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Contos-->O SEGREDO DE NEIDE -- 04/12/2000 - 11:25 (Cristal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Neide. Lá estava ela. Refastelada no sofá com suas banhas bronzeadas, roupas de laycra (por que será que todo gordo usa estas roupas?) coladas ao corpo evidenciando ainda mais o que ninguém quer ver: As banhas, os pneus.

As malditas banhas!!! Sentia-se horrível naquela segunda-feira, mais do que o normal de sempre. Assistia seção da tarde. Com a mão fofa, pegava mais uma porção de pipocas e enfiava pela boca. Pipocas que desciam garganta abaixo como se caindo livres por um túnel ou um cano pvc 100mm.

Ela resolveu mudar de canal, para a televisão a cabo.
A programação normal estava "muito lixo", como ela dizia. Passando canal por canal, só para ver o que estava passando em cada um. Cartoon, notícias, bichos... Assim o tempo passava e assitia a todos ( e a nenhum ) ao mesmo tempo. Até que seu dedo gordo parou naquele botão por alguns segundos. Aquela imagem ficou. Largou a bacia de pipocas que tombou para o lado. A partir daquele momeno Neide, nunca mais foi a mesma. Era o efeito Nicolas Cage.

No outro dia estava na academia. Sete horas da manhã. A recepcionista perguntou:

"Não te conheço?"

"Estou começando hoje." Disse animada e confiante.

A moça preencheu a ficha pensando. Com aquele monte de gordura, a primeira aula certamente seria a última. Mas Neide não. Montou naquela bicicleta e pedalou, pedalou e pedalou, como se nunca tivesse pedalado na vida, e nunca tinha mesmo, sorte que aquela bicicleta não saia do mesmo lugar.

O suor escorria pelo rosto recém saído dos seus cabelos molhados e encaracolados. Depois foi a vez daqueles aparelhos. Estica, encolhe. Puxa, sobe, desce, peso, menos peso, mais peso, trinta vezes, se não der, quinze, tenta vinte. O professor ficou com medo e não quis forçar. "Vai com calma" Pensando internamente.

"Será que ela vai aguentar..."

Em sua casa no outro dia na hora do almoço... O marido estranhou. Viu só aquela saladinha no prato dela.

"Neide, meu benzinho, você está doente?"

"Não... Estou ótima."

"Mas o que é isso?"

"Isso o quê?"

"Essa comida..."

"O quê que tem?"

Ele perguntou incrédulo: "Você está fazendo aqueles regimes malucos denovo?"

"Eu. Não... Só estou sem fome mesmo. Não se preocupe."

"Ele se deu por satisfeito. Amanhã tudo volta ao normal..."

Mas não voltou. Depois de uma semana, ele já estava cheio. Chegou para o almoço, destampando as panelas no fogão:

"Neide. Não aquento mais essa comida! Cadê a minha costeleta de porco? O meu bife a parmegiana, suas almondegas ao molho?
Neide, não aguento essa comida diet mais! Por favor, eu quero comer arroz com feijão, alface, tomate, bife, batata frita, entendeu?. Aliás, dispenso o alface, não aquento ver alface na minha frente mais!!!
Neide, o que está acontecendo nessa casa? Só se come verdura!?! Eu não sou coelho!"

Ela calmamente chegou a cozinha:

"Meu bem. Se você não quer comer em casa, por mim tudo bem..."

Ele ficou nervoso, bufando, não tinha palavras. Catou a maleta e saiu para não dizer o que não devia.

Ela pensou: "Isso passa. Mais tempo para malhar enfim..."

Ela quase não pesava. Sabia que ia chegar lá. As roupas começavam a cair. As pregas diminuiam. O professor na academia agora mais confiante não tinha dó.

"Vai Neide, vai. Só mais um, só mais um."

"Mas não era 40 que você tinha falado?" Ela perguntou.

"Nãooo!! Era 50 abdominais!"


E ela ia, todos os dias academia, como uma beata vai a igreja.

Depois de dois meses já estava fazendo academia 2 horas por dia. Dos 80 quilos já tinha descido 20 na balança. Estava alegre e todo mundo via isso.

Ela agora sempre no final do dia ainda animava dar uma corrida no parque da cidade. Naquele dia chamou a vizinha para companhia que por sinal já estava preocupada com aquele emagrecimento repentino dela. Nâo será doença... Pensando nisso, perguntou:

"Neide, o que está acontecendo. Você está doente?"

"Não..."

"Neide, me conta, você tá separando do João Alberto?"

"Não."

"Pode falar... Se abre comigo, amiga..."

"Não, já disse que não. Está tudo bem no meu casamento."

Márcia continuo insistindo...

"Então Neide, o que você está acontecendo? Você foi a algum médico?"

