Usina de Letras
Usina de Letras
291 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62165 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50574)

Humor (20028)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4754)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140790)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->John Lennon, o Retorno -- 27/08/2002 - 15:14 (Yuri V. Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Você, Lennon, estará envolvido numa nova expressão musical no plano terrestre. Porém, para obter plenos benefícios, seu povo deve primeiro conscientizar-se de sua natureza multidimensional."




Extraí o trecho acima do livro "Paz, afinal - As experiências pós-morte de John Lennon", psicografado pelo médium Jason Leen em 1984, o qual li no primeiro mês que passei na Casa do Sol, residência da escritora Hilda Hilst, em 1998. Claro, procuro manter sempre a mente alerta - um provável resquício do alpinismo que pratiquei (e ao qual espero retornar) - o que me permite escalar viagens literárias, por mais escarpadas e abismais que pareçam, sem despencar em suas entranhas. E esse livro, embora não seja um Everest, um Fitz Roy ou um Matterhorn, como o Livro de Urântia, é bastante escorregadio para os amantes da música com um pé no eletrônico. (Eu, por exemplo.) Nele encontramos a suposta narrativa de John Lennon desde o momento de seu assassinato - após o qual pôde, pairando metros acima do próprio corpo, contemplar o desespero de Yoko Ono -, até sua iniciação em determinados mistérios ligados à importância da música para a tremenda mutação que a Terra sofrerá num futuro próximo, passando, é claro, pela recepção que sua mãe lhe dá quando ele chega ao, digamos, "lado de lá".




"Já foi decretado: a humanidade não mais deverá temer a morte!", diz o livro em determinado momento. E isto tem a ver com a nossa "natureza multidimensional", eu suponho. O escritor argentino Jorge Luis Borges - aliás, Deus ajude os argentinos neste momento difícil (falo sério) -, em seu conto "Tlön, Uqbar, Orbis Tertius", afirma que os habitantes do fictício planeta Tlön acreditam que toda pessoa é, na verdade, duas pessoas: uma durante o dia, outra nos sonhos, durante a noite. E ainda: cada uma ignora o que sua contraparte faz, tendo cada qual suas próprias memórias e relações interpessoais. Isto nos parece bastante real quando, durante um sonho, nos tornamos lúcidos e percebemos estar, não só conscientes ali, naquela situação especial, mas também com um outro corpo nos esperando, numa cama remota, pelo nosso despertar. E quando finalmente voltamos pra tal cama, enfim, quando acordamos, uma pulga se mete atrás de nossas orelhas: "ficarei batendo perna por aí, assim, fora do corpo, todas as noites da minha vida? Serei realmente duas pessoas esperando tornar-se uma? Terei mesmo uma natureza multidimensional ? Será meu corpo de sonho o mesmo corpo que usarei após minha morte? E se for... por que continuar temendo a morte?"




"Percorrendo velozmente a face da Terra", afirma ainda o hipotético John Lennon pelas mãos de Jason Leen, "testemunhei eventos futuros. O que a humanidade alcançou durante toda a história não é quase nada comparado ao salto quântico que está prestes a vivenciar. O destino da Terra é ser abraçada pelo sobrenatural." Humm... Sim, claro, a idéia me parece bastante atraente, todos desejamos uma intervenção divina, um Deus ex machina que acabe com essa zona bélica, com todo esse egoísmo e essa maledeta "vontade de poder" dos pérfidos. Mas... por que justamente o John Lennon? Não podia ser o Mozart? o Miles Davis? Bem, o livro afirma que é assim devido à pregação em prol da paz realizada em vida pelo ex-Beatle. Literalmente: "Muitos, que ainda se lembram de você como um porta-voz da paz mundial, irão dar-lhe as boas-vindas como tal novamente. (...) Nossas mensagens de amor e paz são mais facilmente transmitidas através do meio universal que é a música." Humm... Sei, sei. E depois, no mesmo livro, ainda lemos sobre as mudanças na estrutura energética do Sol, da Terra, nas alterações de DNA que sofreremos e mais outras mil e uma coisinhas. Quem gosta do tema irá se divertir com o livrinho. Já eu...




