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Cronicas-->Rituais Indígenas Antigos -- 14/10/2003 - 21:01 (((((EU SOU DO SUL))))) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma grande parte dos rituais realizados pelos diversos grupos indígenas do Brasil pode ser classificada como ritos de passagem. Os ritos de passagem são as cerimónias que marcam a mudança de um indivíduo ou de um grupo de uma situação social para outra. Como exemplo, podemos citar aqueles relacionados à mudança das estações, aos ritos de iniciação, aos ritos matrimoniais, aos funerais e outros, como a gestação e o nascimento.


Os pajés - com seu dom de curar os enfermos, prever o futuro, conjurar os espíritos celestes, vibrando apenas o maracá sagrado - presidiam as cerimónias rituais.

Cabe destacar que nesses rituais ligados à gestação e ao nascimento não só a criança, como também seus pais, eram submetidos ao ritual de passagem. O reconhecimento da gravidez da mulher punha o pai e a mãe num estado de cuidados especiais, separando-os, de certo modo, pela maneira de se comportar, dos demais habitantes da aldeia. Ficavam, assim, segregados até que a criança nascesse e os ritos de sua incorporação fossem realizados, momento em que eles eram reintegrados à vida normal, desempenhando um novo papel social: pai e mãe de um novo membro da sociedade.

Umas das modalidades típicas do totenismo do sangue - de onde provinha a preponderància do homem sobre as mulheres - era a couvade, isto é, o resguardo do pai por ocasião do nascimento do filho, pois os índios consideravam a mãe como um simples instrumento de procriação, e somente ao pai cabia a reprodução. Logo que terminava o parto, a mulher ia lavar-se no rio, enquanto o marido se deitava na rede, totalmente coberto e defendido do vento, ficando ali até que o umbigo do filho secasse. Os amigos iam visitá-lo como se ele estivesse enfermo; acreditavam que, com este resguardo, preservariam pai e filho de muitas enfermidades. O recém-nascido era deitado em outra rede, junto ao fogo aceso, fosse verão ou inverno. Sendo menino, colocavam ao seu lado um arco e uma flecha; se fosse menina, uma roca com algodão. Seu destino, desta forma, já estava traçado.

Antropofagia
O canibalismo, ritual milenar dos índios brasileiros, já foi uma cerimónia sangrenta, que misturava bravura, ódio e até respeito pelo inimigo. Hoje, sobrevive em cerimónias misteriosas e ultra-elaboradas em que são comidos os restos dos mortos.

A História desconhece, no passado ou no presente, uma sociedade que consumisse carne humana como alimento. O canibalismo sempre foi simbólico. Ou se devoram os inimigos, como faziam os tupis do litoral brasileiro no século XVI, em impressionantes cerimónias coletivas, ou se pratica antropofagia funerária e religiosa. Aí, a ingestão das cinzas dos mortos homenageia e ajuda a alma daquele que morreu. Esse ritual faz parte, ainda hoje, dos costumes dos yanomamis.

Em 1500, os Europeus se espantaram com a belicosidade dos tupinambás, que habitavam a costa brasileira de São Paulo ao Ceará. Os índios, da família linguística tupi, moravam em aldeias de 2000 habitantes, mantinham relações pacíficas entre si e faziam alianças para atacar outras aldeias.

Segundo Jean de Léry, logo depois que os prisioneiros chegavam à aldeia, não somente eram bem alimentados, mas ainda lhe concediam mulheres (mas não maridos às prisioneiras), não hesitando os vencedores em oferecer a própria filha ou irmã em casamento. Tratavam bem o prisioneiro e satisfaziam-lhe todas as necessidades. Não marcavam antecipadamente o dia do sacrifício; se os reconhecessem como bons caçadores e pescadores e considerassem as mulheres boas para tratar das roças ou apanhar ostras, conservavam-nos durante certo tempo; depois de os engordarem matavam-nos afinal e os devoravam em obediência ao seguinte cerimonial.

