Sempre que ouço falar do Leminski, geralmente em cadernos de cultura ou em pretensos papos-cabeça, vem à minha memória fotos do dito cujo de camiseta e pernas cruzadas vendendo vapores de poesia oriental e contracultura.
Sei lá onde li que o Leminski nem sabia chinês muito bem para meter-se a traduzir Mat-Suo Bashô (é assim que se escreve?). Mas, como é fácil xingar morto, é o tipo de coisa que a gente se mete a esquecer.
Imagino que existam razoáveis vivalmas que apreciam Leminski tendo-o lido. Não faço parte do clube e não sei se me arrependo disso. Imagino, porém, que deva ter sido difícil para ele fazer o que fez enquanto o pessoal levava choque nas delegacias e outros se preparavam para apossar-se do butim nos anos que estamos vivendo. Tem o meu respeito o bigodudo.
Mas sei também o quanto é fácil transformar um sujeito de méritos ou certos deméritos em mito inatacável (por enquanto). Não me refiro necessariamente ao Leminski. Pode ser qualquer um. Ontem mesmo, lendo os diários do Brecht, por vezes sentia-me babar mais do que o conveniente para alguém convicto o suficiente de ter deixado de ser babaca.
Lembro-me do Leminski e recordo-me de imagens da Ana Cristina César, que também mal conheço. Percebo agora certo mérito nela, ao menos levou sua vontade de morte até o fim. A poesia? Não sei mesmo, afinal não li.
Tento imaginar, aqui de São Paulo, como deve ser uma Semana Paulo Leminski. Tento me convencer de que, ao menos por coerência, ela deva ser animada, engraçada ou quem sabe profunda. Tomara. Tento também me convencer de que o próprio Leminski tenha sido alguém disposto a procurar perolazinhas em quem menos se dispusesse a produzi-las. Penso em mim, que afinal escrevo sobre ele mal sabendo quem ele foi (que audácia).
Só espero que se a reunião aí dos Leminskianos parecer mais uma panelinha do que uma feijoada ninguém tenha mais a ousadia de me convidar a participar dela.
Taí, por que não, ao invés de "Semana" Paulo Leminski, Feijoada Paulo Leminski? Hein? Hein?
PS: Alguém aí conhece traduções de obras de Dasgupta, Çankara, Nagarjuna, Çandrakirti e Shantideva?
Texto enviado a José Pedro Antunes por ocasião da V Semana Paulo Leminski, a ser - se aprovado - publicado em suplemento no jornal O Imparcial, de Araraquara.