Nina- Cenas de Uma Cancioneira ( Romance) : Piedade Carvalho: Rio de Janeiro: 7 Letras: 2000. 189p.
Por: maria do socorro Cardoso Xavier
Obra ficção e realidade, permeando-se; na qual a autora demonstra conhecimentos universais, embasada em teorias filosóficas - Finalmente no universal está contido o local e no particular, o geral. - vai adequando a bela saga dos seus ancestrais. Heróis poetas de sua predestinada árvore genealógica.
Encontrou uma forma poética e original de contar e encantar com suas estórias - cenas de vida da sua família. Forma lírica de cantar sua aldeia. Por isso seu livro é belo! Quebra e une as fronteiras da realidade e do sonho!
A saga inicia- se com o casal que deu origem a árvore genealógica da família de vates: dois seres em terra árida. O "não ter nada" e o "contemplar o céu" parece ter gerado a poesia. O amor, cuja semàntica é o labor, segundo a autora. Gerações e gerações de poetas gestados a partir da serra paraibana. A inteligente autora vai narrando de forma agradável e filosófica, até musical e poética, perfilando os personagens que marcaram esta família inspirada. Originária da península ibérica; sangue mesclado de mouros, em terras nordestinas, o índio e o africano, - o chão rachado e o céu azul, o amor: - instinga-lhe a inspiração poética. As canções de gesta medievais!
O livro, este inefável romance é uma prosa poética! Um tratado de filosofia prática, de vida, de existências! O livro é uma surpresa só. Quando o sonho vai longe, a autora falando pela sua tetravó, acorda para a realidade, já os tetranetos chegando. Utiliza várias vozes, vários discursos, em tempos diferentes, dialeticamente, para tudo convergir e unir: desconstruindo para construir. A história de sua família: verdadeira aventura poética, nem sempre bucólica, pela dureza do caminho e das circunstàncias sociais e políticas, envoltos. Conjuntura e estrutura.
Apaixonei-me pelo livro, pelo romance, pelas cenas. Verdadeiro romance semiótico. A autora pinta quadros, toca músicas, epístolas e declama poemas - deixando o leitor em contato enlevado com as histórias dentro da História , sem se cansar. Quanto mais eu lia, mais queria ler a próxima cena.
O livro é meiguice e verdade! É fenomenologia, psicanálise, erudição e sabedoria! Inspirada por quantas musas. ... Pudera! herdeira dos vates ancestrais! Qual arrebatamento poético, escreveu esta obra impar: Nina: Cenas de Uma Cancioneira! Soube unir contrários: aliou paixão a razão. Dialoga com a vida - as pulsações artísticas e especula com a filosofia,- ensinamentos que norteiam o mundo, sob narrativa original, multifacetária.
Há tempo não lia romance, tão incomum, diferente dos tradicionais. Genial! Narrativa apaixonante, filosófica, até didática. Mais impressionante até, do que Cem Anos de Solidão do escritor Gabriel Garcia Marques. Por sinal cotejei uma semelhança com este e com a narrativa de Umberto Eco, no romance O Nome da Rosa.
O romance termina com o encontro inefável da tetravó com a tetraneta, de mesmo nome: Nina!
A literatura brasileira está de parabéns por obra tão meritória, emocionante, descontraída e profunda! Uma prosa plena de poeticidade! O onírico e o palpável se entrelaçando e encantando!
|