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Textos_Religiosos-->EXERCÍCIOS ESPÍRITAS -- 03/03/2005 - 04:36 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER













EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS












Grupo dos Principiantes

Professor Olivares





















ÍNDICE



De ânimo novo ......................................
1. Recolhido e tenso ..................................
2. Revoltoso e temerário ..............................
3. Comentário geral ...................................
4. Impropérios ........................................
5. Trabalho ...........................................
6. Diversão ...........................................
7. O lucro ............................................
8. Formosíssima atitude ...............................
9. Em cima da hora ....................................
10. A luz hoje e sempre ................................
11. Profundo e misterioso ..............................
12. Hora da verdade ....................................
13. Aborrecimentos injustos ............................
14. A bênção da água ...................................
15. Pregando no deserto ................................
16. Tolerância relativa ................................
17. Sem baixar a guarda ................................
18. Aparente alienação .................................
19. Estranha caridade ..................................
20. A adesão às explicações ............................
21. As categorias ......................................
22. Da metamorfose .....................................
23. Hesitações e titubeios .............................
24. O apedrejamento da adúltera ........................
25. Experiências de morte ..............................
26. Rapidez de raciocínio ..............................
27. Oportunidades aproveitadas .........................
28. O nome do Senhor ...................................
29. A hora do recreio ..................................
30. O maravilhoso espírita .............................
31. Da luz e das trevas ................................
32. Das artes ..........................................
33. A procissão ........................................




DE ÂNIMO NOVO

Incapacitados para o socorrismo ativo das jornadas longe da colônia, estes espíritos amigos trazem informes diversos a respeito de seus atributos morais e intelectuais, de seus estudos e pesquisas, de suas conquistas e vitórias no âmbito cada vez mais abrangente das virtudes.
Trata-se, é claro, de iniciativas aprovadas pelos mentores e responsáveis pelas transmissões aos encarnados, de sorte que é preciso ressaltar, desde logo, que o objetivo da informação também se deixa eivar pelo da formação, caso contrário não se justificaria tamanho esforço e trabalho.
Examinando, porém, o resultado das obras anteriores desta Escolinha de Evangelização, entusiasmamo-nos bem mais do que deveríamos, haja vista que a pequena repercussão entre os leitores não nos aponta para o sucesso dos textos, muito menos para a veracidade mediúnica que desejamos expressar e configurar.
Pessimistas não somos, contudo, e vamos empreender arrojadamente mais esta missão quase diríamos “educativa”, levando ao mundo material um punhado de mensagens carregadas de amor, de compaixão, sem arrogância e sem megalomania, o que significa dizer que não nos preocupa o estilo grandiloqüente dos escritores de escol, nem as estruturas buriladas dos jornalistas do etéreo.
É compreensível que nos arroguemos o direito de fornecer diretrizes de procedimento moral superior, muito embora não estejamos em nível elevado dentro da escala espírita. Basta-nos ter a consciência de que não pregamos com intuitos desprezíveis e de que não nos move a ambição de obter sucesso de regeneração espiritual de quem quer que seja.
Estamos matriculados nos cursos iniciais, o que não importa em dizer que sejamos tacanhos ou miseráveis. Somos como que os membros de um grupo de estudiosos altamente interessados em progredir a partir destas manifestações em prol dos amigos encarnados. Por isso é que nos denominamos de Grupo dos Principiantes, nome pouco expressivo mas que agradou à turma sob o comando generoso do Professor Olivares.
Se o caro amigo leitor sentiu o nosso empenho em realizar algo de bom, embora sem grandiosidade, folheie os capítulos seguintes com a mesma disposição de refletir a respeito da própria existência.



1. RECOLHIDO E TENSO

Remoído de remorsos, Juvêncio tiritava como se em frio de vinte graus negativos. Quisera atingir a perfeição e exigira dos outros muito mais do que de si mesmo. Eis a história que não gostaria de contar.
Com a cabeça girando, a acusar as vozes que ouvia no íntimo da consciência, chegou da vida atropelado pela lamúria de não haver realizado tudo quanto queria. Reclamava ainda da falta de guias eficazes, prontos a afastar os obsessores, conforme lhe disseram certo dia em que se encontrou com um sujeito que se revelou espírita.
O interessante é que pôs fé nas palavras do outro, apesar de seguidor dos ofícios dominicais, de missal em punho. Achou que havia lógica em se supor que Deus daria outras oportunidades a todos, porque de pronto imaginou todos os criminosos como anjos do mal a rondar os viventes, tentando assaltá-los ou levá-los ao crime.
Por isso, quando deu aquele tiro no coração, estava desejoso de despertar na outra esfera preparado para passar para o lado dos piores, esquecido de que fora a perfeição que o motivara.
Não lhes parece oportuno decifrar este mistério de tantas facetas?
Pois bem, o retrato que estou estabelecendo não se refere a um sujeito em particular, senão que vale para todos os seres humanos de mediana inteligência e pouca escolaridade. Precisa também que o indivíduo, que chamei de Juvêncio, tenha acendrado interesse em conseguir riqueza material de grande porte, sem a correspondente força de vontade de trabalhar com honestidade e denodo.
Talvez esteja focalizando pessoas de origem ocidental, principalmente, mas não me parece que na atualidade os do outro lado do mundo estejam eivados de valores espirituais para menosprezar a boa mesa, o conforto de uma residência acolhedora, as companhias alegres em noitadas de prazer e esquecimento.
Pois eu também fui assim. É por isso que venho com este furioso azedume relativamente às pessoas de meu convívio.

Tal discurso elaborei a pedido do mestre que estava orientando-me a escolha do melhor curso. Agora que o reproduzo, parece-me tão longínquo, como se não tivesse sido eu o autor. Na verdade, posso afiançar que me regozijo com o fato de tê-lo escrito há apenas três anos, o que me evidencia enorme avanço espiritual em muito pouco tempo.
Caberia oferecer, neste ponto, um questionário pertinente ao leitor atrevido em suas considerações de descrença de que alguém pudesse mudar tão fundamentalmente, como se comprova, inclusive, por meio da própria técnica de redação. Ocorre que, nesta altura do curso, o professor pode auxiliar na confecção dos textos e o nosso Olivares preza por demais uma demonstração cabal de melhoria para deixar de participar da elaboração dos rascunhos.
Surtirá efeito este sistema de evidenciar o otimismo que se haure a partir da comprovação da melhoria e do abandono dos vícios? Então, fique a pergunta para ser respondida após profunda meditação a respeito da informação seguinte.
Faz três anos que escrevi o trecho inicial, entretanto, faz trinta e cinco desde que caí de bruços na putrefação moral que me causou o suicídio.



2. REVOLTOSO E TEMERÁRIO

Não vou reproduzir a primeira página como o companheiro Juvêncio. Basta dizer que também retirei de mim a própria vida, sem ilusões quanto a tornar-me o que quer que fosse no etéreo. Achava que nada havia depois da morte e procurava fugir dos sérios problemas em que me vi metido.
Antes, porém, de voltar-me contra mim mesmo, causei muito prejuízo material e moral a muitos semelhantes, sem nenhuma consideração de qualquer espécie. Roubei, matei, estuprei; em suma, fui bandido e malfeitor, não levando em conta sequer os laços familiares.
No começo, perseguido pelos inimigos e acuado pela polícia, punha culpa nos vícios. Mas nunca me passou pela cabeça que poderia agir com clareza intelectual, quando em vias de praticar os atos delituosos.
Assim que despertei do sono da morte, me vi em região de grande sofrimento. Não vou descrever os revezes que tive de enfrentar, com a decisão de rebelar-me contra todas as injunções que me obrigavam a acusar-me culpado por todas as dores e provações. Para não me dizer arrependido, assumi a catadura dos perversos e pretendi avançar contra todos os que encontrasse pelo caminho.
A minha sorte estava selada. Tive de vagar endemoninhado por mais de duzentos anos, tempo que levei para invejar os adversários que iam ganhando novas existências terrenas, enquanto eu errava em busca dos alucinógenos a que me habituara em vida.
Estabeleci que não iria copiar a primeira manifestação mas não posso deixar de anotar uma das frases de há três anos atrás:
“Não calcei direito a manivela e ela disparou, rodando contra a minha cara, arrebentando-me a cabeça.”
Basta isso para demonstrar o quanto de sutileza havia na intenção de camuflar o ato selvagem com que tirei a própria vida.
Quanto às considerações morais pertinentes ao meu caso, envergonho-me agora por torná-lo presente ao leitor, já que mui dificilmente alguém com tanta maldade irá deparar-se com este texto. Pensasse antes, digo de mim para comigo mesmo. Agora estou às voltas com o despreparo para a manifestação das virtudes que vim adquirindo.
Valho-me, por conseguinte, de uma única lição sobre a qual tenho meditado constantemente: quem deseja enfrentar as próprias deficiências deve, antes de mais nada, suspeitar de que as forças acabarão e a terra irá faltar debaixo dos pés.
Ia assinar meu nome, mas vou preferir optar por escrever simplesmente:
Um qualquer.



3. COMENTÁRIO GERAL

Parece-nos que definimos, através das duas primeiras mensagens, com que tipo de problemas vamos deparar-nos, isto é, com os piores do ponto de vista dos relacionamentos humanos e da obediência mais severa das leis de Deus.
A primeira questão que somos forçados a colocar diz respeito ao fato de que todas as criaturas sofreram evolução a partir de primitivas tendências, desde a criação do Universo, o que significa, necessariamente, que passamos por fases de muita ignorância e de premências substanciais quanto a nos defendermos dos inimigos ou a atacá-los.
A grosso modo, sem considerar os aspectos mais nobres do equilíbrio ecológico, é o que se passa no mundo dos animais, onde a luta pela sobrevivência leva a todo tipo de característica das espécies, como a da força física, a do veneno letal, a da simbiose, a do mimetismo e assim por diante.
Atendendo ao princípio geral de que existe a necessidade da preservação pessoal, os instintos exercem seu papel sem que se possa atribuir-lhes qualquer sentido de culpabilidade pelo fato de uns devorarem os outros.
E quanto aos homens?
Os homens criam interesses outros além do mero sistema de conservação individual. Aqui é que incide o maior problema dos que causaram prejuízos aos semelhantes, ou seja, a triste prepotência de quem se julga com mais direitos, por orgulho, por egoísmo, por excesso de amor-próprio etc.
No entanto, existem pessoas que se santificaram, não no sentido de se terem colocado em condição de serem adoradas, por terem sido agraciadas pelo Senhor ou reconhecidas pelos homens. No sentido de ascenderem a círculos evolutivos de maior refinamento moral, intelectual e sentimental, porque desenvolveram qualidades, adquiriram virtudes e praticaram o bem.
Tais indivíduos suplantaram deficiências ou, simplesmente, foram alcançadas pela graça divina?
Vamos perguntar de outra maneira.
Aqueles que estão a cometer as maiores atrocidades no mundo dos encarnados, um dia, chegarão a vencer o mal?
Pensamos que, se não forem jogadas pelo fanatismo religioso dentro dos caldeirões do inferno, a resposta mais razoável é de que merecerão passar por novas provações e experiências, até depurarem o espírito, como se inscreve na teoria espírita.
Dentro dos parâmetros doutrinários, como devemos proceder para obter resultados positivos na elucidação das mentes pervertidas? Será que cabe aos que agem de forma coerente com as normas cristãs esforçarem-se para mostrar o caminho do progresso aos criminosos?
Vamos dizer que aos encarnados se evidencia, através do espírito de justiça, que se devem punir os malfeitores. Tal punição terá a credencial do bem ou apenas significará uma espécie de defesa social?
Aqui nos falece competência para prosseguir, tendo em vista que estamos gerenciando as atividades dos seres humanos, o que não nos cabe absolutamente. Vamos dizer que, por alguém nos atender e se colocar em situação de risco, venha a sofrer a desdita de perecer nas mãos de algum bandido. Qual a responsabilidade que nos será atribuída? Não é assim que muitos tentam safar-se das acusações, asseverando que agiram mal por estarem a ouvir certas vozes que os alucinaram?
Por tal razão, vamos limitar-nos a oferecer explicações relativas às consciências dos que se regeneraram e firmar os princípios do socorrismo que exercemos a partir da erraticidade.



