O duo eletropop francês DAFT PUNK fala a SPIEGEL ONLINE sobre campanhas de imagem, canções ruins de Madonna e a atração exercida pelas atividades ligadas à internet.
SPIEGEL ONLINE: Por que adultos como vocês só aparecem em público mascarados?
Thomas Bangalter: É uma parte da nossa filosofia e da nossa compreensão da música pop. O pop não é só música, o pop é visual. Andar mascarado é uma parte importante do nosso universo-daft, onde não há espírito livre, onde não há regras.
SPIEGEL ONLINE: O que é exatamente esse universo-daft?
Bangalter: Nós criamos coisas, nos divertimos, fazemos música e, com a marca daft punk, nós trabalhamos artesanalmente a visualização do mundo. Nós controlamos tudo o que fazemos e o lugar onde o daft punk está postado. Não cometemos os erros que os outros popstars cometem; deixar que as coisas lhes escapem das mãos e permitir que outras pessoas decidam sobre eles. Nós temos tudo em nossas mãos. Isso nos dá uma sensação boa. Mesmo pelo fato de não nos considerarmos popstars.
SPIEGEL ONLINE: Por que só se apresentam mascarados?
Guy-Manuel de Homem-Christo: Ninguém conhece a nossa cara. Isso nos ajuda a preservar um pedaço da nossa normalidade. Eu posso ir à padaria de manhã e pinicar o nariz enquanto espero. Ninguém me reconhece. Isso é legal. Afora isso, as máscaras de robôs são mais interessantes do que os nossos rostos verdadeiros.
SPIEGEL ONLINE: Com isso, é claro, acabam alimentando boatos. Qual foi a coisa mais estúpida que já ouviram?
Bangalter: Que somos mulheres. Os boatos sobre nossas pessoas são o maior barato.
SPIEGEL ONLINE: No novo CD que estão lançando há um papo sobre Daft Club. Que papo é esse?
Bangalter: O Daft Club é um portal exclusivo na internet, à disposição de quem compra os nossos discos. Com o CD, você recebe um programa que pode ser instalado no seu disco rígido. O programa é necessário para se tomar parte no clube. Estamos muito orgulhosos do projeto, porque, pelas vendas de discos, podemos ver quantas pessoas teoricamente podem usar a nossa plataforma na rede. Isso abre caminhos inteiramente novos na esfera do marketing e da promoção, e naturalmente da comunicação. Aí a música fica para um segundo plano.
SPIEGEL ONLINE: Isso soa a falta de apetite criativo. Como stars, como vocês explicam isso aos fãs de vocês?
Bangalter: Primeira coisa: Nós não somos popstars. Odiamos essa armação e esse mundo feito de aparências que é construído ao redor de um popstar. Por isso usamos máscaras. Não somos popstars. Queremos continuar sendo normais. Na música, muita coisa mudou desde o nosso último álbum, lançado em 1997. O house e a electromusic se tornaram mainstream e se espalharam, nesse meio tempo, por toda parte. Até Madonna inclui elementos do house em suas canções. Então o jeito é buscar novos caminhos, para sermos ouvidos. É preciso quebrar as regras, ser inovador.
SPIEGEL ONLINE: Em quase todas as casas, hoje, há um computador. A música eletrônica, composta no computador, pode se tornar tão revolucionária e compatível com a massa como foi o rock roll nos anos sessenta?
de Homem-Christo: A música eletrônica já deixou para trás a sua grande revolução. O que falta às pessoas é a criatividade no trato com o computador. Elas têm medo de se lançar num mundo novo, que elas não entendem e não aceitam. Enquanto a maioria das pessoas continuar olhando para o computador como a um inimigo, não haverá essa compatibilidade com a massa. Mas isso só pode ser bom para nós.
SPIEGEL ONLINE: Você mencionou Madonna. Seria um acaso ela ter procurado um produtor francês, Mirwais, para Music, seu último álbum?
de Homem-Christo: Não é um acaso. A música francesa é o rock n roll do novo milênio. É bom que as pessoas percebam, nos Estados Unidos, que nós fazemos música moderna, e honrem esse fato.
SPIEGEL ONLINE: Teria gostado de trabalhar com Madonna?
Bangalter: Recebemos a oferta de trabalhar para ela num remix. Mas tivemos de recusá-la. Estávamos em meio às gravações de Discovery, isso teria atrapalhado todo o resto.
SPIEGEL ONLINE: Não teria sido um honra para vocês, ter aberto uma exceção para Madonna?
Bangalter: Naturalmente. Mas essa não é uma questão de honra ou grana, mas, sim, de gosto. E a canção que ela nos ofereceu era simplesmente uma merda.
SPIEGEL ONLINE: Que tipo de música vocês ouvem em casa, quando querem relaxar?
Bangalter: Só não ouvimos nada de eletrônico e nada de agressivo. Eu coloco os concertos de Chopin para piano. Aí o bicho pega.