Estou no meio do povo, aguardando. A individualidade se perde no contágio com a multidão impaciente que permanece em silêncio. O dia sem pressa ou objetivo resolve estancar no seu trecho mais quente. Nem sei quantas horas estou aqui na rua. Três, quatro?... Muita gente ainda chega e se aperta, ocupando os últimos espaços vazios. A tarde e a calma aparente também se revestem de silêncio, mesmo sendo impossível acreditar na existência de algum silêncio no meio de tanta gente. Observo em cada rosto, em cada olhar, gesto, a inquietação contida, sufocada. O povo mal consegue esconder o grito que não pode ser dado. De início a harmonia se transforma e o lento murmúrio ou ruído se expande até dominar as pessoas e o espaço.Não há atitudes definidas a se ver ou ouvir, que tenha sentido ou lógica. Há um princípio de som e dúvida em cada olhar expressivo ou agitado. Nem sei porque ou se tudo isso está realmente acontecendo..."
( Lourival Farias Sodré-Invasões a Inocência)