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Artigos-->Médico quer clonar seres humanos (uma entrevista) -- 06/02/2001 - 18:38 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ter filhos é um direito do ser humano

SPIEGEL ONLINE entrevista o médico italiano Severino Antinori (04/02/2001)

Trad.: Zé Pedro Antunes (04/02/2001)



Severino Antinori quer, ainda neste ano, começar a clonar um primeiro bebê humano. É o que afirma o médico italiano, especialista em transplantes, em entrevista à revista SPIEGEL ONLINE. Católico, ele não vê problemas morais nessa sua decisão.



SPIEGEL: Professor Antinori, já num futuro bem próximo o senhor pretende clonar seres humanos. Quando o primeiro ser humano artificial estará deitado na sala de parto?

Antinori: A nossa previsão é começar por volta do final deste ano. O nascimento seria no verão de 2002.

SPIEGEL: E onde vai se localizar a sala de parto?

Antinori: Isso eu não posso lhe dizer. Poderíamos fazê-lo, de resto, até mesmo na Itália. A lei o permite. Mas eu me recuso a fazê-lo num país que não me dá incentivo.

SPIEGEL: O senhor já escolheu dez casais que desejam crianças clonadas. Que tipo de pessoas são essas?

Antinori: São pessoas em idade entre os 28 e por volta dos 40 anos de idade. Quando vêm até mim, no consultório, estão já totalmente desesperadas, porque os maridos não possuem esperma apto para a reprodução. No caso desses pacientes, falharam também os procedimentos clássicos da fecundação in vitro.

SPIEGEL: Para eles, o senhor quer agora criar os primeiros bebês clonados do mundo. Do ponto de vista psicológico, o senhor examinou cuidadosamente essas pessoas?

Antinori: Desse ponto de vista, elas são consideradas perfeitamente saudáveis.

SPIEGEL: Por que não as aconselhou a tentar a fecundação do óvulo da mulher com sêmen de doadores voluntários?

Antinori: É claro que as aconselhei a fazê-lo. E que buscassem também outras alternativas possíveis, como a adoção. Ao longo desse aconselhamento, nós, os médicos, deveríamos fazer de tudo antes de apelar para a clonagem.

SPIEGEL: Seria possível explicar-lhes ainda que a natureza, simplesmente, não o permite.

Antinori: É fácil dizer isso. Eu só me disponho a fazê-lo quando não existe mais nenhuma outra possibilidade para que um casal, que está desesperado, possa ser feliz.

SPIEGEL: A esses casais desesperados, o senhor também explicou claramente que absolutamente não estarão concebendo um filho comum, antes, na verdade, copiando um dos parceiros?

Antinori: Eu disse às mulheres: Cuidado, o clone é apenas do seu marido. Ele não traz nenhum herança genética da senhora.

SPIEGEL: Mas qual a razão para que somente o homem seja clonado? Teoricamente, poderia também retirar uma célula do corpo feminino, a partir da qual faria nascer um duplo.

Antinori: Isso os maridos não aceitam.

SPIEGEL: E por que não?

Antinori: Bem, esse é um ponto muito interessante. Questionei mais de 40 casais. Foi divertido em todos os sentidos. Apenas cinco ou seis mulheres tê-lo-iam aceitado, e os homens, em sua maioria, protestaram. Eles dizem: No caso eu já não estou mais presente.

SPIEGEL: No outro caso, é a mulher que não está mais presente. O óvulo terá servido então apenas como receptáculo vazio.

Antinori: Nas relações, o homem é dominante. Nisso existe realmente uma discriminação.

SPIEGEL: No caso dos 10 casais que querem ser clonados pelo senhor é definitivo: só os homens serão clonados?

Antinori: Sempre os homens.

SPIEGEL: E por que as mulheres aceitam isso?

Antinori: Elas têm diante dos olhos a imagem do marido e querem assim.

SPIEGEL: O senhor clonaria também as mulheres, se esse fosse o desejo de ambos os parceiros?

Antinori: Ter descendentes é algo que eu considero um direito absoluto do ser humano. Vale tanto para o homem como para a mulher.

SPIEGEL: E se uma mulher lésbica quer ser clonada, absolutamente sem a presença do homem?

