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Erotico-->39. ARI SE HABILITA A AUXILIAR DE SOCORRISTA -- 15/10/2003 - 06:17 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Depois de muito lutar para a compreensão das razões por que não tinha domínio sobre a própria vontade, Ari deduziu que estava tendo coibida a liberdade de agir, para resguardo contra si mesmo. Desde que obtivera suficiente força para aparentar a idade de vinte e poucos, conforme estão os leitores a par, buscou os bancos escolares para aprender os rudimentos das leis cósmicas, quais sejam, necessidade de realizar o bem, à medida que estivesse requerendo os mesmos direitos para si, lei de causa e efeito e seus reflexos nas encarnações, segundo os objetivos específicos determinados pelo próprio indivíduo, leis de justiça, de trabalho, de conservação, de destruição etc. Em suma, passou pelo catecismo espírita do etéreo, adquirindo a noção de responsabilidade, despojando-se dos desejos incoerentes de sintonia com a perversidade e com os vícios, recordações que se despertavam das derradeiras romagens terrenas, a forçar visões íntimas dos sentimentos impuros que o haviam levado ao ódio aos inimigos.

Por outro lado, revisou, de maneira fortemente impregnada de culpas, todas as noções morais, éticas e religiosas, que aprendera através do intelecto mas que não aplicara nas situações de vida real. Repassou os Evangelhos, na companhia de colegas de mesmo nível vibratório e com as mesmas lacunas espirituais, sendo levado pelos professores a considerar profícuo um estágio junto aos socorristas em atividade na crosta terrestre, próximo passo no sentido da percepção dos desvios da personalidade, para o que teria de fazer-se discípulo de algum protetor da própria família.

Foi assim que teve oportunidade de abraçar o velho Saldanha, cuja figura se apagara na memória do jovem e que renascia com o poder de censura que ia adquirindo e administrando.

— Vejo, meu querido sobrinho e bisneto, que você, com a graça de Deus, se recuperou dos transes provocados pelas drogas. Já esteve no Departamento de Recuperação da Memória para deslindar os fatos que o conduziram a um precoce suicídio?

— Caríssimo protetor, tenho consciência do que fiz de errado, inclusive pude observar, na tela do passado, a revivescência dos momentos que antecederam a ingestão da dose letal de cocaína e da impotência do amigo para me chamar ao reto caminho do dever do carma a que me obrigara por compromisso de reencarnação. Vi que você fez o que pôde, inclusive apelando para setores especializados da colônia. Também tenho de agradecer-lhe o desvelo dos primeiros tempos, porque, sem a sua ajuda, eu teria caído diretamente nas trevas mais profundas de minha petulante personalidade. Deus lhe pague, querido irmão!

Mas Saldanha não estava para efusivas manifestações sentimentais, inteiramente imerso nas atividades de acompanhamento dos sucessos que envolviam o pupilo Plínio, agora complicadas ainda mais com a obrigação de orientar o Ari. Por isso, destacou o trabalho, a ver até onde iam os conhecimentos do aluno:

— Está você a par da vida de seus familiares?

— Sim. Primeiro o Doutor Edgar e depois os mestres da Escolinha de Evangelização me ofereceram subsídios históricos, sem os retratos morais relativos à sucessão de ações e reações, tendo em vista a formação de suas personalidades.

— Você está me dizendo que não estudou o quadro geral.; apenas contemplou alguns episódios recentes?

— Isso mesmo.

— Acho que não vamos ter tempo para digressões. Contente-se com as suas reminiscências e observe tudo o que lhe representar justa expiação ou desafio a vencer. Vou descerrar-lhe o panorama de vida de Plínio, seu pai, mas não me faça nenhuma pergunta, porque estarei atarefado com os choques que vem recebendo da sorte, uma vez que o coitado se sente desprestigiado exatamente pelas pessoas em quem mais confiava dentro do movimento espírita.

Ato contínuo, Ari se encontrou ao lado do pai, dentro do automóvel, retornando cuidadoso para o lar.

Saldanha colocou a mão sobre a cabeça de Plínio e Ari pôde ler-lhe os pensamentos eivados de profundas comoções sentimentais. Penalizou-se com a ênfase que o progenitor dava ao serviço mediúnico posto em xeque e com a anulação da idéia de substituto de Chico Xavier.

Anotou sua primeira questão:

“Plínio está demonstrando profundo orgulho ou legítimo interesse em servir à humanidade?”

Uma palavra chamou-lhe a atenção no texto memorizado:

“Por que, sem sentir qualquer tendência afetiva positiva ou negativa, não chamei Plínio de meu pai?”

Não conseguiu desvendar o mistério e, quando percebeu, Plínio chorava nos braços de Margarida.

Ari contemplou as ondas de amor que se fundiam e se evidenciavam para os seus olhos de novato, julgando que os laços que uniam os pais eram bastante fortes para mantê-los juntos até para além da vida. Anotou, então:

“Se existe a felicidade conjugal, por que os entreveros mundanos causam tanto distúrbio e desequilíbrio psíquicos? Não há, no fenômeno moral, um quê de egoísmo e de vaidade?”