4. IMPROPÉRIOS

Algo que nos impressiona sobremodo é a ofensa dita com ânimo alterado, verdadeiro jorro de ódio verbal. Qual o verdadeiro efeito que tais vibrações são capazes de causar em nosso perispírito, já que, sabemos, o nosso espírito só será atingido se revidarmos e o nosso corpo só poderá sofrer com a descarga de adrenalina, desde que nos conturbemos?
Vamos dizer que estejamos em crise de sensibilidade, desejosos de obter justamente a amizade, o amor ou, ao menos, a simpatia daquela determinada pessoa. Aí recebemos a zanga como verdadeiro banho de água fria, acabando por suspeitar de que nós mesmos e não a referida criatura é que estamos errados.
Considerando tal situação, qualquer coisa que estremecer a nossa boa vontade irá quedar registrada indelevelmente em nosso perispírito, em sua memória ativa e passiva, ou seja, quando deixarmos o ambiente terrestre e recuperarmos o domínio das funções do corpo espiritual, logo iremos deparar-nos com a lembrança que nos frustrou o intento de aproximação.
Isso poderá ser bom ou ser péssimo.
Será bom, se soubermos proceder em harmonia com as virtudes básicas do cristianismo, cheios de fé, de esperança e de caridade, porque iremos desejar reaproximarmo-nos da pessoa, para cativá-la de um ponto de vista meramente espiritual.
Haverá de ser péssimo, se atribuirmos o sentido da maldade e do desprezo ao ato, pois não iremos compreender as causas que levaram a ele, emitindo vibrações em ondas de energia que atingirão o indivíduo, sem lhe dar oportunidade de se defender, mobilizando, conforme o caso, as forças espirituais que o protegem.
Este foi apenas um exemplo simples e inteligível de como alguém pode provocar reações desagradáveis, quando as personagens do drama não se contam entre os bons cristãos. A partir daqui, ampliando o quadro de acordo com o alcance das ofensas, é possível depreender o quanto de sofrimento se pode provocar, com a impregnação no perispírito de sentimentos cada vez mais profundos de desamor e de desejo de vingança.



5. TRABALHO

Como advertimos que nada nos vem de graça mas das obras que realizamos, é preciso enfatizar que ao trabalho se devem todos os avanços expressivos da moralidade.
Em primeiro lugar, devemos entender por moralidade um conjunto de virtudes adquiridas através da compreensão dos valores espirituais. Não basta, contudo, meditar e chegar a resultados teóricos insofismáveis. Antes de mais nada, cabe-nos triunfar sobre o mal, substituindo os vícios por qualidades. Isso só iremos conseguir se trabalharmos com afinco, tendo por objetivo galgar mais um posto dentro da escala espírita.
E o que vem a ser o trabalho, nestes termos?
Trabalhar para melhorar é o mesmo que lutar contra todos os percalços que antepusemos ou que nos oferecem as facilidades do bom passadio, aquele sem responsabilidade que não mede a extensão das conseqüências dos atos. Quer dizer, em outras palavras, precisamos adquirir a consciência das razões, dos porquês. Precisamos levar a sério o avanço que se pretende honesto, enchendo-nos de brios para realizar os sacrifícios inerentes às mudanças de hábitos.
No etéreo, a simples tomada de posição pela melhoria já envolve uma série de decisões intelectuais e sentimentais de grande porte, uma vez que representa a assunção dos bens considerados próprios da angelitude. Para tanto, todos os preconceitos terrenos devem ser alijados do espírito, como o reconhecimento de todas as atitudes que consideramos virtuosas.
Sem irmos muito longe, a só determinação de esquecer todo favor prestado e a vontade de auxiliar ao máximo da capacidade na melhoria de todos os seres que são passíveis de serem alcançados por nossas vibrações de afeto, de amizade, de simpatia ou de amor, já significam um passo muitíssimo importante para começarmos a caminhada rumo à perfeição.



6. DIVERSÃO

O sentido dos divertimentos ou distrações no etéreo é bem outro do praticado na Terra. Se os encarnados buscam descansar do trabalho, diversificando as atividades, indo atrás de outros meios de ocupar o cérebro, ainda que através da sofisticação dos desejos, como a alimentação, a bebida, a música, o movimento, o toque etc., aqui o aparato sensório está sensivelmente modificado.
Para entendermos perfeitamente a complexidade dos mundos que compõem a erraticidade ao derredor do planeta, precisamos dizer que existem muitos espíritos que não suspeitam sequer de que estão desencarnados, o que gera necessidades psicológicas de todo semelhantes às terrenas. Para esses a reflexão a respeito dos avanços espirituais nada significa.
Outros, um pouco mais adiantados e perfeitamente cônscios de sua condição de espíritos libertos, ousam, muitas vezes, imitar os círculos de trabalho e de descanso, aproximando-se do ambiente do orbe. Sendo assim, ainda se satisfazem (cada vez menos) com os divertimentos que conseguem imitar.
No lugar onde estamos, já compreendemos que todo prazer deve ser haurido diretamente da realização cada vez mais perfeita dos trabalhos e dos estudos. Sendo assim, vamos obtendo domínio sobre nós mesmos, a ponto de acatarmos as recomendações dos mestres, no duplo ponto de vista das obrigações e das recompensas.
Quer dizer que, quando não atingirmos a meta que nos é proposta, ficamos decepcionados e amuados?
Quanto mais adiantados, menos somos atingidos pelos arrufos advindos das conseqüências menos proveitosas dos esforços. Sempre acabamos por entender os motivos da frustração, fulcro a ser considerado como próximo objetivo a ser vencido. E toda vez que nos damos por senhores desse ou daquele tema enchemo-nos de alegria e entusiasmo para prosseguir adquirindo cada vez mais sabedoria.
Quanto a existirem acepipes deliciosos, o néctar e a ambrosia dos deuses, as melodias e cantatas dos seres angelicais, as sinfonias de transcendência filosófica ou religiosa, os vídeos artísticos de representação da realidade dos mundos de bem-aventurança, os tecidos cuja textura adentra pela cútis e extasia o cérebro, fragrâncias de inebriante felicidade, tudo isto se põe perante a capacidade de absorção dos prazeres sublimados de cada qual, sem que estes jamais se constituam em deleites sensórios, como os da Terra, porque assimilados diretamente pelo organismo perispiritual muito mais sutil e perfeito.
Considerando que, ao passarmos para mundos mais adiantados, adquirimos novos perispíritos, sempre mais depurados, podemos suspeitar de que os eventos que nos irão dar prazer serão mais espiritualizados, mais conformes com a inteligência e o sentimento dos seres evoluídos.



7. O LUCRO

Tanto estamos falando em evolução que podem os amigos confundir o sentido do texto, imaginando que a maior preocupação dos espíritos passa a ser a própria capacitação para adentrar no reino do Senhor.
É preciso, então, deixar claro que as alegrias mais puras que empolgam os nossos corações ocorrem ao sabermos que alguém do círculo foi recebido em campo energético superior. Mais comovidos ainda nos sentimos quando aquela criatura recebeu, em algum momento da existência, cuidados nossos, na qualidade, por exemplo, de parente ou de discípulo. É aí que firmamos o conceito de que tivemos participação ativa na glorificação.
Sempre haverá quem suspeite de que estejamos em débito para com a verdade, não acreditando que alguém de nosso relacionamento possa evoluir, sem arrastar consigo todos os amigos. Para esses, devemos dizer que, a todo momento, vamos avançando na senda do bem, pelo amor de Jesus. O fato de falarmos em círculo ou esfera de maior felicidade é mero arremedo da expressão atribuída a Jesus de que na casa do Pai existem muitas moradas.
Só o fato de regozijar-nos com a conquista alheia já nos eleva um pouco mais, principalmente no sentido da eliminação do sentimento de inveja ou de ciúme. Fortalece-nos tal sensação de bem-estar a confiança de que Deus está agindo e que propiciará também a nós o gozo daquela mesma felicidade.
Quando nos lembramos de que existem criminosos atuando contra os semelhantes, neste exato momento, causando dor e sofrimento, angustiando e disseminando o medo entre os mortais, ficamos como que paralisados, quedando as considerações sobre aperfeiçoamento das virtudes fora do eixo das reflexões humanitárias.
Entretanto, não há como deixar de observar que todos os que são fiéis aos preceitos superiores da fé, da esperança e da caridade, recebem as bênçãos de Deus, ainda que encarnados. Caso consigam manter-se nesse estado de graça, o que é extremamente difícil perante a debilidade do sistema de proteção material que lhes envolve o perispírito, vão enfrentar todas as vicissitudes e todas as ameaças com dignidade, propondo-se como modelos aos que titubeiam.
Se nos fosse possível influir sobre a mente dos que praticam os atos repreensíveis a que aludimos, não precisaríamos vir pregar aos que amavelmente vêm percorrer estas páginas, criaturas que, com certeza, suplantaram a maior parte das viciações grosseiras e se encaminham para a recepção dos bons e dos puros, ao aportarem nestas paragens etéreas. Ora, aqueles que desandam vão ter como espelho de sua infelicidade as descrições que colocamos ao abrirmos estas crônicas.
Eis que o significado de lucro se completa, uma vez que a cada um é dado segundo sua obra, não pela benemerência dos irmãos que administram as colônias, mas por força das condições geradas pelas próprias pessoas.
Entre os que estão ascendendo e os que estão condenando-se às trevas da ignorância pela barbárie dos crimes, existem as vítimas mais ou menos inocentes, a quem cabe raciocinar sobre os acontecimentos trágicos em que se vêem envolvidas, extraindo deles as lições que sempre representam, a maior delas a de que Deus é pai de infinita misericórdia.