Antinori: Isso eu não faria.

SPIEGEL: Mas, justamente, o seu procedimento de clonagem seria do maior interesse para casais de lésbicas. As mulheres gerariam filhas, sem que um homem tivesse de tomar parte na fecundação.

Antinori: Para o desenvolvimento da criança é absolutamente necessário que ela seja criada pelo pai e pela mãe. Uma criança sem pai eu não produziria. Jamais.

SPIEGEL: Não receia que outros médicos, sem semelhantes escrúpulos, possam usar as técnicas de clonagem que está desenvolvendo?

Antinori: É uma hipótese que ninguém pode excluir. Também há seres humanos que querem usar a bomba atômica. É claro, há que se criar leis para interditar o abuso das técnicas de clonagem. Eu vou abrir uma discussão ampla sobre isso, em escala mundial.

SPIEGEL: Em primeiro lugar, é preciso que tenha tido êxito na criação de um ser humano artificial. Pretende proceder como no caso da ovelha escocesa?

Antinori: A meus olhos, é um pouco antiquado o método usado para a criação da ovelha Dolly. Nós planejamos um caminho intermediário entre esse método e um procedimento inteiramente novo. Também será aplicada a técnica do laser na manipulação do óvulo. Mas precisamos, primeiramente, dispor de óvulos de 200 mulheres para o nosso experimento. Do contrário, não podemos dar início ao programa.

SPIEGEL: Quem mais participa do grupo de pesquisadores?

Antinori: Um parceiro importante é o professor Karl Illmensee, da Universidade Innsbruck (Áustria), que arregimentou grande experiência na clonagem de animais. Para mim, é o melhor do mundo. Além dele, um biólogo italiano chamado Toni Barbaro. Eu gostaria de frisar que estamos trabalhando muito seriamente nesses nossos planos. Estamos trabalhando com toda seriedade e com toda decisão.

SPIEGEL: Que experiências vocês já acumularam nos experimentos com animais?

Antinori: Fizemos centenas de experimentos.

SPIEGEL: Devem ter passado por muitas dificuldades. Embriões clonados morrem, não se adaptam ao útero. A quota de êxito continua sendo catastroficamente ruim.

Antinori: Nós já conseguimos melhorar a nossa técnica. No momento, temos uma quota de de 7 para 100, em parte até mesmo acima disso.

SPIEGEL: Para a mulher, a clonagem será um procedimento muito desagradável. Para a retirada dos óvulos, o médico terá de bombeá-la com enorme quantidade de hormônios, o que traz fortes efeitos colaterais.

Antinori: Com base na minha experiência cotidiana, sou obrigado a discordar do senhor. Enquanto isso, pelo mundo afora, um milhão de mulheres, nas quais se tentou uma fecundação artificial, apresentam o mesmo saldo. Em 20 anos de tratamento hormonal, não surgiu um só problema. O que mais me traz preocupações é o estado físico dos organismos clonados.

SPIEGEL: Os animais clonados costumam apresentar corpos demasiado grandes, desenvolvem câncer. Bovinos clonados sofrem com um sistema imunológico debilitado, morrem de inflamações nos pulmões. O senhor quer expor seres humanos a tal risco?

Antinori: Não, alto lá: nós não conhecemos o risco ainda com a precisão. Mas não é como o senhor está dizendo.

SPIEGEL: Como vai conseguir constatar danos genéticos no embrião clonado, a tempo de excluir o desenvolvimento de uma doença grave no futuro bebê?

Antinori: Três dias depois do procedimento de clonagem, nós faremos uma biópsia. Quem faz isso é Toni Barbaro - ele é especialista nisso -, antes de ser introduzido no útero esse começo de vida embrionária.

SPIEGEL: Mas até o momento, com o uso desse método, apenas uma pequena quantidade de doenças pode ser encontrada nos genes.

Antinori: Determinadas doenças, nós as reconhecemos perfeitamente.

SPIEGEL: Mas outros perigos se acrescentam ainda ao já mencionado.

Antinori: Quando eu comecei com a injeção de um único espermatozóide no óvulo, com a fecundação artificial, as mesmas perguntas me foram dirigidas - sobretudo por religiosos e outros inimigos da ciência.

