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Erotico-->11. MEU PAI E MINHA MÃE -- 09/12/2003 - 07:57 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

De repente me apertou a saudade dos meus pais. Minha mãe partiu primeiro, bem cedo ainda, dando oportunidade ao velho de contrair novas núpcias, momento em que nos afastamos um do outro, mais por minha causa do que dele.

Vamos nos situar historicamente, para que bem eu possa fazer valer as informações que desejo assinalar.

Estava, aproximadamente com uns trinta ou trinta e dois anos quando minha mãe desencarnou. Vivia ainda sozinho com Augusto, sem Ana e sem Márcia. Minha mãe sempre foi muito amorosa para comigo, mas não aceitou muito bem a vinda de meu filho e pior o recebeu na qualidade de avó. O menino era muito rebelde e os primos muito dóceis. Daí as preferências da velha.

Se me disserem que essa não é a norma, que as avós, em geral, preferem os que dão mais trabalho, tenho de acrescentar a hipótese desairosa de que a origem do meu menino deve ter pesado na balança.

Mas como aqui me posto diante de mim, devo ser completamente verdadeiro, o que me obriga a dizer que o arredio era eu mesmo, que me coloquei na posição de ovelha negra e tudo via com olhos de frustrado, de amesquinhado da sorte, de repelido pela esposa legítima, carregando um peso enorme na cabeça cheia de problemas, como já descrevi acima.

Vim para dizer de minha saudade de mamãe, Dona Paula, mulher forte na juventude, de repente às voltas com um câncer maligno de mama, numa época em que os exames se demoravam a fazer, pelo recato natural das mulheres que julgavam atraiçoar o marido caso desnudassem os seios em consultório médico, até mesmo em se tratando de pessoa do sexo feminino.

Márcia também morreu corroída por essa espécie de enfermidade, mas o câncer dela não teve jeito, porque deu nos ossos e foi rapidíssimo, sem conseguir, porém, torná-la feia, pelo tratamento radiativo e químico e pela extrema magreza que lhe assaltou o organismo.

Mamãe passava os dias deitada, no final, também só pele e ossos, lamentando o sofrimento sem forças de chorar, mas não por outra razão que não fossem as dores fortíssimas que obrigavam a doses maciças de morfina, terminando os dias absolutamente viciada.

Se não fosse pela misericórdia divina, iria suspeitar de que entrou no etéreo completamente alienada, sem nenhum domínio sobre si mesma. Para isto me serve a tese espírita, porque me assegura que as pessoas, no estágio do tratamento em que ela passou para lá, vão ser recebidas pelas mãos hábeis dos terapeutas de hospital especializado, porque não consigo encontrar no procedimento de mamãe outro defeito que não seja o de haver rejeitado um dos netos.

Estranhamente, nem dela nem de papai jamais obtive mensagens mediúnicas.

Meu pai, João Antônio, era um homem estranho. Eu e meus irmãos (sou o caçula) recebemos dele os agrados da primeira infância. Era só estarmos aptos ao primeiro pontapé na bola e ele nos punha de escanteio, com perdão da má figura.

Sempre desconfiei de que mantinha relacionamentos amorosos extraconjugais, conquanto em nenhum momento ouvisse de mamãe a mínima reclamação. Parecia haver um acordo tácito entre ambos, em que a mulher, dona de casa, a chamada “mater familiae”, preservava a fachada de fidelidade do marido, dando-lhe cobertura para todas as aventuras fora de casa.

Como o desenvolvimento social mudou de fisionomia o relacionamento dos casais, hoje em dia valendo tudo em matéria de abertura sexual, o meu parecer adquire sentido verdadeiramente histórico. Se isso redundou em minha mente num processo cultural para acendrar os meus preconceitos, é o que valeria a pena pesquisar. Como não estou fazendo outra coisa, dou de barato que, tendo em vista a minha condição de possível retrato de meu pai, não tive tempo para saber exatamente se agiria como ele em relação a Ana. Quanto a Márcia, não pensei um instante sequer em que a trairia, pondo de lado a confessa atração que jamais neguei pela antiga esposa.


...................................................