8. FORMOSÍSSIMA ATITUDE

Não se espera dos amigos nada além de companheirismo e assistência nos momentos de crise. É como gostaríamos que os nossos textos exercessem o seu papel transcendental.
Não duvidamos de que, para muitos, poderão até merecer cópias para serem levadas nas carteiras, para serem lidas quando da depressão provocada por empecilhos vitais que parecerem despropositados, em relação à nossa pouca expressão no mundo dos viventes. Estamos lembrando-nos de situações dramáticas em que quedamos inutilizados para o socorro ativo, como nos casos de assaltos e seqüestros, de enchentes e incêndios, de desastres sobre os trilhos, no asfalto ou no mar.
Claro está que bem poucas vezes se dará que a página esteja ao alcance das mãos. Então, o que mais nos oferecerá conforto e alívio será dizê-la de cor, dando às expressões de benquerença e afeto tonalidade emotiva correspondente à compreensão de que todas as dores e sofrimentos terão logo um fim, pela graça de Deus.
Muitas vezes, a paralisia se torna definitiva, apesar das promessas da tecnologia e da ciência para a regressão total ou parcial dos males. Nesse caso, já não basta repetir os dizeres com o espírito voltado para o Senhor. Será preciso incorporar o sentido doutrinário lá impresso aos processos e mecanismos intelectuais de superior qualidade que aceitamos nas teses espíritas.
No entanto, muitos falham repetidamente, deixando-se envolver por desilusões de curta duração, pela inveja, pelo ciúme, pela antipatia dos que vão em frente, conquistando todos os bens que nos quedaram impossíveis fisicamente. É preciso considerar também esses deslizes como naturais, porque não temos o direito de julgar que a nossa personalidade está acima de qualquer imperfeição.
Bem fazem as editoras espíritas que imprimem páginas de muita compaixão e de reflexão acendrada a respeito das virtudes a serem adquiridas durante a caminhada na carne e até fora dela, verdadeiras preces de profundo respeito pela existência e pelo Criador. Não às nossas comunicações mas a essas é que fazemos referência neste desenvolvimento.
Como último comentário, registre-se que não basta encantar-se pelos dizeres mais ou menos sublimes; é de todo necessário que se compenetrem os irmãos de que devem assimilar tão vorazmente tais ensinamentos morais que se sintam tentados a apor os seus ao lado dos nomes dos autores, como se outra obra não fossem capazes de redigir.
Não é verdade que o que consideramos tão perfeito nada mais é do que a expressão da verdade espiritual dos seres de eleição?



9. EM CIMA DA HORA

Nada mais injusto do que dizer que algo no setor espiritual se realiza em cima da hora. As conquistas não vêm ex abrupto nem as oportunidades são únicas.
No campo material, muitas vezes, deixamos passar ocasiões em que receberíamos ofertas valiosas. Há casos de pessoas que não se encontraram por uma delas não estar naquele local, por haver perdido o transporte. Se tivessem estado juntas por alguns instantes, teriam percebido os possíveis laços de simpatia que as atrairiam por toda a vida. No sentido oposto, também as coisas se dão por pouco, como quando alguém deixa um estabelecimento comercial assaltado minutos depois.
Alguém poderá pensar que não estava escrito no livro do destino encontrarem-se. Não existem livros do destino. Os acontecimentos têm sua seqüência conforme se estabelecem os encontros e desencontros, de sorte que a história vai sendo escrita no momento presente. Claro está que existem conseqüências inevitáveis, como no caso de alguém ter sua mão amputada ou ganhar na loteria. Entre a amputação e a premiação existe ponderável diferença e todo o futuro irá delinear-se segundo uma perspectiva ou outra.
No etéreo é que as coisas mudam. Como as criaturas se reúnem conforme sua similitude moral, intelectual, sentimental, os círculos são preenchidos por espíritos que, encontrando-se ou não, vão entender-se ou desentender-se às maravilhas. Enquanto houver renitência e não se aceitar que a melhoria das condições depende da mudança que cada qual promove de si mesmo, não há como se perceber que existem socorristas capazes de oferecer novas perspectivas existenciais.
É sempre importante que as pessoas bem dotadas espiritualmente se encontrem com outras menos capacitadas? Obviamente, como no caso dos alunos que buscam os conhecimentos dos mestres para dominarem as ciências. Mas tais conjunturas são obrigatórias como é obrigatório saber que Deus é o criador, princípio e fim de tudo, inteligência suprema e absoluta.
Resta-nos agradecer a ajuda que dos nossos guias estamos recebendo, autores e leitores, por nosso texto estar chegando às mentes esclarecidas dos companheiros encarnados, os quais, mais dias, menos dias, irão dar-nos a deferência de sua presença em nossos ambientes de estudo e de trabalho.



10. A LUZ HOJE E SEMPRE

Muito nos admiramos, às vezes, de observar algo novo no mistério de nossas existências. É como se adquiríssemos a inteligência de nível um pouco mais elevado, para, em seguida, voltarmos à escuridão costumeira.
Isto é absolutamente normal para os encarnados, que aprendem as coisas e são estas que se fixam nos mecanismos do procedimento posterior. Se tivessem os irmãos a possibilidade de manter sempre crescente a produção intelectual e moral, tornar-se-iam seres de muita luz ainda em vida na carne.
No etéreo, porém, a aquisição dos conhecimentos desencadeia novas ondas de esforços espontâneos, no sentido da assimilação de cada vez mais tópicos dentro do prisma de elevação em que se aplicou o sujeito. Significa que é a própria faculdade intelectual que se desenvolve, tornando-nos cada vez mais aptos a perceber como se dão os processos de formação do universo.
No campo da moralidade, as coisas se passam de maneira muito parecida, com a diferença essencial de que a prática do bem é que vai gerando a consciência do amor e do amar, sempre mais abrangente e universal.
Em que pé fica a observação socrática do conhecer-se a si mesmo, tão divulgada entre os que professam o espiritismo pelo prisma de Kardec?
Simplesmente, o conhecimento do todo implica em conhecer-se o indivíduo a si mesmo, porque a primeira conclusão a que chega estabelece que ele é apenas um minúsculo fragmento da criação, poderoso ser em ascensão mas insignificante perante a grandiosidade dos bens a conquistar.
Determinada tal dimensão, tudo irá implicar em descobrir os meios e recursos de que se é possuidor, para ampliar os horizontes temáticos através do desenvolvimento pessoal. Para quem, entretanto, se extasia com as faculdades que vai dominando e se limita a isso, em breve se dará a pressão da necessidade de alcançar os amigos que se dedicam ao serviço socorrista, os quais vão criando mundos que lhes dão a aparência da angelitude.
Em suma, para não se cansarem os amigos, simplificaremos a explanação com a conhecida figura do anjo que possui duas asas, uma do sentimento, outra da inteligência. Eis que a luz de um momento de pureza se transforma na perene, na magnífica, na esplêndida compreensão da verdade.



11. PROFUNDO E MISTERIOSO

Todas as vezes que nos apresentamos para o trabalho de psicografia, temos a impressão de que vamos deixar alguns pensamentos cujas principais características se resumem no dístico do título. Realmente, a partir do etéreo, todas as palavras ganham cunhos do sobrenatural, como se fôssemos descer de plano superior para conferir aos encarnados um pouco do encantamento que nos cerca.
Aí, porém, os conselhos se dão de forma bastante singela, como se fossem expendidos pelos mais humildes dos pregadores espíritas, aqueles que, na ausência das sumidades intelectuais e culturais, se atrevem a ocupar a tribuna para algumas considerações ditadas por sua experiência. Embora vazemos o teor dos textos com alguma erudição, a composição se faz íntegra na concepção dos pontos da moralidade que se quer corriqueira nos atos e procedimentos humanos.
Por isso, não nos atrevemos a medir forças com os mortais justamente nos tópicos em que são eméritos, o que nos dá pouquíssima oportunidade para apreciarmos a doutrina espírita sob perspectiva original. Também, se viéssemos trazer conceitos surpreendentes, desusados ou menos compreensíveis, como se estivéssemos atuando em esfera angélica de elevação superior, com certeza provocaríamos reações contrárias, por força da lei de conservação, que não se ajusta apenas no campo das ameaças físicas ou materiais.
Para quem não imaginou ainda que as chamadas leis universais ou naturais podem reger os aspectos mais sutis da espiritualidade latente em cada ser, fica a nossa pequena contribuição, justamente no sentido do profundo e do misterioso.
Que tal transferir o mesmo raciocínio para as demais leis, inclusive a do amor, da justiça e do trabalho?



12. HORA DA VERDADE

A bem dizer, não existe momento algum que não seja da verdade. Qualquer coisa que fuja à exata noção das coisas nos proporcionará longos períodos de reajustamento, para entendermos o porquê de termos executado algo pérfido e mentiroso.
Aqui é preciso explicar que a verdade não se confunde com o nosso modo de ver e sentir o universo, pois seria falacioso demonstrar que o mesmo objeto ou fato pode reverter em bem de diferentes maneiras, ou que multíplices interpretações podem igualmente corresponder a uma visão positiva da realidade.
Quando mudamos o parecer por atinarmos com o erro em que incidíamos, significa um progresso muito valioso, porque não mais iremos cometer a mesma falsidade, já que a verdade tem o dom de ser eterna. Se os homens vivem num mundo de espectros ou de sombras, também desenvolvem a sabedoria de percebê-lo quanto a tudo que não seja estritamente subjetivo.
No etéreo, muitas falácias que incrustamos no fundo da personalidade vêm à tona e somos capazes de compreender-lhes as causas e as conseqüências, como assim o uso que delas fazíamos para proveito próprio, quase sempre em detrimento dos companheiros de existência. Se não nos demove a verdade e se mantemos o mesmo ponto de vista, ficamos alheios ao desenvolvimento para melhora das faculdades inerentes ao perispírito.
Por isso é que nos vemos obrigados a volver ao plano da matéria muitas e muitas vezes, quase sempre sem alcançar progressos significativos, o que é de lamentar-se quando se percebe que poderíamos ter adquirido a bem-aventurança e a felicidade do equilíbrio mental, moral e espiritual.
Para finalizar, vemo-nos no dever de revelar que os nossos caríssimos irmãos leitores se enfezam com os textos mediúnicos que não remetem senão para certos objetivos intrínsecos de melhoria de procedimento, sem a contrapartida das explicações de valor imediato, como no caso do receituário dos remédios espíritas mais corriqueiros: a paciência, a renúncia, o desapego material, o amor filial, paterno e materno, a benquerença fraterna, a dedicação à causa espírita, o acompanhamento dos estudos da doutrina, o comparecimento às sessões de desobsessão, a presença nas palestras dos eméritos etc. A simples referência à honestidade torna a expressão muito agressiva, para muitos, o que nos força a desculpar-nos pelo insulto e pela imprecação.



