envolvê-los no mesmo sistema de exame de consciência, em não havendo confessores gratuitos ou psicanalistas mercenários ao alcance da mão ou do bolso.

Indo um pouco além, tangido pela fé raciocinada conforme à pregação de Kardec, mesmo que nem todo álbum de recordações ou diário ou compêndio de memórias caia nas mãos de quem esteja apto a obter de sua leitura algum proveito pessoal, sempre haveremos de lucrar ao escrever, porque tudo haverá de ficar expresso na memória mais profunda, demonstração inequívoca aos responsáveis pela nossa admissão em algum logradouro menos triste no etéreo de que nos interessamos em conhecer um pouco melhor a nós mesmos (um viva a Sócrates!), com o fito iniludível de estabelecer critérios para a supressão das dificuldades, substituindo-as pelas virtudes correspondentes.

O que não sei neste instante é se terei coragem de manter estas análises tão depreciativas, conquanto verdadeiras, caso venha a receber um convite qualquer para a divulgação dos textos. Pela minha vasta experiência, sei muito bem que raríssimas foram as obras dadas a lume que não sofreram alterações contundentes por imposição dos editores. Quem sabe um bom revisor (porque dispenso os serviços desses jovens “copydeskistas” — com perdão do péssimo neologismo profissional) possa, olhando a obra de outro ponto de vista, sugerir-me mudanças enriquecedoras, inclusive no sentido de me despertar para novos problemas ou soluções.


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Pus uma pedra sobre a página anterior, porque a releitura apenas me indicou que fiquei na periferia do assunto e isso não pode resultar em nada útil sequer para mim mesmo.

Então me decidi a procurar a chave do enigma.

Após experimentar várias, encontrei uma que girou na fechadura, destrancando-a, aparentemente. Que se conteria dentro daquela gaveta? Não tive coragem de vasculhar-lhe os guardados. Talvez um dia o faça. Por quê? Se tivesse uma resposta clara ou mais ou menos encaminhada no sentido da verdade, com toda a certeza não sentiria tanto medo perante esse mistério.

Às vezes, imagino que a questão, para ser resolvida, irá exigir o conhecimento de minha linha existencial anterior a esta encarnação. Não obstante, o que está a me iludir é o oásis de felicidade em que tenho espairecido, depois de aplicar aos meus inúmeros sofrimentos morais os lenimentos da doutrina de Kardec. É o que me tem sustentado o constante sorriso junto aos companheiros, sorriso que estou ficando desconfiado de que tem nuanças de um amarelo crônico.

Densas e negras nuvens (sem parodiar Camões) se avizinham, “temerosas e carregadas”, daquele meu barquinho à deriva nos mares encapelados etc.

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