Em verdade, em verdade...

Adotada esta forma de confessionário em que ficam registrados os impulsos do momento, como se fossem o resultado de longas meditações e de não tão profundas conclusões, assumem as palavras um papel de significado muito maior do que gostaria de atribuir a elas.

Desejei revelar que senti saudade de meus pais. É uma verdade. No entanto, nesse sentimento de ausência, de carência, de desejo de companhia, revelando-me que a nossa convivência não se resumiu nos afagos dos primeiros tempos, mas também nos atritos da adolescência e nos ímpetos de liberdade de ser adulto, percebi que a minha psique flutua sobre o mar encapelado da vida, como um barquinho levado pelas correntes marinhas, segundo incontrolável postulado sentimental que solicita da vontade submissão e permissividade.

Refleti sobre o que venho expondo neste tópico. Se a caracterização dos pensamentos não está precisa, atribua-se o fato à minha pouca experiência no campo da criatividade literária ou descritiva. Então, vou tentar novamente.

Quando senti saudade dos velhos foi como que a minha condição emocional se transferisse para um tempo em que me era imprescindível obter deles a segurança de uma vida concreta, em que cada coisa ocupava, nesse universo, um lugar definido por eles mesmos. A minha cama, a minha roupa, os meus livros etc. Posto que tudo fosse herdado dos mais velhos, enquanto estava sob meu uso, era meu. Eis como encarava, evidentemente sem dar nomes aos bois, os meus próprios pais. Era o meu pai. Era a minha mãe. Foi dessas pessoas que me lembrei no momento das doces recordações.

Passado o transe psíquico, diante da necessidade de pensar a respeito, deu no que acima escrevi, algo totalmente degenerado em matéria de bem-querer, mais parecendo que era eu um crítico sardônico de duas entidades tão importantes para a minha vida, mas deslocadas para o fundo de uma das gavetas.

Ocorreu-me que o meu sentimento em relação ao primeiro momento de retrocesso emocional se deve ao fato de estar agora carente ou inseguro. Foi essa necessidade que vim tentar curar nestas páginas. A revelação não me pega de surpresa, já que venho encasquetando na cachola que toda esta experiência não se daria se Márcia estivesse hoje comigo.

Por outro lado, também me afigura como deprimente este alheamento em relação aos meus pais, numa confirmação do refrão conhecido de que “longe dos olhos, longe do coração”.


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E a coerência, Murilo?

Escrevi o ditado popular e me paralisei completamente. Não é que Márcia me parece cada vez mais dentro do coração?

Voltei apenas para dizer isso e também para sugerir que cada pessoa (se pudesse, eu o proclamaria ao universo) pense seriamente nos progenitores, justamente aquelas criaturas do Senhor que, por um tempo maior ou menor, estiveram a nos embalar, a nos assegurar que a vida é boa, que Deus é pai de misericórdia, que Jesus é a luz do mundo. Vejam se não estão sendo injustos em relação a eles, porque, acredito, quem se abalançou até este trecho deve ser pessoa em idade capaz de avaliar o que se esconde por detrás de minhas expressões até certo ponto inadequadas, mas muito expressivas no que concerne a não me poupar um vocabulário digno, para formular o melhor possível que sempre é bom estar preparado para o reencontro com os velhos na esfera espiritual, quando se definirão as coordenadas do entrelaçamento das existências.

Se perguntássemos a Jesus, talvez respondesse academicamente que devemos honrar pai e mãe, mantendo em vigor a lei mosaica.; mas, depois, diria também que ele não veio para juntar mas para separar os filhos dos pais etc.

Isto tudo só transparece como sem sentido quando pomos, em forma de raciocínios, as citações deslocadas do seu contexto e mal adequadas para a comprovação da tese.; quando desejamos externar simples clarões que ocorrem a partir de informes conscienciais incompletos.

Neste ponto final, lembro-me da revolta de Augusto contra a mãe pelo abandono de toda a vida.



Para não me esquecer (imaginem se isso seria possível) tive notícias de Ana através de Dona Letícia, a empregada. Há conclusões importantes a serem extraídas dos novos eventos.

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