13. ABORRECIMENTOS INJUSTOS

Não deveríamos acrescentar nenhum qualificativo ao substantivo acima, esperando que todos os amigos leitores já consigam intuir que os males que nos magoam nada mais são do que uma espécie de inconformismo com a própria condição existencial. Seria como que repudiar o médium os nossos ditados, por força de não se apresentarem segundo seu modelo de perfeição.
Ora, o nível de compreensão dos acontecimentos se estabelece rigorosamente a partir do ponto evolutivo em que nos encontramos, nem mais, nem menos. Se temos discernimento para entender que a justiça humana é periclitante, incerta e incompleta, também, podemos imaginar que a de Deus é firme, perfeita e absoluta.
Aborrecer-se é próprio dos humanos, quando se vêem frustrados em suas expectativas, e não precisam ser casos trágicos ou definitivos. Basta que um filho querido não corresponda nos estudos ou no emprego, que logo ficamos amuados, desejando apontar culpados e increpar responsabilidades. Isto se dá a todo o momento e muitos se julgam no lídimo direito de assim reagir, ainda que sofra o fígado ou o estômago.
Do mesmo modo que há correspondência orgânica dentro da chamada relação entre corpo e mente, no psicossomatismo inconsciente, também podemos definir algumas perdas de tonicidade espiritual, quando, inadvertidamente, nos deixamos derrear pelo impacto cruel das esperanças defraudadas. No etéreo, porém, as conseqüências são imediatas, principalmente quando estamos acostumados a colocar todos os fatos sob a lupa do investigador doutrinário ou moral. Nem necessitamos de acompanhamento dos mentores ou dos colegas. Logo nos sentimos muitíssimo mal e o azedume se acresce de novas penúrias, por força de estarmos a decifrar a origem dos aborrecimentos como resultante das nossas próprias imperfeições.
Daqui a constante recomendação dos espíritos de todos os cabedais para que nos habituemos a principiar as análises e exames por oração em que se relevem os poderes e as graças concedidas pelo Senhor a cada criatura, porque jamais ninguém será desamparado, quando aceita a soberania da divina justiça.
Falamos de possível decepção do intermediador. Poderíamos falar também do desagrado dos leitores. Entretanto, num e noutro caso, ninguém de nosso grupo ficará aborrecido com isso, porque sabemos que estamos trilhando o caminho ascendente rumo à perfeição, o que nos obriga a passar por este trecho da estrada. Evidentemente, se estamos tratando com pessoas que já vão longe na peregrinação, maior alegria ainda vamos sentir, uma vez que não nos preocuparemos com o fato de provocarmos enjôos e desagrados. Aos demais, o nosso humilde pedido de perdão e o nosso mais cordial abraço.



14. A BÊNÇÃO DA ÁGUA

Muito poucas são as religiões em que a água não passa por tratamento purificador de sentido extrafísico ou espiritual. Também entre os espíritas corre o conceito de que os bons espíritos conseguem transferir fluidos regeneradores para o líquido que se expõe com tal finalidade.
Quais são os elementos do campo espiritual que se conseguem fixar nos elementos materiais?
Aqui devemos utilizar de comparações, pois é sabido que certos campos magnéticos induzem a limpeza da água, eliminando possíveis germes. Também a força elétrica pode ter influência positiva no mesmo sentido, matando os microorganismos e afastando as moléstias por eles transmitidas.
Tudo isto, porém, é totalmente material. O que se requer dos espíritos é que exerçam poder de concentração e transformação no campo energético em que atuam, introduzindo na água sutis elementos que permitiriam a cura de moléstias no organismo, através da ingestão do líquido.
Como tais energias ou fluidos pertencem ao plano da espiritualidade, fica impossível aos humanos, através de aparelhos de análise espectral, identificar a presença deles, tornando-lhes a existência mero ponto de fé, pelas informações que somos capazes de transferir de inteligência para inteligência, como no caso destes apanhados mediúnicos.
Indo um pouco além, também existem as chamadas intervenções cirúrgicas espirituais, muitas delas facilmente comprováveis pelos registros que se dão antes e depois das operações, verificando-se, por exemplo, que o tumor desapareceu ou que o osso se soldou; e assim por diante. Claro está que, como tudo se passa no âmbito do mundo físico dos encarnados, não há como se comprovar que o efeito da cura teve causa na espiritualidade.
Seremos obrigados a remeter ao aviso de Jesus quanto ao poder da fé? Quase isso, pois é possível que o próprio espírito encarnado encontre meios de desfazer-se das doenças, por auto-sugestão, quando não por treinamento no sentido de elaborar roteiro de confiança para exercer, através da mentalização, influência sobre o organismo, despertando-o para produzir, por metabolismo, as enzimas ou outros ingredientes que irão concentrar-se nos focos fragilizados.
Todos estes fatos são muito menos raros do que se possa pensar, no entanto, a quase totalidade passa despercebida, da mesma forma que o organismo se defende dos ataques de todo momento. Não é verdade que muitos machucados acabam por desaparecer, sem que notemos o processo da eliminação? Mais ainda as atuações de caráter espiritual de que somos alvo da parte dos protetores.
Talvez haja uma espécie de prática religiosa material no rogo pela bênção da água, entretanto, se mantivermos higienizados os copos e jarras, apresentando um líquido puro para a fluidificação, sempre poderemos considerar que a nossa fé produzirá seus frutos.



15. PREGANDO NO DESERTO

Às vezes, parece-nos que as palavras se perdem na atmosfera, sem eco nos corações humanos. São os discursos por demais óbvios ou por demais confusos, apesar da grandiosidade dos temas. É que não atinamos com a melhor forma ou a mais propícia oportunidade de nos fazermos ouvidos.
É quando nos lembramos de Jesus e de seu evangelho de amor trazido a nós há mais de dois milênios. E nos conformamos, pois a história é pródiga de exemplos da inutilidade dos conselhos, das orientações, dos ensinos. E também nos vêm à lembrança aqueles que, convivendo com o Nazareno, não conseguiram assimilar-lhe as palavras de prevenção dos males arraigados na alma.
Ao menos, deixamos registradas as mensagens de maior interesse para nós, no campo da pregação fraterna que nos está cabendo. Se advertimos para a necessidade do progresso moral, da aquisição das virtudes e da dedicação aos estudos doutrinários, também assinalamos que existem dificuldades de entendimento, de formação escolar, inclusive pela resistência imposta pelos preconceitos de toda espécie.
Ainda nos resta uma compensação não de pequena monta, qual seja, a de que, mesmo no deserto, as palavras não se esvaziam completamente, sempre havendo a possibilidade de serem ouvidas por espíritos erráticos ávidos por informações ou por consolo. O orador não vê a quem atinge, porém, se tiver desenvolvido o bom senso, poderá asseverar-se de que Deus lhe dará aos ímpetos de boa vontade a melhor destinação.
Se este texto ficar paralisado por indefinido tempo, carregado de pó num fundo de gaveta esquecida na memória das pessoas que por ele passaram, também haverá de refulgir um dia, quando nós mesmos nos despertarmos para a importância de tê-lo redigido sob a influência de mestres mui queridos, sob o impacto emocional da necessidade de sermos úteis de qualquer maneira aos amigos encarnados.
Eis a sugestão que deixamos para a inteligência dos que se dão ao trabalho de persistir denodadamente na busca da perfeição: um escrito altamente interessado em demover os irmãos dos maus intentos sempre haverá de alcançar resultados positivos, já que não nos postamos pessoalmente diante dos leitores, apesar de que, por invocação deles, até poderemos aproximarmo-nos para estabelecer algum contato, desde que avaliados como instrutivos e oportunos pelos mentores de cada um de nós.
Com bom discernimento a respeito da honestidade imprescindível para cada ato relacional, jamais alguém pregou ou pregará no deserto.



16. TOLERÂNCIA RELATIVA

— Será Deus tolerante em relação às nossas falhas?
Todos nós gostaríamos que sim, que o Pai nos perdoasse e esquecesse, limpando a nossa consciência, tornando-nos puros e equilibrados, a ponto de não se importar se, por acaso, voltássemos a delinqüir, já que não estaríamos mais do que dando vazão a um ato inocente e sem responsabilidade.
Ocorre que o Criador do universo nos colocou diante de nós mesmos e, se ele nos abençoa eternamente, não significa que nos dá o privilégio de nos perdoarmos e de esquecermos os nossos malfeitos. Aliás, bem pensando, não caberia jamais ao Senhor perdoar-nos nem esquecer, porque possui o conhecimento absoluto de todas as coisas, de tal forma que não precisa descair da suprema perfeição para a mais leve preocupação com qualquer de suas criaturas.
— E que preposto da Divindade tem a função de praticar a tolerância em plano superior?
Supomos que não existam prepostos com quaisquer atribuições, ocupando posições de justiceiros na bem-aventurança do reino, porque seriam atingidos pelas imperfeições que vivenciaram um dia e que souberam como superar, o que lhes proporciona suficiente categoria espiritual para conhecer a escalada das criaturas rumo à perfeição. Se quisermos baixar o nível de felicidade dos que quinta-essenciaram todos os atributos morais, bastaria dar-lhes a mínima preocupação pela infelicidade alheia.
— Quer dizer que, em havendo quem nos cobre a melhoria dos procedimentos, forçosamente haverá de ser incompleto e necessitado ele mesmo de amparo?
Somos de parecer que a ascensão pressupõe a eliminação dos defeitos e vícios, ainda que em campo energético de superior qualidade. Em nossa humilde condição de aprendizes do evangelho, apenas imaginamos que haja seres em melhores situações moral, física, espiritual e outras cuja natureza somos incapazes de conjeturar. Só o fato de se aproximarem de nós, já é cabal demonstração de que estão interessados em nos ajudar por conhecerem a precariedade de nossas constituições. Estarão, por certo, em nível evolutivo superior ao nosso, mas não se desprenderam completamente dos vínculos que os prendem a este planeta, este círculo ou esta esfera de provações e expiações.
— Por que, então, não podem ser totalmente tolerantes, precisando manter certa linha de conduta bastante rígida e rigorosa, já que nos censuram e nos aconselham? Não seria justo pensar que eles, mais que nós, conhecem o caminho da salvação?
Quem é hábil o suficiente para elaborar tão finas questões, está evidentemente apto a responder a elas com proficiência. Se isto não é ser tolerante de forma relativa, não aprendemos a lição...



17. SEM BAIXAR A GUARDA

— Que obteriam espíritos que conseguissem interferir neste trabalho mediúnico? Ficariam satisfeitos por lograrem prejudicar um relacionamento de caráter positivo entre seres de diferentes círculos existenciais?
Já se vê que a pergunta é meramente retórica pois, entra ano, sai ano, o nosso escrevente segue imperturbavelmente trabalhando, produzindo peças dos mais diferentes gêneros, algumas de boa qualidade, o que está a indicar iniludivelmente que nenhuma das turmas da Escolinha de Evangelização se deixou embair pelas artimanhas dos infelizes.
Ao contrário, muitos deles, ao se aproximarem da casa, são atraídos pelo magnetismo que a envolve, acabando por entender que algo bem diferente do que estão acostumados ali está sucedendo, pondo-se à disposição para auxiliar de algum modo nos trabalhos, momento em que são convidados para se inteirarem dos objetivos da colônia, podendo ou não interessar-se por inscrever-se em algum curso ou deixando-se envolver pelos fluidos de benquerença do grupo, aceitando tratamento para libertação dos males mais grosseiros.
Como se pode perceber, existe um subproduto não desprezível destas tardes mediúnicas, exatamente como ocorre junto aos centros espíritas sérios, para onde são conduzidos irmãos nossos necessitados de esclarecimento e de ajuda. Graças a Deus!
— Significa que, enquanto o encarnado se dispuser a receber as comunicações, tê-las-á, uma vez que as classes se sucedem?
Perfeitamente, embora não esteja simplesmente na vontade dele a continuidade do trabalho.
É preciso esclarecer que qualquer médium está sujeito ao assédio de obsessores e mal-intencionados, sempre prontos para entornar o caldo, muito embora não aufiram lucro algum, quando conseguem desviar do bom caminho algum ajudante da espiritualidade. Não sentem a mínima alegria, nem vestígio de satisfação, nem traço de júbilo. Aliás, desconfiam de que estão onerando-se com o peso de mais um paralelepípedo no fardo que estão carregando. Agem por impulso, como a descontar em pessoas inocentes (até certo ponto), alguma injustiça de que se julgaram vítimas.
Entretanto, o médium não precisa defender-se sozinho. Sentindo a vertigem da tentação, basta invocar um de seus colaboradores espirituais para logo obter assistência e proteção, tendo em vista que nenhum trabalhador da espiritualidade deseja perder quem lhe abra caminho para a realização das obras mediúnicas.
Estes fatos são do conhecimento corriqueiro de todos os que freqüentam as aulas e palestras dos centros espíritas ou se dedicam ao estudo das obras capitais, principalmente as de Kardec. Só estamos repetindo aqui para integrar mais este conhecimento à estrutura de nosso compêndio, naturalmente, sem baixarmos a guarda...



