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Erotico-->6. MÁRCIA -- 04/12/2003 - 06:37 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Mais jovem que eu quinze anos, era apenas u’a mocinha quando nos casamos. Era menor de idade mas não precisei da permissão dos pais por duas razões: primeiro, não nos casamos no civil e muito menos no religioso.; segundo, ela era órfã de pai e mãe, desaparecidos num desastre de barcaça em plagas amazônicas. Ela sempre me descreveu o naufrágio com todos os termos regionais, mas, como estou mantendo este meu nível sociolingüístico de padrão culto (talvez com aspirações de ser lido também em Portugal), faço questão de neutralizar as descrições, ainda porque nenhum adendo significativo acrescentaria à história de nossa vida.

Vão pensar que não me casei porque não oficializara a separação de Ana através do desquite. Pois se enganarão os que assim pensarem. Tranquei o contrato esponsalício com a primeira mulher na forma da lei, tanto que mantive o pagamento da pensão durante muitos anos, até que, por piedade de mim ou por julgar que me estivesse sufocando financeiramente (e estava), ela me dispensou, de papel passado.


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Pequena pausa para refletir sobre como reagirão os leitores, por afirmar que lhes vou trazer informações sobre o segundo matrimônio e prossigo a desfiar lamúrias relativas ao primeiro.

Errarão também os que suspeitarem de que Márcia se colocou na minha vida como “regra-três” (substituto que ocupa lugar no banco de reservas para eventual participação na peleja).

Em verdade, em verdade lhes afirmo (valha-me o estilo bíblico) que Márcia chegou para me fazer esquecer da outra quase inteiramente, não fora a despesa mensal que me obrigava a dedicar alguns minutos de minha atenção a Ana.

Também não nos casamos na Igreja, Márcia e eu, porque os padres me considerariam bígamo e porque a cara consorte já estabelecia como padrão de procedimento moral os preceitos doutrinários espíritas, para cuja filosofia não cabem os aparatos de cunho religioso, as cerimônias de culto externo nem nada que não seja apenas o reflexo da intenção santificada pelas virtudes evangélicas da modéstia, da mansidão, da prudência, da simplicidade e da humildade.

Bem que estou tentado a suspender de novo a pena para refletir a respeito de alguns impulsos que estão a me inspirar quanto a comentários a respeito dessa prescrição do Espiritismo. É que me vêm à memória alguns elogios contidos em obras do segundo escalão bibliográfico espiritista, muitas mediúnicas, que enaltecem os momentos de exposição pública dos nubentes, quando são recepcionados em festa pelas palavras de incentivo e pelos fluxos vigorosos de energia positiva da parte das pessoas e dos espíritos que os querem bem.

Neste caso, eu diria que uma reunião de congraçamento íntimo dos familiares e dos principais amigos, isenta de qualquer caráter religioso, sem véus e grinaldas e sem promessas solenes e aparatosas, sem troca de alianças, mas com alguns brindes, com discursos entre maliciosos e sentimentais, com lágrimas de felicidade e prolfaças oportunas, até que estabeleceria um momento de sincera alegria muito propício para algumas orações em ação de graças, para solicitar a Deus saúde e manutenção do amor e da amizade e para enaltecer o bem da vida e da existência.


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Nova interrupção, mas agora para meditar num modo de justificar a dissertação doutrinária, o que não me será difícil, porque, enquanto relatava o que de mais conveniente deveria existir no enlace matrimonial como informação social aos membros das comunidades familiares dos dois seres, ia simplesmente reproduzindo o casamento tal qual imaginou Márcia, tendo realizado tudo exatamente conforme os passos acima.

Notem que coloquei todo o efeito da reunião festiva como de responsabilidade de minha nova esposa, porque o “degas” aqui (termo de minha gíria antiga, que quer dizer “sujeito pretensamente importante”) não queria aceitar nada daquilo, pela esfrega das anteriores núpcias. Haveria algo como que certa vergonha, certo pudor, certa tonalidade de humilhação pelo fracasso antigo? A desculpa que dei à época de que Augusto não iria aplaudir o evento se derruiu, porque foi dele a manifestação mais emocionante de apoio e de irrestrita solidariedade à minha pessoa, embora, como já anunciei, reprovasse terminantemente a figura adolescente de minha nova esposa.

Sobre essa aproximação das idades entre madrasta e enteado muito pensei, de modo que não cabe aqui nenhuma linha pontilhada. Apenas, não posso adentrar muito profundamente no tema, porque me propus a falar a respeito de Márcia.

Sendo assim, posso dizer que era do tipo “mignon », ou seja, delicado, gracioso, gentil, ao contrário de Ana, que era alta e corpulenta.; de tez bem escura (Ana é loura de olhos azuis), e de sorriso nem sempre aberto mas preponderante (já se sabe que Ana vivia casmurra, de cenho fechado).


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Tenho certeza de que Márcia, de onde se encontra lá no etéreo, me acompanha a descrição de sua personalidade, perdoando-me a incapacidade de me concentrar em sua figura adorada, porque sabe que preciso mesclar a este seu retrato outras emoções menos abrangentes, menos intensas e menos agudas, caso contrário, a só recordação de sua pessoinha (mistura de “pessoa” e de “minha”) irá comover-me a ponto de me sufocar o intento de escrever, diluindo em lágrimas a tinta da caneta.

Passo o informe àqueles que, sabichões inveterados, estavam vendo mais Ana do que Márcia no quadro de minhas reminiscências.

Voltarei algum dia. Prometo.

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