O candidato José Serra, na busca de votos, tem se mostrado bastante versátil, diria mesmo que multifacetado, pois vem alternando momentos de extrema sisudez com outros em que mata de vergonha o professor de danças Coisinha de Jesus, dos casseta e planeta.
Não mais suportando a fama de demasiadamente sério, fato que, segundo os marqueteiros de sua campanha, estava dificultando a “ingestão” do candidato pelo eleitor, José Serra resolveu mudar de comportamento: se vai a uma escola de samba, ele samba, se vai a um evento em que haja um campo e uma bola, ele joga bola com as crianças, se vai no nordeste, ele dança forró, sempre do jeito o mais desengonçado possível, revelando o enferrujamento de sua estrutura corpórea não afeita a tais malabarismos.
O mais preocupante, todavia, não são as evidentes mudanças no humor de José Serra, mas aquelas que guardam íntima relação com a verdade, ou melhor, com aquilo que no Brasil nos acostumamos a chamar de Ética.
No encontro que teve com produtores de fumo do Rio Grande do Sul, ao ser questionado por conta de sua oposição ao fumo, Serra fez a seguinte afirmação: “Nunca combati os produtores de fumo, e sim o tabagismo.”!
Essa absurda contradição pode ser melhor avaliada se ele, num hipotético encontro com produtores de folhas de coca, afirmasse não estar combatendo a produção mas o consumo da coca!
Alguém pode contra-argumentar que o consumo da coca é ilegal, enquanto que o cigarro pode ser consumido legalmente. Tudo bem, o que se está discutindo aqui não é a legalidade ou não do consumo deste ou daquele produto. O que estou questionando é uma afirmação colossalmente contrária à lógica, posto ser impossível que alguém diga combater o tabagismo ao mesmo tempo em que defende o aumento da produção do tabaco, a menos que conheça outros fins para tanto tabaco. Caso contrário José Serra está dizendo adeus à ética que sempre reivindicou.
Você pode questionar “Onde está a falta de ética?” Eu lhe respondo: na mentira embalada em tão vergonhosa contradição apenas pra ganhar uns votinhos...
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