18. APARENTE ALIENAÇÃO

Os temas filosóficos em geral e os doutrinários dentro do Espiritismo dão a impressão de que as pessoas, pelo tempo em que a eles se dedicam, se distanciam do mundo da matéria e perdem o contato com a humanidade.
— Não é assim que os amigos encarnados sentem os que se dedicam ao desenvolvimento teórico dos assuntos que visam à descoberta de como se realiza a existência no plano da espiritualidade?
Pois bem, a importância de saber o que se passa no campo episódico dos eventos históricos atuais, para nós, ainda é mais alienante, porque as circunstâncias que envolvem os fatos, por mais originais que sejam, repetem o que desde sempre os homens foram capazes de realizar. Assim, quem deseja conhecer de maneira mais profunda os acontecimentos deve entrelaçar causas e efeitos, de forma que o ciclo se perfaça íntegro, sem falsas interpretações.
Ora, se as pessoas conseguem atinar com as intenções mais secretas dos responsáveis pelas mudanças de relacionamentos, também serão obviamente capazes de raciocinar a respeito de sua impotência, passando para um estágio mais perfeito de observador.
— E quanto aos que exercem influência sobre a sociedade em geral ou sobre setores importantes, não é verdade que estes dominam a realidade mais de perto, podendo gerar diretrizes para toda a humanidade ou boa parte dela?
Se o campo das responsabilidades não se interpenetrassem, poderíamos responder afirmativamente, entretanto, o livre-arbítrio de uns sempre é condicionado pelo livre-arbítrio de outros, de modo que a ninguém é dado exercer absoluta influência sobre o destino próximo ou futuro dos homens.
Fique claro que respeitamos profundamente o mérito dos cientistas que descobrem remédios para a cura das moléstias que dizimam as populações. Muita gente que está viva hoje, com certeza, pairaria no etéreo, se não tivesse tomado suas doses de antibióticos, se não tivesse sido vacinada ou acudida a tempo nos hospitais e centros de saúde. Isso transforma, sem dúvida, a fisionomia da sociedade, já que cada pessoa salva vai pesar no resultado geral dos encontros e desencontros.
No entanto, se ampliarmos a visão para os efeitos mais genéricos do passar dos séculos, podemos fixar-nos num ponto completamente relevante: todos nós nos transferiremos mais cedo ou mais tarde para o mundo extrafísico. Assim, o que tivermos obtido a mais na quantidade de dias vividos surtirá seu efeito espiritual inexoravelmente pelo valor de nossas obras.
— Não foi sutil a transformação do objetivo do estudo da humanidade para o do aperfeiçoamento moral de cada indivíduo?
Pois quem está interessado em aprofundar-se na pesquisa da realidade que espera por todos após a morte, podem crer, é o que menos se aliena da própria vida, porque, necessariamente, se obriga a trabalhar em função da melhoria da sociedade, para enriquecimento pessoal.



19. ESTRANHA CARIDADE

Muito ouvimos falar de que as pessoas são trazidas para a Terra com destino mais ou menos definido, muitas com os estigmas dos males morais impressos na carne indelevelmente, através de aleijões ou de deficiências ponderáveis.
Os estudiosos da doutrina espírita buscam explicar as anomalias, afirmando que tal ou qual herança genética foi escolhida pelos mentores e guias pessoais, porque era necessário ministrar ao assistido uma lição definitiva, para que ponderasse a respeito do emprego desastrado do livre-arbítrio, o que causou dor e sofrimento a muitos desafetos e até familiares.
— Ora, se os amigos cercam o reencarnado de todos os cuidados para que melhore o procedimento, como é que desejam vê-lo angustiado, com motivos claros de rebeldia, dada a comparação a que são obrigados pela presença dos seres considerados normais? Até que estabeleçam o nexo entre crime e castigo, ou melhor, entre defeitos e vícios e corretivos ocasionais, vão ter de refletir com muita sabedoria, o que não se pode presumir que possuam dada a inferioridade natural de seus espíritos.
Claro está que é possível inferir o sentimento penoso dos que promovem tais reencarnações infelizes, pois se vêem forçados a acompanhar as miseráveis e capengas atuações dos pupilos durante alguns anos de vida. Claro está que, nesse caso, muito provavelmente os protetores também têm claro descortino de suas próprias necessidades e de seus elevados compromissos para com a verdade, a justiça e a solidariedade.
— Será que todos os que aspiram a desfazer-se dos aleijões morais precisam passar por tormentas físicas desse naipe? Não lhes basta estarem conscientes de sua inferioridade, bem como dos esforços e sacrifícios precisos para o expurgo dos defeitos? Se, ao menos, tivessem anuído para receberem a sorte malévola dos fracos e aleijados...
Eis que a solução se evidencia. Apesar da possível rebeldia íntima, quase sempre se dá o conformismo, já que nada se pode fazer para reversão do quadro que se configura estável e permanente. Assim, transforma-se o espírito e admite a carência, fortalecendo-se em sua fraqueza, sendo capaz de avaliar a própria superioridade de caráter ao constatar que possuem corações mais corajosos e melhor preparados para o enfrentar da adversidade.
— Resta-me uma questão crucial: por que ocorre de muitos chegarem de volta ao etéreo ainda cheios de preconceitos, tanto que mantêm no corpo espiritual os mesmos aleijões que traziam na matéria? É a noção de caridade que mudou ou sou eu que não estou entendendo?
Você está perguntando por perguntar, para permitir-nos uma resposta mais abrangente, no entanto, vamos frustrar-lhe a expectativa de esclarecimento amplo e irrestrito. A verdade é que cada um de nós adota postura própria em relação aos bens que devemos conquistar. Na carne, talvez, os problemas sejam mais fáceis de contornar, embora mais difíceis de superar. No etéreo, passa-se o contrário, desde que cumpramos as nossas obrigações com muito amor, pela condição essencial de que todos devemos amparar-nos solidariamente.
Se o amorável leitor, por acaso, sentir-se ferido pela rudeza de nossa exposição, não aceitando que esteja sendo punido por males cuja recordação lhe seja impossível, julgue-se privilegiado por estar em plena fase de refazimento dos princípios superiores da doutrina espírita, não tomando este orbe como de provações e de expiações, mas como de aprendizado para as lutas maiores que se travarão no âmbito da espiritualidade. Tudo deve ser causa de progresso ou de nada adiantará estarmos imersos na densidade corpórea.



20. A ADESÃO ÀS EXPLICAÇÕES

Vamos advertir desde já que não se trata de perturbarmos os leitores porque não aceitam esta ou aquela colocação do grupo. Vamos comentar o que se passa conosco, em nossas aulas e estudos nesta Escolinha de Evangelização. Os mais argutos já devem ter concluído que vamos desenvolver o tema dos preconceitos, já que, para assimilarmos a matéria nova, sempre haveremos de desprezar as falsidades a que dávamos crédito.
Por outro lado, antes de iniciarmos a descrição dos fatores psicológicos que precisamos aperfeiçoar, vamos alertar para o fato de que também para os humanos podem servir as teses aqui demonstradas, ou não viríamos a público para externá-las. Não é verdade?
Os que mais resistem aos conceitos que são debatidos em aula são exatamente aqueles que trazem históricos de encarnações em que a doutrina espírita serviu de pano de fundo para os eventos da matéria, para os procedimentos e para o ajustamento do nível de aspiração quando da entrada na espiritualidade.
Os ateus, descrentes ou, simplesmente, agnósticos, são os mais cordatos e interessados em aprender as lições tais quais nos são apresentadas. Os integrantes das religiões cristãs apresentam-se um pouco mais renitentes, preferindo ver para crer, de sorte que necessitam de aulas práticas para a demonstração da verdade. Mas vão aprendendo e incorporando aos conhecimentos as descobertas que o pragmatismo de suas crenças lhes havia impedido de conhecer.
Quanto aos espíritas, temo-los de todos os tipos, porém, os mais recalcitrantes são os que formularam teses próprias a partir de intuições pessoais, ou seja, os que criaram uma doutrina própria a partir dos ensinamentos hauridos nas obras de Kardec. Também os que leram muitos textos romanceados tendem a arcabouçar uma realidade fantasiosa difícil de ser debelada. Os de mais fácil acessibilidade são os que aceitaram os fenômenos espíritas descritos na teoria, sem discussão, imergindo fundo na aplicação sensata dos deveres morais, deixando para a erraticidade a compreensão dos dizeres cuja comprovação se dizia dificultosa.
Os processos metodológicos aqui empregados levam em conta, principalmente, o interesse pela absorção do ideário teórico. Caso o colega prefira dedicar-se ao socorrismo de forma imediata, para aprender na prática, será monitorado por algum companheiro mais experiente, que irá dando-lhe todas as explicações, à medida que forem sendo solicitadas.
Em suma, ninguém é obrigado a acatar as instruções dos mestres nem a cooperar nas pesquisas dos grupos de estudo. A única observação que lhes é feita corresponde ao fato de que irão demorar muito mais para progredir, muito embora também lhes seja dito que muitos, no caso deles, conseguiram, de repente, enfeixar todos os ensinamentos que receberiam num curso regular, pelo poder de síntese natural da mente, perante a extensa coletânea dos acontecimentos analisados. É como se a luz se fizesse de um momento para outro.
Com certeza, estão faltando muitos tipos, mas não poderíamos abranger a todos. Ficamos na expectativa de termos ido ao encontro da expectativa da maioria dos leitores, que poderão, desde logo, observar a própria tendência, para não trazerem para cá ilusões difíceis de eliminar. O melhor mesmo para todos é aceitar as informações, aderindo às explicações sem oferecer resistência, sem desconfiar de estarem sendo engodados, mas com a diretriz estabelecida de que, mais dia, menos dia, terão a revelação de toda a verdade.
Em tempo:
Usem de bom senso e destinem o seu tempo livre para o estudo das obras ditadas pelos espíritos a Kardec. Caso os nossos textos se apresentem por demais complexos, não teorizem sobre eles e dêem preferência aos esclarecimentos do Codificador.



