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Artigos-->Borges, Rodrigues e a tartaruga egípcia -- 22/08/2002 - 11:06 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu não julgo tão nobres e dignos de respeito alguns homens mais do que a tartaruga egípcia de 260 anos. Uma pequena nota no jornal noticia o aniversário da tartaruga. Borges e Nelson Rodrigues, seres medíocres, ganharam centenas de citações. Não creio que qualquer desses homens seja tão bom que mereça tantas louvações.



Eu defendo que todas as vidas humanas são iguais em sua trajetória; e que suas experiências nesse mundo, como o nascimento, o passagem pela vida e o fim dela, não merecem, igualmente, que milhões de pensamentos se fundam em explicações, que o suor escorra do rosto quando elas não chegam, que a dor pela palavras elogiosas perturbe o espírito bajulador.



Quanto a você, leitor, por que se sente tão ímpar? Por que julga sua vida melhor que a do vizinho? Qual a distância entre a alegria que você sente e a que sentiu o primeiro homem a se apaixonar? E a primeira morte causou menos sofrimento do que a que acaba de ocorrer em sua família? Os anos não mostram nada senão que todas as coisas são uma, e qualquer fato é o mesmo em todos os tempos. Eu sou a prova de que não é necessário haver no mundo bilhões de pessoas: nada justifica minha presença neste mundo. Pra que tanta mentira sobre a singularidade dos seres? Por que ludibriar a razão com a falsa exclamação: “cada homem é um universo?”



Que porca filosofia conseguiu iludir-nos com tamanha mentira? Quem foi que nos convenceu a distinguir a qualidade de cada fato na vida de cada homem? Um desses nobres senhores se autodenominou ausente do seu tempo, porque todos os homens de sua era não apresentavam caracterísiticas superiores, como a força de sua vontade contra as premissas cristãs que humilham a natureza humana, impedindo-a de prevalecer sobre as imposições da piedade.



Os homens são seres de que espécie? Pense muito bem antes de responder. Não seja cínico, não seja hipócrita a ponto de louvar as ações humanas. Note o quanto é trágico atribuir ao coração dos homens qualquer atitude isenta de falso voluntarismo, que se alteie sobre o egoísmo, que prevaleça contra a “prioridade” do sujeito. Você perguntará: “não há bondade no mundo?” Eu lhe desafio: mostre-me. Enumere todas as provas de que os homens são bons. Convença-me de que essa ignomínia que se chama Homem merece odes e louros. Não se avolumam os exemplos da maldade humana? Você não se sente parte desse vitupério?



Diga-me, deus em forma humana, ou melhor, homem divino, o que você tem de tão especial a ponto de se julgar dígno de respeito? Você é mera junção de matérias animadas! Há sangue em suas veias, sim; por ele o seu coração pulsa, do seu oxigênio o cérebro se alimenta e envia ordens para o corpo. Sim, homem fabuloso, você consegue compreender que o desconforto pela falta de alimento será eliminado quando encher o estômago; que o mal estar e o cansaço mental pela falta de descanso serão eliminados por doces horas de sono; que um poderoso remédio poderá curar sua úlcera; que até mesmo um câncer pode ser curado. E daí? Qual a importância disso quando se sabe que as células obedecem a um cronograma infalível e seguem envelhecendo até que você morra?



Ou seja, homem mortal e estúpido, aquele animal egípcio de 260 anos abarca em sua existência a vida de várias gerações daqueles de quem você herdou as esperanças e a ilusão de ser mais nobre que o próprio! E por que deveriamos dispensar à criatura humana mais encômios, bajulações tolas, festins de falsas alegrias, lápides esculpidas em mármores com frases elegíacas em profundo lamento pela partida, se sua existência vale menos da metade que a de uma tartaruga?



Louve-se uma vida assim, que perdura no tempo, que teima em ser superior à deterioração iminente da matéria. Deseje-se uma vida assim, sem perspectivas de eternidade e sem o pavor que ela nos impõe. Almejem-se os anos sem dor, sem frio, sem sete solidões, sem a morte no encalço. Viva a tartaruga que não se ilude em sua insignificância, porque a vida que tem terminará sem suscitar lágrimas. Tartarugas não choram nem saudam seus pares!



Por isso não festejo nem Borges, nem ninguém...

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