Está tudo errado. Não sei... Está tudo errado mesmo ou o mundo todo está contra mim?... Não querem que eu seja feliz, mas eu insisto. Não sei falar direito. Que importa!... Eu sei que tenho um pequeno pobrema de trocar os erres pelos eles. Não consigo falar bicicreta desde que eu era criança. Entrei até pra aula de ingrês para ver se melhorava - foi pior. A minha ex-noiva, com quem já estava de casamento marcado, brigou comigo uma vez porque, numa tarde, quando estávamos ouvindo um pianinho tocando, eu tive a infeliz idéia de comentar:
- Linda ópera!
Ela foi logo me corrigindo, dizendo que não era ópera coisa nenhuma, aquilo era música crássica. Ora, tudo não é a mesma coisa? Tudo não é música? Mas tudo acabou mesmo semanas mais tarde, quando eu afirmei para um grupo de amigos que não havia diferença nenhuma entre kama-sutra e dalai-lama. Dizendo-se envergonhada em público, ela não quis saber mais de mim. Tirou a aliança do dedo, atirou na minha cara e desapareceu de uma vez por todas.
Ontem, no quartel, outro incindente culminou o meu desentendimento com o mundo. O coronel me chamou e me perguntou desconfiado o que eu tinha feito na noite anterior. Eu fui sincero e disse-lhe que fui ao Teatro Municipal ver um balé. Animado com a cara dele, soltei o discurso e disse que o nome da peça era Giselha e tinha uma parte que um bailarino dançava com uma menina e que era tudo que eu queria descobrir, era toda a minha curiosidade. Ele foi logo bradando comigo dizendo que balé era coisa de viado. Onde já se viu sargento do Exército indo ao Municipal?!!!
Quanta raiva sem nescessidade! Por que aquele ódio??? Uma coisa tão bonita: duas pessoas dançando com tanto ritmo!!! Não adiantou meu argumento: fui mandado embora assim mesmo, sem conversa nem expricações.
Não importa o que aconteceu comigo ontem. Hoje vejo o mundo melhor e me sinto bem. Não me importo de ter sido expulso do Exército só porque fui ver um bailado. O que valeu pra mim foi ter descoberto esse tal de paz-de-deus.