21. AS CATEGORIAS

Em todas as religiões, quando são dados a conhecer os seres mais elevados, sempre se faz alusão a alguns melhor aquinhoados de virtudes, estabelecendo-se a hierarquia celestial.
Perante a tese espírita do evolucionismo perfectível, não há como deixar de asseverar o mesmo princípio, aqui e ali com algumas alterações, mas por todos os meios de eficácia total na deflagração dos pensamentos humanos na consideração de como se exerce a justiça divina.
A diferença capital entre o que vale para a doutrina espírita e as demais linhas religiosas se encontra no fator pessoal dos seres, já que, para nós, são os méritos das obras das criaturas que as fazem ascender na escala espiritual, enquanto as idéias religiosas atribuem a Deus a dádiva de bênçãos e graças especiais, abonando seres por simpatia, por algum ato de valor específico ou por supremos sacrifícios.
É através dessa categorização que se distribuem os valores humanos, de sorte que os fiéis sejam capazes de avaliar o que deles se espera para que adentrem o reino do Senhor. Como acham que grande parte das virtudes é recebida do Criador ou dos seus subalternos imediatos, as pessoas tendem a concentrar as atividades mentais relativas aos ganhos morais superiores em ações que visam a satisfazer a vontade alheia, ainda que seja dos profetas, dos santos ou dos sacerdotes.
Exemplo burlesco e lamentável é o de quantos desejam martirizar-se pela causa religiosa, ateando fogo ao corpo, sacrificando parentes ou crianças nas aras sangrentas, estourando artefatos presos a si, para matar pretensos inimigos, e assim por diante, tudo isto com a esperança de conseguir reconhecimento justamente daqueles seres categorizados, para deles receberem o passaporte precioso.
Quem possui um mínimo de ilustração espírita, conhece a falsidade dessa interpretação e sabe condenar filosófica e racionalmente o ato alucinado do fanatismo extremo.
Será preciso dar relevância ao fato de que o ideário espírita é produto de estudo sério e demorado, enquanto os tais mártires dificilmente terão passado de trinta anos de vida. Isto significa que aos mais velhos cabe a responsabilidade dos esclarecimentos e a sensatez das advertências quanto às graves conseqüências para os suicidas e homicidas, que, em lugar de se encontrarem imediatamente numa região de felicidade e bem-aventurança, vão ver-se às voltas com as acusações próprias e alheias.
Desenvolvimentos mediúnicos de pouca dramaticidade como os nossos acabam por desconsiderar os fatores emocionais agudos do desespero e a completa alienação mental dos que se vêem sem compreensão das causas que produziram efeitos tão desastrosos e infelizes. De qualquer modo, é preciso que se diga que os recém-chegados nessas condições, muitas vezes, nem percebem que estão carentes de auxílio altamente especializado no campo da restauração do perispírito, o que apenas retarda a percepção da tragédia. Mas não seria de conceber-se que crimes tão hediondos sejam desculpados tendo em vista a ignorância das leis naturais.
Será que deixamos claro que as categorias são próprias dos encarnados e que cabe aos mais esclarecidos educar os que se acham sob sua responsabilidade? Por isso, não nos furtamos a estas comunicações de caráter didático, já que não é preciso pairar nos ápices das esferas de superior sublimidade para trazer palavra de puro bom senso, se não para encaminhar atividades socorristas, pelo menos para enfeixar algumas considerações capazes de desencadear reflexões filosóficas de cunho pragmático, para benefício de quem as faz e de quem recebe seus frutos na sociedade humana.



22. DA METAMORFOSE

Quando aspiramos muito a ascender em paz para o regaço do Senhor, não pensamos na necessidade de nos transformarmos fisicamente, por assim dizer, já que o reino da perfeição não pode suportar aparelhos e formas tão defeituosos quanto os nossos. Achamos — e oramos para isso — que a nossa aparência não diz respeito ao Criador, que deve tolerar tudo em suas criaturas.
Se pensarmos um pouco mais agudamente no problema, vamos cair no lado oposto, o das suposições absurdas, uma vez que acabamos por não entender como é que seremos sem as nossas características próprias, o que significa que não desejamos abrir mão de muitas coisas que nos dão alegria e prazer.
Nossos irmãos de outras religiões são bastante sinceros quando almejam ser recebidos diretamente nos campos do Pai, levados por anjos tutelares, cuja função específica é essa mesma, qual seja, a de conduzir os que falecem abençoados pelos sacerdotes para o seu destino ideal. Não se arreceiam de fazer triste figura na festa com que os recepcionarão, porque julgam que todos os que se aureolam de santidade possuem as mesmas fraquezas deles.
Não queremos instituir o pessimismo. Ao contrário, estamos advertindo o mais amavelmente possível para as fantasias com que envolvemos os sonhos de felicidade transcendental. Isso nos dará o argumento final para a comprovação da nossa tese de que é preciso que suspeitemos de estar em débito para com muitas das facetas das virtudes. Sem a perfeição, contudo, como nos ensina Jesus nas sagradas escrituras, não nos poremos em condições de visitar o paraíso celestial.
Escrevemos esta página meio surrealista para fornecer elementos aos leitores com que agridam os males e vícios e para que não se deixem enlevar pela lembrança de caudalosas benemerências praticadas no passado. O que quer que tenhamos feito de bom para aproveitarmos em benefício nosso estará indelevelmente impresso na personalidade e transparecerá aos olhos dos que estiverem aptos a nos integrar em seus grupos de trabalho em prol do soerguimento moral das pessoas em dificuldades. Isto tudo, porém, sempre depois de tomarmos consciência exata do que somos e do em que precisamos tornar-nos.
É como se déssemos uma espiada crítica neste texto e víssemos todas as suas imperfeições, buscando castigá-lo dentro das lindes mais puras do vernáculo, expurgando toda e qualquer manifestação não condizente com as normas superiores de elegância, de aprumo gramatical, de riqueza léxica etc. E, se cada um de nós o fizermos com rigor dentro dos parâmetros que estabelecemos como os melhores para as composições didáticas, teremos a surpresa de encontrar muitas formulações belíssimas, nenhuma, entretanto, coincidente.
No final dos tempos, os textos desaparecerão, porque inúteis, já que todos saberemos conduzir-nos pelas sacratíssimas leis de Deus.



23. HESITAÇÕES E TITUBEIOS

É muito provável que estas comunicações resultem em indagações pessoais da parte dos leitores, como se desvendássemos segredos íntimos de malícia ou de esperteza no campo das filigranas morais. Ocorre que esse é também um dos nossos objetivos, pois de nada valeria estarmos a oferecer os caminhos das virtudes, se não nos déssemos ao trabalho de auxiliar na corrigenda da alma.
É de todo favorável aos leitores a tese que estamos imprimindo nestas páginas, já que, em nosso ambiente de trabalho, os esforços estão concentrados na elaboração de textos sob a diretriz misericordiosa do amor de Deus por todas as criaturas. Sendo assim, fica-nos bastante claro que a contribuição que devemos dar para a melhoria do desempenho dos humanos deve eleger os tópicos em que sejam mais fracos, sem ofender e sem pretender especificar melhor que ninguém os procedimentos para tanto.
Na verdade, este exercício enriquece-nos muitíssimo, principalmente quando observamos como é que reagem os leitores perante as expressões mais ou menos abusadas que empregamos. Será que dizer que as hesitações e titubeios não são naturais, para quem tem o conhecimento teórico da doutrina dos espíritos, não se enquadra como atrevimento, sem qualquer sutileza de apreciação dos valores em jogo no momento do exame de consciência?
Pois o presente desenvolvimento busca esvaziar o conteúdo gnosiológico para imprimir cunho bastante emocional aos dizeres, de sorte que as provocações abundam e prevalecem sobre a vontade de absorver pontos de vista novos, como se pudéssemos apontar soluções mais práticas, mais eficazes e mais próximas daqueles aspectos da alma que acima deixamos assinalados.
Em outras palavras, estamos “enchendo lingüiça”, ou melhor, estamos levando uma “conversa para boi dormir”, no intuito de conhecer toda a extensão da vontade dos leitores de abandonar a mensagem porque não lhes diz respeito, já que estão suficientemente conscientes de suas próprias fraquezas, enquanto a descoberta de outras mais apenas lhes daria ensejo de observar melhor os defeitos alheios.
Ainda bem que nós não titubeamos nem hesitamos, oferecendo ditado lógico e bem concatenado, com argumentos fundamentados nas orientações do mentor da turma, visando a tornar a nossa presença prescindível, já que o mais importante é a deliberação de cada um quanto a expulsar de si os males do caráter e os pesos da consciência.
Talvez este arrazoado não sirva para definir a característica mais autêntica, legítima e genuína do conjunto das comunicações, contudo, sempre haverá de descrever com veemência o tônus moral da maioria dos companheiros, aspirantes ao socorrismo fraterno pelo modelo cristão superior.
Não nos percamos pelas palavras, embora tenham para nós o mesmo significado das ações.



24. O APEDREJAMENTO DA ADÚLTERA

Não venço a tentação de explicar que o texto evangélico se consignou para demonstrar como é que Jesus se utilizava da palavra para auxiliar as pessoas, não só salvando a pobre mulher de morte horrível, como também esclarecendo as consciências dos homens quanto à culpabilidade de cada um. De resto, as adúlteras continuaram sendo apedrejadas, porque o cristianismo não se arraigou entre o povo judeu.
Este o sentido mais profundo das dissertações destes grupos da Escolinha de Evangelização, ou seja, tornar mais fácil a compreensão do que se espera dos humanos para mais rápida e firme ascensão a mundos de moralidade mais vigorosa e perfeita. Entretanto, como a voz de Jesus não alcançou todos os povos, a nossa também irá delimitar-se de forma bastante estreita, atingindo, quiçá, uns poucos adeptos da doutrina espírita, talvez justamente quem menos necessite de orientação.
Por isso a nossa insistência em tornar as exposições bastante sucintas e acessíveis à mentalidade escolarizada, o que fecha as portas aos que têm maiores dificuldades de entendimento, porque não conseguem nível de abstração suficiente para acompanhar-nos os raciocínios.
Neste sentido, assim que houver a possibilidade da criação de escolas para a juventude, dessas em que se estudam as matérias do currículo comum, mas cuja diretriz se baseie nos ensinamentos de Kardec, esperamos que os nossos textos sejam colocados para debate em alguma série do ensino médio, quando a mocidade está aberta para os raciocínios exploratórios da verdade.
Por outro lado, como houve quem presenciasse e relatasse o episódio sagrado da sublime advertência do Nazareno, também esperamos encontrar espíritos de inteligência capaz de descobrir que as mensagens são instigantes e capazes de desencadear raciocínios preparatórios para a absorção da doutrina, no interesse da aplicação prática das recomendações morais superiores, ao contrário do que estamos contemplando junto à sociedade, não pela lástima da dissolução das famílias, mas pela estruturação delas com base nos interesses econômicos, que predominam sobre os afetivos.
Não está bastante claro que, hoje em dia, ninguém apedrejaria as adúlteras, havendo até muitos que estimulam o adultério já como norma de certos grupos gregários? Então, que se dediquem os que estudam o espiritismo a observar o quanto de egoísmo existe na nova atitude, em confronto, evidentemente, com o que existia ao tempo de Jesus. Talvez o excesso de outrora esteja configurado no inverso da atitude atual.
Para fins de estabelecimento da diretriz de nossa conduta perante os grupos que por esta pena passaram, tomamos a liberdade de informar que todos os temas podem sofrer a mesma análise, variando-se um pouquinho os métodos de se acercar dos problemas. Não se trata de passar exercícios, mas estaremos bem próximos disso se transformarmos as comunicações em lições para as aulas acima lembradas.



