A primeira vez em que participei de um concerto de piano, toquei a quatro mãos com meu professor. Ele era baixinho, velhinho (para os meus 14 anos) e de uma nobreza de caráter que não conseguia avaliar então. Só mais tarde é que percebi a firmeza interior daquele homenzinho, tão pequenino que parecia um menino, sentado ao meu lado no banco retangular.
Não me lembro o que tocamos, só lembro que toquei mal. Troquei teclas, bati com força onde deveria ter ido piano , e fiz meus dedos flutuarem e escorregarem, quando deveria ir no martello . Foi um fiasco. Ao terminarmos, todos os pais ali presentes bateram palmas, incluindo-se os meus.
O professor meneou a cabeça, sorrindo para o público, agradecendo os aplausos. Virou-se para mim e me disse, num sussurro: "Saia do banco, vá até a ponta do palco e agradeça as palmas."- Obedeci. Levantei-me, puxei a saia com as mãos e parei na ponta do palco, olhando abobada para a abóbada da sala de concertos.
Nesse momento, as palmas, milagrosamente, pararam. Crueldade... Pois os aplausos, claro, eram para ele! -
Aí entrou a parte nobre do professor. Ele se ergueu do banquinho, veio até onde eu estava, colocou a mão direita nos meus ombros e me forçou, junto com ele, a me inclinar para o público. Neste momento, os aplausos redobraram.
Nunca mais esqueci aquela tarde. Foi além de uma lição de piano. |