Bem, eu, três anos depois de lê-lo, tive um sonho "mutcho gotoso", que ao final se mostrou ser uma das melhores projeções astrais que já tive. Uma garota - se não me engano a misteriosa "Bete Bon", que vezenquando me leva oniricamente por aí - me conduziu, voando, até uma construção que era um misto de Mesquita e Catedral renascentista: tinha uma abóbada enorme, quatro colunas gigantes no interior da nave, um pé direito altíssimo e era toda decorada com mosaicos lindíssimos, sendo que, sob nossos pés, havia uma enorme mandala colorida cujo centro coincidia com o centro da Catedral. (Realmente não me lembro se havia ícones.) Acontece que as pessoas foram se aglomerando por ali, conversando baixinho, num clima de igreja mesmo, algumas sentando-se no chão em grupos e tal, até que aconteceu: uma coisa que parecia uma estrela brilhante surgiu ali, sobre nossas cabeças, pouco abaixo da cúpula. Fiquei besta. E só então percebi que eu estava fora do corpo: ficou tudo muito mais nítido. A Bete disse: "é o Mensageiro..." e, pasmado diante daquele esplendor, não sei se acompanhei aos demais que, como numa mesquita muçulmana sem a fútil distinção entre os sexos, se prostraram em profundo silêncio diante da aparição que, embora luminosa e brilhante, não ofuscava nossos olhos. As diversas cores das paredes e teto brilhavam como que tingidas por uma pintura fluo que reagia, não a uma luz negra, ultravioleta, mas àquela luz branca azulada. E uma voz, saída da luz, vibrou com força e calma: "Deus seja louvado!" E muitos responderam em voz baixa: "Para sempre seja!!" Ao final de uns dois ou três minutos nessa adoração calada, soou o princípio de uma música alucinante, o que fez com que a tal estrela-mensageiro girasse sobre nossas cabeças, causando mil efeitos visuais. Todos se levantaram e, assim que a estrela se esvaneceu, ergueram os braços gritando de alegria e começaram a dançar. Num nicho localizado onde supostamente deveria haver um altar, um garoto de seus dezessete anos, os cabelos longos, parecia controlar a música feito um DJ. Eu, que há muito tempo não ia a uma dessas raves destroçadas pelas drogas e pelos mesmíssimos egos humanos de sempre, comecei a chorar: aquilo era maravilhoso! Comunhão espiritual com o Criador e entre suas criaturas! Nada a ver com aquela festa de São Paulo, por exemplo, onde tive de socorrer uma ex-namorada de uma parada cardíaca ocasionada pela mistura de álcool e ecstasy. Nada a ver com essas chatices de missas cheias de abaixa-levanta, abaixa-levanta ou desses cultos protestantes cheios de berros e falação do capeta e pedidos de dinheiro. Bom, talvez não caiba aqui essa comparação, afinal, é provável que tudo aquilo não constituísse qualquer tipo de culto, mas apenas o modo de ser das festas daquele lugar. Porque as pessoas dançavam sem olhares perdidos, sem impulsos de se exibir ou de fugir de alguma coisa. Apenas compartilhavam um momento de alegria. E, aí, cheio de felicidade, acordei, o corpo vibrando.




Meus amigos mais antigos me dizem pra não comentar essas coisas em público. Depois vão dizer que sou louco, mentiroso e tal. Mas como assim?, digo eu, eu sei o que é honestidade intelectual: nunca dizer que sabe o que não sabe, nem dizer que não sabe o que sabe. E, aliás, quer saber? foda-se! Nenhum grupo me aceita mesmo: por criticar um pseudo-guru, fui sutilmente expulso de uma lista de projeção astral. Por também não acreditar que a solução dos problemas humanos tenha algo a ver com um modelo econômico estatizante e com uma política hipócrita de "tudo pelo social", fui tachado de direitista ou de "testemunha de geolavo" por meus amigos acadêmicos e esquerdistas. Por falar de maluquices tais como sonhos e projeções astrais, sou ignorado por meus amigos cientificistas, ateus, agnósticos, direitistas ou carolas. Não sou mais empresário, não sou mais acadêmico, não sou jornalista, enfim, não sou nada de útil pra esse mundão que aí está. Só não estou tão sozinho quanto o Enéas porque tenho família, namorada, ex-namoradas, amigos e o Pai Celestial no Coração. E, aliás, os céticos sistemáticos - porque cético metódico sou eu - sempre poderão dizer: "foi apenas um sonho". E eu espero que só fiquem nisso, afinal, esses que ficam por aí dizendo "I have a dream" acabam sempre daquele jeito, furadinhos. Ainda bem que não sou ninguém, ainda bem que não sou senão um daqueles que, talvez (sim, apenas talvez), participou de uma festa religiosa cujo DJ não era outro senão o próprio John Lennon redivivo. Terá ele consciência do que faz durante a noite?



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui