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cronicas-->Perdido na Metrópole (34) O Varredor Assassíno -- 27/09/2003 - 12:28 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Todos os dias, em frente ao meu ponto de ónibus de sempre, o ecossistema urbano achou por bem colocar, na calçada, um homem com uma vassoura (provavelmente o zelador de algum prédio). Fico ali, feito poste, ainda meio grogue de sono, aguardando o coletivo que me leva ao trampo, e o simpático senhor varrendo, jogando em minha direção uma considerável quantidade de poeira e outros "bichos" que sujam. Como se nada fosse! Legal, não? Minha calça preta chega cinza ao serviço. Ele quer me varrer do mapa, mas não conseguirá. "O Varredor Assassino - A Missão".

Por falar em calçada, elas agora são também ciclovias. Alguns esportistas da geração saúde insistem em trafegar em meio aos pedestres. Querem atropelar o magrela (eu) com suas magrelas (as bicicletas). Um dia acabarão conseguindo. Se bem que estou mais esperto ultimamente. E para atropelar alguém tão magro quanto eu, precisa ser muito "grosso" no guidão.

As bicicletas tiro de letra. Tenho carregado comigo um espelhinho retrovisor preso à testa.

Meu trauma maior, entretanto, tratando-se de calçadas, é outro. Quando, caminhando absorto, pensando em Buda e Gandhi, em Nirvana total, viajando na marmelada, passo por um portão de uma casa qualquer e um adorável e singelo cãozinho (geralmente pit bull) solta, de repente, aquele latido do tipo Pavarotti raivoso, entro em colapso nervoso crónico. Da última vez que algo semelhante me aconteceu, o susto foi tamanho que subi, involuntariamente, no primeiro poste que encontrei. Virei alpinista rapidinho, sem querer querendo.

Bom, quanto aos camelós que tomaram conta dos passeios públicos nem é bom falar muito. Não tenho nada contra estes comerciantes informais, até faço compras eventuais em seus shoppings a céu aberto. São ótimos vendedores. Alguns deles, melhores que muitos balconistas de grandes lojas legalizadas. Creio, porém, que não está bem certo alguém instalar um estabelecimento comercial, pagar imposto até para respirar dentro dele, e alguém, vindo do nada, aparecer e montar uma barraquinha bem em frente, vendendo os mesmos produtos à baciada, por um preço infinitamente menor, sem qualquer encargo.

A lei na minha metrópole é vender de tudo a toda hora. Ainda não vi ninguém vendendo a própria mãe! Ainda!

Tive o prazer de conhecer um cameló-farmacêutico. Helena, a minha vizinha portuguesa, estava com pedra nos rins e muitas dores. Bastou uma perguntinha ao vendedor para ganhar uma consulta no meio da rua mesmo:

- O que o senhor aconselha para pedra nos rins?
- O doutor tem pedra no rinho? Tenho um santo remédio!
- Não sou eu que...
- Vou curar o doutor já. O doutor deve fazer o seguinte...

Ele que estava dando uma de médico e eu que era o doutor. Tudo bem! Sugeriu um chá, misto de quebra-pedra, abacate e cabelo de milho. Helena tomou isto tudo e não morreu. Por enquanto! A lusitana gaja não reclamou mais de pedra no rinho.

No ónibus, aboletado no assento, a caminho de casa, noto um cartaz com uma foto do Luciano Szafir, o pai da Xaxa, apontando em minha direção como que dizendo.

- Se eu fosse estudar inglês em São Paulo, faria o curso tal.

Assim ficou fácil fazer propaganda. Também quero entrar neste mercado.

Agora sou marqueteiro. Vejam as pérolas que criei inspirado no quase marido da Xuxa..."Se eu fosse árabe e morasse no deserto do Saara, compraria os camelos da marca tal". - "Se eu fosse um americano milionário só comeria os sucrilhos da marca flambers com leite condensado x e pasta de amendoim y, para acompanhar meu ovos com bacon de todas as manhãs"(arghhhh!). Assim é moleza fazer propaganda!

Estou pensando seriamente em mudar de ofício. Recebi o primeiro e-mail - crítica (nada construtiva)! O leitor em questão disse que o que escrevo é uma droga melada - romàntica demais. Que eu deveria escrever para a revista Ana Maria. Fiz que não entendi o recado! Nada contra a Ana Maria. Muito pelo contrário. Só não estamos lá (eu e o Bruno) porque ainda não nos chamaram!

Reagi à crítica de maneira adulta, madura e profissional. Entrei em depressão de novo. Chorei quinze dias seguidos. Vou me aposentar! Vou ser cameló, varredor ou marqueteiro de coletivo!

Já sei! Serei apresentador de TV! Tem lugar vago! Prometo jamais entrevistar alguém de capuz!

Não! Melhor! Vou vender Bíblias. Ótimo ofício para um gago! Se o cliente não quiser comprar ameaço lê-la por inteiro a sua frente. Sem pausa para descanso! Venda certa!

Poderia ajudar o varredor que não vai com a minha cara. Segurando a pá! Má idéia!

Que tal cameló? Não levo o menor jeito. Até eu conseguir abordar o papapa...passante...Ele já passou!

Vou abrir um restaurante! Especializado em macarrão instantàneo, pipoca de microondas e chá de camomila. Falência certa!

Passou! Prosseguirei perdido na metrópole e assessor de imprensa de banda de rock, firme e forte.

Minha mãe continua lendo meus artigos. E gosta!

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista. silvioalvarez@terra.com.br
Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br
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