25. EXPERIÊNCIAS DE MORTE

Mesmo espíritas convictos, estudiosos e cultos, apresentam certo temor do momento de transição entre a vida na Terra e a existência no etéreo. Entretanto, a doutrina de Kardec oferece conhecimentos importantes para o enfrentamento da passagem obrigatória, especialmente quanto às recordações de outros episódios, em épocas passadas, quando o despertar na realidade espiritual se impregnou na mente de forma quase tangível.
É certo que muitos, apesar de terem tido várias encarnações, são incapazes de recordarem-se dos eventos que os envolveram, com certeza porque não seriam aproveitáveis para o entendimento do fenômeno em curso. Mas existem atenuantes para o desespero que a perda do invólucro carnal representa, um dos quais a noção de que estarão reconstruindo o perispírito, segundo o modelo do plano em que irão atuar.
— Para quem tanta facilidade?
Para os bons e justos, para os que cumpriram os comezinhos princípios do amor aos semelhantes, tendo sido o arrimo dos familiares e o ombro de quantos deles necessitaram. Quem se atrever a arribar do outro lado ainda sob a influência dos desejos humanos menos condizentes com a moralidade definida por Jesus e referendada pelos espíritos a Kardec terá, primeiro, de livrar-se do peso dos desejos materiais, para usufruir de forma condigna a regalia de dominar o ambiente fluídico.
— Como conquistar esse estado de graça na hora da morte?
Obtendo total confiança em que Deus é pai de amor e misericórdia, por meio das virtudes essenciais da esperança, da fé e da caridade, esta praticada no decorrer de todo o período de consciência do valor da doutrina espírita. Ajudará muito se a pessoa houver mantido saudável relacionamento com os amigos da espiritualidade, em sessões em que poderão atuar como médiuns, como doutrinadores ou como assessores vibracionais. Naquele instante supremo, saber que os protetores e técnicos de desvinculação das energias espirituais dos entraves materiais estão presentes sempre haverá de trazer conforto e calma.
— Parentes e amigos podem ajudar ou costumam prejudicar?
Ambas as coisas. Quem se deixar acercar de pessoas igualmente instruídas dentro da seara espírita irá obter auxílio surpreendente, enquanto estiver controlando o ambiente denso da matéria. Se tiver o dom de acompanhar as preces adequadas para aquele transe, conseguirá ultrapassar os limites da espiritualidade ainda envolto em aura de sublime captação dos eflúvios de que necessitará para a assunção da nova envergadura existencial.
Por isso é que dissemos no início que a maior bênção é a rememoração de outras conjunturas semelhantes, especialmente se tiverem sido felizes.



26. RAPIDEZ DE RACIOCÍNIO

À medida que o indivíduo vai tomando contato com a doutrina espírita, vai estabelecendo mecanismos de reação intelectual, de forma a categorizar os fenômenos ditos espirituais cada vez com maior precisão e rapidez. É verdade que isso se dá em todas as áreas do conhecimento humano, todavia, em relação ao espiritismo, a firmeza da compreensão repercute na consciência como de necessidade premente, para que não se sinta inseguro quanto à própria fé.
Ocorre como se fosse um pecado titubear, como se o levantamento da mínima dúvida pudesse significar grave percalço na vida, um ato que irá merecer condenação após a morte, tendo aquele infeliz que cumprir pena alguns anos a mais na escuridão do umbral. Deixar de possuir segurança íntima é ruim, mas é muito pior se, por algum deslize de formulação conceitual, o coitado deixar transparecer idéias imprecisas ou sentimentos em desequilíbrio.
Em suma, a opinião cobra o melhor desempenho, seja na intimidade dos pensamentos, seja na expressão das lições para os companheiros de centro ou para os aprendizes das escolas de iniciação doutrinária.
Não vamos insistir no aspecto mais profundo e relevante da postura egoística de quem não quer admitir-se ainda imperfeito; vamos ficar na superfície do evento psíquico, isto é, no aspecto periférico das reações mais ou menos agressivas quanto a não aceitar que se erre em pontos fundamentais ou questões assentadas nas obras básicas.
Assim, se alguém prescreve que haja sobre a mesa das sessões mediúnicas ou de passes magnéticos uma jarra com água, sempre haverá quem postule mentalmente a inocuidade dessa providência, para quem não se poste com a devida dignidade perante os ensinamentos de Kardec, freqüentando os cultos de outras religiões.
— Qual a relevância destas observações?
É que o processo se instala na personalidade quanto a arrumar desculpas para todas as ações, terminando-se por contrapor a cada idéia ou ato, outro ato ou idéia que possa contrabalançar o efeito negativo da anterior: “Eu tomo da água fluidificada e vou à missa, porque lá também os padres distribuem vinho bento e hóstias consagradas pelo mesmo processo de energização espiritual da matéria.”
— Que tal justificar este mesmo desenvolvimento temático, para tranqüilizar os leitores?
Se dissermos qualquer coisa que possa acalmar os ânimos que se exaltarem com esta dissertação, estaremos fornecendo apenas mais um argumento com que ferir de morte o princípio da honesta investigação espiritual, anulando a nossa própria diretriz metodológica. Fiquemos por aqui.



27. OPORTUNIDADES APROVEITADAS

Pequenino gesto de carinho, simples pensamento afetivo, notação íntima de simpatia, singela vibração de boa vontade, cada movimento em prol dos semelhantes sempre virá a constituir-se em crédito para a nossa alma. Desconsidere-se, no entanto, a intenção de obter lucro com tais emoções, se forjadas com o fito de revertê-las em nosso favor.
Estamos falando da sinceridade das atitudes e dos pensamentos. Entretanto, a respeito muito já se falou dentro e fora da doutrina espírita. O que nos traz de novo ao tema é a necessidade de colocarmo-nos à disposição dos amigos leitores, em quaisquer circunstâncias, por mais críticas possam ser, já que é da formação dos socorristas a extrema dedicação à prática do bem.
Muitas vezes, somos escorraçados de perto dos que suplicam por auxílio, tendo em vista o poder dos obsessores. Mas isso só pode ocorrer se o infeliz está com segundas intenções, como no caso de estarem a pleitear ajuda apenas no sentido de afastar os inimigos, impingindo-lhes uma derrota qualquer que seja. Quando existe boa-fé, não há quem nos impeça de providenciar fluidos de caráter positivo, ainda que amargosos, como certos remédios, ou doloridos, como certas injeções.
Tudo que pudermos fazer, faremos, independentemente de quem esteja a recorrer a nós, o que nos obriga a considerar a possibilidade de atender ao apelo de criaturas que possuam filhos na senda do crime. Talvez não alcancemos impedir a prática do mal, com certeza, porém, iremos transferir para os corações aflitos vibrações de conforto pela compreensão de que todos estamos a caminho da perfeição.
As nossas duas primeiras mensagens dispuseram a respeito do sofrimento e da recuperação de irmãos muito endividados. Mas essas informações se deram para o efeito da exemplificação, uma vez que, se não nos fosse por demais penoso, cada um de nós seria capaz de relatar acontecimentos tétricos de que fomos vis protagonistas. E agora aqui estamos aproveitando esta oportunidade para transferir conhecimentos bastante razoáveis, a respeito do desenvolvimento do espírito, não com outra intenção senão a de tornar a jornada dificultosa um pouco menos sacrificativa.
Exemplo típico é a nossa linguagem tão conturbada por nossas apreensões quanto a sermos mal interpretados, contudo, caso o amigo nos der crédito, irá facilmente vencer os obstáculos lingüísticos e os de formulação clara dos pensamentos, o que se dará com a habitual boa vontade de quem está disposto a enfrentar todos os óbices para a realização do ideal do amor.
Se citarmos o exemplo de Jesus, iremos induzi-lo a crer que estamos enchendo-nos de estúpida vanglória? Pois o nosso conselho será sempre o de que seja respeitada a lei do trabalho e da justiça, para eliminar definitivamente a desconfiança de que aqueles que prometem não cumprem. Zelem pela efetivação da verdade e deixem que os autores dos textos façam repercutir na consciência as emoções de que estão dominados.



28. O NOME DO SENHOR

As antigas escrituras recomendam que se evite mencionar o nome de Deus em vão, para dar valor aos momentos cruciais em que a ele devemos recorrer para nos salvar. Não vamos esmiuçar os aspectos históricos ou sociológicos relativos a essa proibição. Vamos ater-nos ao fundamental para a compreensão de como reagimos ao pensarmos nele.
Jesus, que não veio para destruir a lei, ensinou a divina prece dominical, iniciando-a pelo vocativo: Pai nosso. Não utilizou a palavra ritual do judaísmo, mas não deixou de referir-se ao Senhor. Como é que nós sentimos essa invocação? Eis o fulcro do nosso tema.
Muitos de nós não gostamos de repetir a sublime oração, porque nos induz ao aviltamento da presença de Deus entre nós. Outros a repetem à exaustão, considerando que Deus não se furta a auxiliar a quantos roguem por seu auxílio. Há os que consideram instantes de recolhimento os das preces, buscando vibrar intimamente para criar clima harmonioso entre encarnados e desencarnados. Existem os que se alegram em reafirmar a fé através das palavras legadas pelo Nazareno, concentrando-se em seus termos como se renovassem as promessas ali contidas, como se reafirmassem a confiança na divina proteção, como se louvassem o Criador cada vez com sentimento mais profundo de agradecimento pelas dádivas infinitas que sabem ter recebido.
Vamos deixar de lado as criaturas que se reúnem nos pátios dos presídios, cujas intenções são as mais espúrias, principalmente porque desejam mais receber o perdão de Deus do que perdoar os desafetos, mesmo porque ali, sob a vista dos sacerdotes e dos guardas, não se sentem ameaçados por ninguém, aliviando a tremenda pressão que os malfeitores criam para alcançarem dominar os demais através do medo.
— Como os espíritos superiores vêem este assunto?
Nós falamos por nós, que não evoluímos tanto a ponto de discorrer com sabedoria a respeito dos sentimentos dos que pairam em esferas mais elevadas. Apenas podemos imaginar, como qualquer leitor, que não fazem nenhuma restrição em chamar à lembrança o nome sublime de Deus, porque conhecem mais que ninguém os caminhos da misericórdia, do perdão, da esperança, da fé, da compaixão, do amor, e contêm os arroubos da ilusão, como suplantaram os instintos da materialidade.
— Não é verdade que tudo quanto se disse pode ser conquistado ainda em vida terrena?
Sem dúvida, desde que se acrescentem os méritos adquiridos através da caridade, porque, sem ela, não existirá salvação. Orar com devoção, repetindo a prece de Jesus, sempre haverá de despertar-nos para as graças eternas do Senhor.