"Nenhum...Juro!"

"Não acredito! Vai, me conta. Sou sua amiga... Que regime você fez?"

"Tá bom! Tá bom! Eu conto, é segredo. Mas não vai rir heim?"

O olhar da vizinha foi vitorioso.
"Rir? De quê? Juro que não conto para ninguém..."

"Bem, comigo funcionou. Não sei se com você vai dar certo..."

"Como assim? Não estou te entendendo..."

"Fiz regime por causa do Nicolas..."

"Nicolas??? Ah. Eu sabia! Tinha outro no pedaço!"

Neide ficou séria quase parando de correr.
"Sabia do quê? Que isso, Márcia? Não é o que você tá pensando não..."

"Como não é? Não vai me dizer que não tem outro..." Disse Márcia com uma cara marota.

"Não é bem assim..."

"Como não é bem assim? Agora sou eu quem não estou te entendendo? Como é, só paixão platônica? De onde ele é, onde o conheceu?"

"Quer saber mesmo? Na televisão..." respondeu Neide.

Mas Márcia não deixava Neide falar de tanta apreensão. "Como, na televisão?"

"Não, Márcia, o negócio é o seguinte, ele não me conheçe e..."

"Ah! Eu sabia, eu sabia, só paixão platônica! Nossa, mas ele deve ser um gato, para fazer o efeito que fez. Quem é, posso saber?"

A conversa estava ficando difícil e Neide resolveu sugerir:
"Amiga. Vamos sentar." Neide pegou Márcia pela mão quase arrastando-a. Já estavam cansadas de tanto correr pelas trilhas. Embaixo de uma grande árvore haviam mesinhas com cadeiras. Algumas famílias cheias de crianças ao longe faziam pique-nique. Dirigiram-se para lá e se sentaram.

"Vai, me conta essa história direito, quem é esse cara?"

"Não tem cara nenhum. É o seguinte. Sabe o Nicolas, o Nicolas Cage? Aquele que fez o filme "Feitiço da Lua?""

"Sim, sei, conheço esse ator...O quê que ele tem?"

"É o regime do Nicolas Cage. Eu que inventei..." Disse Neide mais calma.

Aah, ha, ah, ah, rá!!!! Márcia caiu na risada sem parar.

"Márcia pára de rir. Eu pedi para você não rir..."

"Tá bom, vai, conta outra? Eu sei, cê tá brincando... Disse Márcia. Não existe regime do Nicolas Cage mesmo!"

Neide perdeu a paciência, mas continuou...

"Amiga. Você não está entendendo... Eu inventei. Eu fiz o regime inspirada no Nicolas Cage. Simples. Eu estava assistindo um filme dele e quando ele apareceu na tela... Ele é não é lindo? Charmoso? O homem que toda mulher quer, não é? Aquele rosto, aquela voz macia... e o copo? Então eu fiz meu regime pensando nele. Simples viu? Não te falei que era simples..."

Márcia ficou espantada. "Não acredito! Não pode ser só isso!!"

Mas Neide continuou:
Pode sim!!! Um dia eu vi ele na televisão e eu imaginei tudo...Eu imaginei assim: Neide, você ganhou uma passagem para os EUA e vai conhecer o Nicolas. Então eu fiquei pensando. Ah! Ele não vai gostar de mim assim, gorda, pneuzuda....Eu não poderia estar daquele jeito, ele iria me detestar, nem iria olhar para mim. Eu queria estar bela! Não é a toa que no filme a mocinha é sempre esbelta....ágil, magra...."

"Menina, mas que loucura! Isso é uma coisa tão impossível...Que idéia..."

"Possível ou não, eu estou magra, não estou?Toda vez que eu estava lá naquela academia, levantando pesos, eu imaginava o Nicolas na minha frente.
Toda vez que eu pensava em tomar aquele sorvete de chocolate eu pensava nele caminhando em minha direção...
Via a cervejinha no bar e eu pensava: Nicolas! Nicolas, me espera, eu vou ficar magra!"

"Menina, mas você perdeu 20 quilos! E o João Alberto? Não animou de fazer regime também agora que você está magra? Não desconfiou de nada não..."

"Não, nem sonha! Ele não pode saber que é por causa do Nicolas... Vai morrer de ciúmes!" Disse Neide marota. "Vai me proibir de assistir televisão..." "Imagine, ele vai é querer arrumar uma Sharon Stone para emagrecer!"

"É verdade. Mas, Neide, esse tipo de regime de certa forma não é um tipo de traição?"

"Ah, sei lá, mas se for, bem, isso é outra história...O que interessa, é que eu emagreci...não é mesmo?"

FIM

Título original: O segredo de Neide
Geórgia M. Neddermeyer
Em algum dia de 1999.
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