agora é como se as portas estivessem abertas
e pudesse eu ultrapassá-las e alçar vôo.
o amor tem muitas faces.
a face do poema, com sua brincadeira de palavras,
suas ternuras, suas delicadezas e crueldades
- dores repentinas ou seculares.
a face do secreto, daquilo que não se mostra,
apenas anuncia sua presença etérea,
provocando, instigando, fazendo brotar
o inesperado, o sol oculto nas montanhas de seda.
a face do desejo, do arrepio,
da tentação constante dos sentidos,
que sabe apenas da cavalgada no escuro,
e nos coloca a um passo do abismo.
a face do amado, aquele que buscamos
incessantemente, que nos enche de musica,
melancolia doce, aquele que desperta
todo sentir, todas as dores e sorrisos.
aquele que traz o desejo consistente
de penetrar o âmago, de mergulhar num tempo
que o contenha e apenas a ele.
aquele que é a folha verde, o vale da ametista,
que traz a canção da alma, dos membros,
que refresca o calor e afogueia o frio.
o amor tem muitas faces, todas imersas
no clarão eterno, que também é múltiplo,
inesgotável, misterioso e quente.
14/12/2000
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