29. A HORA DO RECREIO

O intervalo entre as aulas é ocupado por momentos de lazer, principalmente no desafio que fazemos uns aos outros a respeito de reproduzir as lições exatamente como se encontram registradas em nossos computadores de controle das atividades curriculares. Fazemo-lo com alegria, já que estamos executando o primeiro teste de conhecimentos, os quais, se fôssemos ter de comprovar através de exames, deveríamos responder a todos os quesitos integralmente e sem hesitação.
Mas não é bem assim que correm os estudos nesta Escolinha de Evangelização, uma vez que somos os mais interessados em aprender, comprometidos com a absorção dos ensinamentos para aplicação a qualquer momento em que formos requisitados ao trabalho para o qual estamos preparando-nos.
— Quer dizer que a hora do recreio está bem perto de ser um prolongamento das próprias aulas?
Exceto por não serem obrigatórias as atividades acima mencionadas, é bem verdade que não nos atraem brincadeiras que não tenham nenhum proveito para o bem de nossa formação socorrista.
— E, quando alguém fraqueja, não se fazem arruaças e não se apontam deficiências, ainda que de maneira faceira e gentil?
É claro que sim, muito particularmente porque também estamos exercitando-nos na descoberta das intenções através da leitura do perispírito. Sendo assim, muitas vezes fingimos não saber ou damos respostas equivocadas de propósito, pois tudo representa treinamento ou aperfeiçoamento. O fato é que nos divertimos bastante, voltando para a classe com renovadas forças psíquicas para o aprendizado seguinte.
Quanto às diversões em geral, acima já deixamos mensagem a respeito. Acrescentamos agora que a sisudez das dissertações deste grupo destoam bastante do clima de confraternização e amizade reinantes durante a confecção dos textos. Estamos discorrendo a respeito para não darmos a impressão de que tudo o que fazemos nos sobrecarrega de responsabilidades. Ocorre que temos mentores e preceptores individuais que nos ajudam nas tarefas de cada dia, bem como cabe ao Professor Olivares reunir as experiências particulares, dando relevo às diferenças e às discussões de ajustamento das teses e conceitos.
Esta mesma comunicação só obteve alvará para envio mediúnico depois de acertarmos que a parte final deveria estabelecer que existe muita diferença entre os objetivos escolares dos encarnados e os nossos. Se fosse possível uma comparação, diríamos que o que se faz na Terra visa à formação de profissionais o mais possível aperfeiçoados em função dos lucros e benefícios de certos setores da sociedade, enquanto o ensino no etéreo busca a uniformização dos espíritos quanto à moral elevada, no sentido de encaminhá-los à prática do bem de caráter universal.
— E quanto àqueles que ascendem a círculos mais adiantados?
A esses se atribuem tarefas de muito maior abrangência, cuja extensão exata não estamos em condições de aquilatar.



30. O MARAVILHOSO ESPÍRITA

Desde o nascimento da doutrina espírita, os encarnados se deparam com fenômenos muito estranhos, os quais não se dão à vontade deles. Ao contrário, muitos ocorrem à sua revelia, como arrepios pela presença de algo sobrenatural, como objetos que se deslocam, muitos arremessados contra os observadores, como as batidas decodificáveis, e outros fatos de caráter físico.
Muitos médiuns de formação meramente intelectual acreditam que devem pôr-se a serviço da espiritualidade, para comprovação do poder dos espíritos de forma diversificada, já que lhes fica sempre a impressão de estarem conduzindo as comunicações, por obra e graça de seus próprios recursos, ou seja, por meio de animismo.
Poucos são os que compreendem que, como Kardec explicou, são os espíritos mais gloriosos que solicitam este ou aquele serviço de irmãos menos desenvolvidos, porque possuem vibrações mais próximas dos humanos que lhes servem de trampolim para a consumação dos atos materiais. Aliás, atualmente, os fenômenos dessa natureza são muito mais raros do que na época de Kardec, porque a doutrina está toda descrita em obras de fácil entendimento, onde se lê que preferível a fé que move montanhas à visão de montanhas que se movem.
Quem não acreditar que estes textos têm origem na espiritualidade e que são desencarnados os seus autores deve resguardar-se quanto a tudo o mais que lhes chegar para apoio das convicções, já que estamos atribuindo ao médium que nos serve apenas a tarefa de colocar em vernáculo as vibrações que lhe passamos, muitas vezes com absoluta designação dos termos e torneios de frases que se devem respeitar.
Apenas para debilitar os argumentos contrários, gostaríamos que o nosso caro leitor citasse uma única religião em que nenhum fenômeno se admita como de origem espiritual. Para os espíritas, todos têm explicação lógica e fundamento científico. Para os católicos, por exemplo, as leis de Deus são derrogadas e se dão os chamados milagres.
Chegados a este ponto, ficamos à larga para apontar aquele desejo de obtenção da mediunidade física como resquício, como vestígio, como resíduo de crendices antigas incrustadas na mente ou na consciência, quando não se trata tão-só de demonstrar aos leigos que a razão está em poder dos que cultuam o espiritismo, o que constituiria a transformação dos fundamentos intelectuais em emprego puro e simples da força dos fatos.
Realize, caro amigo, a análise de suas tendências psíquicas e avalie como é que você preferiria ter sido convencido a aceitar as teses espíritas.



31. DA LUZ E DAS TREVAS

Todos nós vivemos em meio à luz e às trevas, como se dá com os humanos. Claro está que não estamos tratando do tema do ponto de vista físico, pois aqui designamos luz como sendo a prática do bem e as trevas, o contrário. A compreensão do que seja o bem e de como se dá sua prática é que nos vai iluminando os caminhos, todavia, dada a imperfeição de que estamos tomados, sempre descaímos em viciações, em medos, em vibrações negativas contra terceiros, ou seja, as trevas.
Vão querer opor ao que estamos afirmando todas as dissertações de caráter elevado encaminhadas aos mortais com o mais alto espírito de solidariedade, todas eivadas de conhecimentos e de lições, todas visando a aliviar as tensões e a orientar o procedimento de forma a se colherem as virtudes nos canteiros da existência.
É verdade. Fazemos nestas manifestações a nossa pregação de mais alto teor moralizante, buscando as diretrizes doutrinárias de mais fácil consecução na área em que atuam os companheiros encarnados. Mas isto não significa que em nossos textos não se achem resquícios de inferioridade, se não no que diz respeito aos conceitos, pelo menos na formulação deles, em matéria de expressão verbal dos sentimentos mais puros, que são aqueles com que nos aproximamos desta mesa.
Logo, porém, assim que deixamos o lugar, nos assaltam as dúvidas quanto a sermos lidos e entendidos; melhor ainda: seguidos e estimados. Gostaríamos de obter a confiança irrestrita dos leitores e de, ao mesmo tempo, incentivar a reflexão sobre os temas, de modo que cada qual passe a agir segundo discernimento próprio, com inteira responsabilidade, já que para nós o peso da incitação ao erro seria insuportável. E isto mais não é do que viver em meio às trevas.
A pergunta irresistível que estamos estimulando será a respeito de como se sentem os espíritos mais evoluídos, os que habitam círculos mais perfeitos, quando percebem que suas ações relativas aos seres de menor alcance moral reagem de forma a transgredir o que lhes foi ensinado.
Pois não podemos afirmar nada que não seja o resultado de lógico raciocínio, ou seja, nada que não possa ser especulado pelos amigos leitores. Sendo assim, vamos dizer apenas que os que estão mais adiantados buscam aplicar as leis que melhor do que nós assimilaram, formando contingente bem mais amplo de amizades, para apoio mútuo, o que lhes propicia conforto físico e bem-estar espiritual.
Estamos descrevendo o paraíso? Paciência, se assim formos confundidos. Ao menos não iremos cair na esparrela de trazer idéias que facilmente possam transformar-se em sentimentos pessimistas. Se cada leitor se dispuser a realizar a transformação proposta, cada um elevando-se um pouco mais, conforme suas próprias forças e com a ajuda imponderável das mensagens, com certeza estaremos envoltos em luz.



32. DAS ARTES

Lendo os nossos textos, farão os leitores muito má idéia dos dotes artísticos do grupo. É que pleiteamos formulações que não se percam pelo floreado nem pela riqueza léxica ou de construções. No entanto, temos companheiros que, sem esforço, dizem as coisas de forma muito mais elegante e equilibrada, utilizando com naturalidade a imaginação, transferindo para os encarnados encantamentos e emoções de alto nível espiritual.
Eis que denunciamos o principal quanto às obras de cunho artístico, ou seja, que a estética esteja a serviço do ideário espírita, o que contraria frontalmente muitas das tendências humanas de ver a obra como busca do belo. Se nos conduzirmos com tal finalidade, priorizando a forma, deixando o conteúdo em segundo plano, não cumpriremos a missão de socorristas.
Sabemos de irmãos que trabalham com textos poéticos de muita inspiração, enquanto outros se dedicam à pintura e à escultura mediúnicas, precisando respeitar as técnicas concernentes a tais estruturas de linguagem ou de expressão, vamos dizer assim. Para estes, mais do que para nós, haverá a necessidade de médiuns capacitados para a realização inconsciente de tais obras.
Estivemos percorrendo diversos ateliês mediúnicos e pudemos constatar que muitos artistas consagrados se dedicam à pintura, poucos, porém, logrando resultados satisfatórios, não só pelo cotejo com as obras em vida, como, principalmente, com as que elaboram na espiritualidade. E não se trata, vejam bem, de enfeitar para atrair, senão que tudo o que fazem traz o sinete de superior habilidade e inteligência.
Se quiserem colocar assim, podemos afirmar que não trabalham para ganhar a vida nem o céu, nem o fazem sob encomenda, a menos que estejam em grupos cujo objetivo seja levar os espectadores à convicção de que devem melhor o procedimento. Por isso, o sentimento do belo, aliado à compreensão do que seja o bom, capta a simpatia, antes de convencer.
Como temos de aperfeiçoar-nos em todos os sentidos, haveremos de passar pelos estudos superiores da criação humana, caso contrário, jamais iremos entender a divina.



33. A PROCISSÃO

Estamos encerrando a nossa participação neste cantinho do universo, deixando esta mesa já com muita saudade, pois aqui passamos alguns momentos de plena realização. Podemos parecer exagerados, no entanto, sempre haveremos de recordar-nos de tudo quanto envolveu o trabalho do grupo e a assistência do Professor Olivares. Estas tardes foram as primeiras de fortes emoções, as quais prometemos repetir com mais consistência e sabedoria, sempre que nos ensejarem oportunidade.
Irresistivelmente, não pudemos deixar de assinalar no título a impressão maior que nos ficou das tarefas que desempenham os alunos da Escolinha de Evangelização junto ao médium. Verdadeiramente, trata-se de uma procissão, porque aqui se enfileiram para as comunicações grupos e mais grupos, com suas preces de sustentação fluídica e com suas vigorosas descargas magnéticas.
Ficaríamos muito gratos se nos permitissem terminar agradecendo a todos pela leitura e pelas conseqüentes sessões de análise dos conteúdos desenvolvidos nas mensagens. Poderíamos dizer-lhes que tenderão a sair em busca de textos mais categóricos e mais completos, porém, por mais que se depararem com mensagens mais inteligentes e mais profundas, sempre haveremos de justificar o impulso que nos coube dar nestas manifestações intrigantes do ponto de vista dos desafios que a turma consignou, trazendo idéias, ou melhor, intuições de novos pontos de vista, para descoberta de outros círculos de pensamentos.
Com Kardec, afirmamos que a lei do progresso tende ao infinito, que é Deus. Com Jesus, atrevemo-nos a considerar a existência como a suprema dádiva do Criador às criaturas, muito embora aos encarnados abundem sacrifícios e trabalhos, tanto no campo material, quanto no plano espiritual e moral. Aprendamos a proteger-nos uns aos outros, favorecendo a prática do bem por amor aos semelhantes, ainda que não esteja em nós o poder de apaziguar a humanidade. Confiemos em que esteja tudo sob superior controle, de sorte que o desassossego de um dia haveremos de esquecer, no gozo da bem-aventurança eterna.
Muito obrigado!
Indaiatuba, de 13.03 a 03.05.02.

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