Ao mesmo tempo, vinham-lhe à mente os momentos de paz no hospital do etéreo, quando a mãe, em espírito, ia visitá-lo. Algo precisava ficar anotado, para a intuição não se perder:

“Não teria sido preferível, ao invés de me mostrarem posteriormente os quadros dessas visitas, que me tivessem despertado no justo instante em que minha mãe comparecia?

Subseqüentemente, incluiu outra observação:

“Disse minha mãe e não Margarida e pude observar certo frêmito de alegria em designá-la assim. Por quê?”

Introjetou-se de novo, de sorte que, quando despertou, aliás sem resposta definitiva para a inquirição psíquica, estavam os pais discutindo acaloradamente a respeito de algumas teses espíritas. Foi quando observou que Saldanha acalmava os ânimos, enviando fluidos de muita paz em ondas de harmonia, entre as quais o rapaz pôde reconhecer a sua própria figura envolta em halo de superior luminosidade. Olhou para si mesmo, vendo que seus reflexos externos não tinham nem um pouco do brilho que a figura idealizada emitia.

Entretanto, não quis perder o andamento da conversa entre os mortais, de sorte que não fez nenhuma anotação.

Dizia Margarida:

— Eu sei que existem espíritos e que as entidades que se manifestam são as almas dos que viveram e morreram. Sei que, se fossem demônios, não dariam conselhos bons e só estimulariam o ódio, o sentimento de desforra, o desejo de vingança. Mas também existem espíritos levianos, zombeteiros, não muito maus, mas perfeitamente enquadrados entre os de baixa categoria. Eu li a escala dos espíritos de Kardec. Mas você não pode negar que o Codificador preveniu quanto aos maliciosos, os rancorosos, os ardilosos, os malfeitores, os gananciosos, os perversos, os malfazejos, os cínicos...

Se Plínio não a interrompesse, elevaria a lista a muitas dezenas de qualificações pejorativas:

— Daí a dizer que o meu amigo “João Evangelista” está mal intencionado vai uma distância incrível. Só porque veio retratar-se...

— Esse é o problema. Você acha certo que uma entidade de tanta luz, de tanta perfeição, discípulo muito amado do Cristo, volte para demonstrar aos mortais seus próprios erros? Você não acha que ele já deve ter superado, em dois mil anos, todos os traumas provocados por seus equívocos terrenos? Nós, que somos tão inferiores, não temos encontrado conforto em simples palavras que nos asseguram que o nosso Arizinho está bem, desenvolvendo-se através da assistência dos protetores e dos benfeitores de luz, ele mesmo adquirindo uma aura de forte brilho, porque sofreu e se depurou dos males que nos causou ao desencarnar tão jovem?

— Se Arizinho pudesse manifestar-se através de mediunidade, o que nos diria ele? Se dissesse que foi o próprio apóstolo quem trouxe as fatídicas mensagens, você se persuadiria?

— E quem está apto a repetir o que ele teria a nos dizer? Não você, meu caro, que está transtornado. O momento mediúnico tem de ser realizado em absoluta tranqüilidade...

— Esse é um preconceito. Kardec não disse isso em lugar nenhum. Aliás, esteve num teatro junto a um médium vidente, que conversou com um espírito brincalhão e que lhe transmitiu as notícias da entidade, em meio à enorme confusão da peça e dos espectadores. Você estava presente à conferência do Severo.; não estava?...

— Agora está dizendo que é capaz de, perturbado como está, entrar em contato com o nosso filho? Só faltava essa. Se fizer isso, vai ter de trazer informações muito sérias e, assim mesmo, vai ser difícil de aceitar como verdadeiras, porque eu acho que você está pronto para inventar histórias.

Ari fez menção de passar algum sentimento íntimo ao Plínio, para demonstrar que estava realmente ali, todavia Saldanha interveio, pondo-o a par de que isso daria motivo para novas discussões entre os encarnados.

Plínio, por seu turno, acrescentou:

— Eu compreendo muito melhor do que você como é que se dá a transmissão entre os planos. Fiz isso várias centenas de vezes, recebendo todo tipo de seres que se expressavam por escrito. Até um analfabeto veio ditar uma cartinha muito afetuosa aos filhos. Pena que tudo se perdeu no incêndio. Agora estão querendo impedir-me de trabalhar para recuperar...

— Você já se perguntou se não houve a intervenção do seu protetor, no intuito de preservá-lo de mais aborrecimentos?

Ari despertou para um sério entrave nas comunicações e registrou:

“Não estou reconhecendo as expressões de minha mãe como próprias de seu psiquismo ou de sua desenvoltura mental. Será que ela diz as coisas num dialeto diferente daquele que capto? Explicando melhor: será que a minha capacidade de raciocínio interfere de imediato nas imprecisões vocabulares dos falantes, corrigindo as falas, no sentido de traduzi-las com mais veracidade dentro do meu universo de conhecimentos?”

Ao despertar para a realidade, verificou que amanhecia e que os espíritos dos pais se acomodavam de novo nos corpos.

“Por onde terão andado e que descobertas terão feito?”

— A essa questão eu lhe respondo já — informou-lhe Saldanha, ao seu lado. — Eles estão buscando colônias no etéreo em que predominam ex-filiados às crenças protestantes e ao movimento espírita. Se você achar oportuno, resumo as tendências dos dois, porque estão sendo cativados para ambas as realidades.

— Se me permite escolher, caro amigo, vou preferir segui-los numa próxima peregrinação.

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