Todas as aldeias circunvizinhas eram avisadas do dia da execução e breve começam a chegar de todos os lados. O prisioneiro, apesar de não ignorar que a assembléia se reúne para seu sacrifício, longe de mostrar-se pesaroso, enfeitava-se todo de penas e salta e bebia como um dos mais alegres convivas. Depois de ter cantado e comido durante seis ou sete horas com os outros, era ele agarrado por dois ou três dos personagens mais importantes do bando e sem que opusesse a menor resistência, era amarrado pela cintura com cordas de algodão ou de fibra de árvore. Deixavam-lhe os braços livres e o faziam passear assim pela aldeia durante alguns momentos.

Com audácia e incrível segurança, jactava-se das suas proezas passadas e dizia aos que o mantinham amarrado: "Também eu, valente que sou, já amarrei e matei vossos maiores". Cada vez mais feroz, voltava-se para ambos os lados exclamando: "Comi teu pai, matei e moqueei a teus irmãos; comi tantos homens e mulheres, filhos de vós outros tupinambás, a que capturei na guerra, que nem posso dizer-lhes os nomes; e ficai certos de que para vingar a minha morte os maracajás da nação a que pertenço hão de comer ainda tantos de vós quantos possam agarrar".

Em seguida, as cordas eram fortemente esticadas e ele era imobilizado. Traziam-lhe pedras e cacos de potes. Diziam-lhe: "Vinga-te, antes de morreres". Começava o prisioneiro a atirar projéteis com todas as suas forças contra os que ali se reuniam em torno dele. "Vi um prisioneiro lançar uma pedra com tanta violência na perna de uma mulher que supus havê-la quebrado".

Terminadas as pedras, o guerreiro designado para dar o golpe , e que permanecera longe da festa, saía de sua casa, ricamente enfeitado com lindas plumas, barrete e outros adornos; e armado de um enorme tacape, após se dirigirem algumas palavras de incitação, levantava o tacape com ambas as mãos e desfechava tal pancada na cabeça do prisioneiro, que caía morto.

Embora os selvagens temessem a morte natural, os prisioneiros julgavam-se felizes por morrerem assim, publicamente, no meio de seus inimigos, não revelando nunca o mínimo pesar.

Imediatamente depois de morto o prisioneiro, a mulher colocava-se junto do cadáver e levantava curto pranto, derramava lágrimas fingidas na esperança de comer-lhe um pedaço. Em seguida as outras mulheres, sobretudo as velhas, chegavam com água fervendo, esfregavam e escaldavam o corpo a fim de arrancar-lhe a epiderme. Logo depois o dono da vítima e alguns ajudantes abriam o corpo e os espostejavam.
Esses selvagens pegavam os filhos e lhes esfregavam o corpo com o sangue inimigo a fim de torná-los mais valentes. As mães besuntavam os seios de sangue para os bebês também provarem do inimigo.

Todas as partes do corpo, inclusive as tripas depois de bem lavadas, eram colocadas numa grelha, em torno da qual as velhas se reuniam para recolher a gordura que escorria pelas varas.


Quando a carne estava bem cozida, todos os que assistiam ao fúnebre sacrifício se reuniam em torno das grelhas, contemplando-as com ferozes esgares. Mas não comiam a carne por simples gulodice, seu principal intuito era causar temor aos vivos. Movia-os a vingança, por isso, para satisfazer o seu sentimento de ódio, devoravam tudo do prisioneiro, com exceção dos miolos, em que não tocavam. Os hóspedes retornavam às aldeias levando pedaços assados.

As caveiras conservavam-nas nossos tupinambás em tulhas nas aldeias.

Só o carrasco não comia. Entrava em resguardo, em jejum e, após a reclusão, adotava um novo nome. O acúmulo de nomes era sinal de bravura: indica o número de inimigos abatidos. Grandes guerreiros tinham até cem apelidos. Faziam no peito , nos braços, nas coxas e na barriga das pernas sangrentas incisões. E para que perdurem toda a vida, esfregavam-nas com um pó negro que as tornava indeléveis. O número de incisões indicava o número de vítimas sacrificadas e lhes aumentava a consideração dos companheiros.

E se, após isso, a mulher concedida ao prisioneiro engravidasse, os matadores do pai, alegando que o filho procede da semente inimiga, comiam-no ao nascer.

Extraído da obra de Jean de Léry

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