SPIEGEL: Não falo de argumentos religiosos, mas de objeções levantadas por estudiosos das ciências naturais. Assim, a herança genética de células procedentes de organismos mais velhos pode estar já em processo de mutação. Cloná-las - está comprovado -, representa um risco maior.

Antinori: Temos observamos isso com muito cuidado, e já aprendemos bastante. Um rato de dois anos tem, aproximadamente, a idade de um ser humano de vinte. Já tivemos a oportunidade de examinar gerações de ratos clonados. Nós, por exemplo, só vamos clonar, por uma questão de princípio, pessoas jovens. Teriam de ter, no máximo, 30 anos de idade. E delas nós retiraremos, de preferência, células jovens, justamente porque temos medo dessas mutações genéticas.

SPIEGEL: Na clonagem também estão em jogo muitos problemas éticos. O biólogo Eric Schon, da Universidade de Columbia (Nova Iorque), dizia ter escrupúlos em clonar um bebê, porque, antes disso, 25 aleijões teriam de ser jogados no lixo.

Antinori: Esse é um argumento ridículo. No caso da inseminação artificial, isso acontece todo dia no mundo. Muitos embriões são jogados fora constantemente.

SPIEGEL: Se, depois de três ou quatro meses, o senhor constatar que um clone haveria de nascer deformado...

Antinori: ... então abortaríamos. É o que se faz também com outros embriões.

SPIEGEL: Como católico, o senhor antigamente se referia ao aborto como sendo um genocídio.

Antinori: Aí é bom ter cuidado, trata-se de algo muito diferente. Estou falando de um aborto terapêutico. Certas pessoas, capazes de abortar fetos humanos saudáveis por não quererem um bebê, sabem usar de preconceito com relação à clonagem. Nesta, ninguém é assassinado.

SPIEGEL: Mas, no caso, o senhor assume riscos enormes.

Antinori: Ser cuidadoso é minha tarefa. Como diretor do programa, sei isso muito bem.

SPIEGEL: Cuidadoso a ponto de nem sequer revelar o país onde pretende produzir o primeiro clone. Já sabe, afinal, para onde quer ir?

Antinori: Sei. Já falei inclusive com o presidente desse país.

SPIEGEL: É um país democrático?

Antinori: Perguntas como esse o senhor não pode me fazer. São perigosas.

SPIEGEL: O clone poderia se tornar uma pessoa com enormes problemas psíquicos. Mais tarde, na puberdade, poderia pensar que, do ponto de vista genético, não seria exatamente um indivíduo, não passando de uma cópia.

Antinori: No caso da fecundação in vitro, também se chega a conflitos semelhantes. E eles também foram superados.

SPIEGEL: Mas o conhecimento de ser uma cópia exata de um ser humano é consideravelmente mais difícil de suportar.

Antinori: Certas pessoas sentem o desejo de ser uma cópia do pai.

SPIEGEL: Afirma que ter filhos é um direito do ser humano. Também é um direito do ser humano possuir uma identidade genética inconfundível.

Antinori: Isso já é bastante teórico.

SPIEGEL: Além de católico, tem o consultório bem nas proximidades do Vaticano. Receia entrar em conflito com a sua própria crença?

Antinori: O papa me recebeu em novembro passado. É importante compreender a Bíblia, não tudo o que se fala a respeito. Na vida, a Bíblia representa sempre uma ajuda.

SPIEGEL: Jacques Suaudeau, porta-voz do conselho papal para temas relacionados com a família, o alertou com as seguintes palavras: "Não se deve fazer o mal para criar o bem."

Antinori: Há séculos o Vaticano vem impedindo a medicina. Ele carrega nos ombros um milhão de mortos.

SPIEGEL: O senhor é pai de duas filhas. Ainda pensaria em clonar um filho?

Antinori: Não. Eu me sinto muito feliz com as minhas filhas. Monika, a mais velha, é assustadoramente parecida comigo - quase como se tivesse sido clonada. Ela estudou medicina e também está se especializando agora em Ginecologia.

SPIEGEL: Doutor Antinori, gratos pela entrevista.



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