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Teses_Monologos-->Reescrevendo "Sai pra lá, Maria Kafka! (3) -- 07/02/2003 - 22:55 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Recém-egressa do papel de Sissi, a meiga imperatriz adolescente do Império Austro-Húngaro, que provocou suspiros e lágrimas de esguicho por três episódios de uma série famosa, que salto não terá sido, para Romy Schneider, trabalhar com Welles em "O Processo".

Entre os guardados de um sótão, sua personagem, Leni, pratica uma das raras cenas de sexo de uma obra, a de Kafka, repleta de alusões vagamente homoeróticas e assombrada pelo pavor adolescente ante a descoberta, pela mãe, dos lençóis maculados por poluções noturnas ou pelo vício solitário.

A questão, para Peter Handke, era saber se o "Filho Eterno" nunca terá tido espinhas. Em "O Castelo", o sexo é praticado atrás do balcão da estalagem, entre caixotes, garrafas e poças de cerveja.

Assim, é atrás de migalhas que se esfalfam os exegetas da vertente psicanalítica, que, sem ganhos expressivos, só faz engrossar a enxurrada das interpretações psicologizantes. E isso, muito depois de Hans Mayer ter perpetrado o seu: "Kafka ou Pela última vez psicologia".

No plano da realidade, Romy contracena com "o filho que era a mãe" (na piada, esse o título de "Psicose" em versão portuguesa). A escolha de Anthony Perkins para viver Joseph K. nunca foi engolida pela crítica, sua composição, considerada histérica, sendo recebida como traição à sobriedade da linguagem protocolar de Kafka. Só depois de morto, com tudo o que se soube acerca de seus complexos, angústias existenciais e homossexualismo problemático, é que sua atuação passou a ser redimensionada.

Na "Trilogia Kafka", que Gerald Thomas criou nos anos 80, consigo localizar, de memória e muito à distância, algo do humor que Polanski aponta como perdido para a recepção ocidental. Tendo sabido apreender o elemento caricatural da criação kafkiana, Thomas povoou de cinzentas personagens de pantomima a imensa biblioteca que concebeu como cenário. Aos pares ou em trio, elas passavam o tempo a tricotar ou a repetir, mecanica e sincronizadamente, os mesmos gestos grotescos.

Em "O veredicto", há outra cena que talvez não tenha sido ainda devidamente percebida como de comédia. De camisola, enfermo e dominador, o pai ancião saltita acintosamente sobre o leito, para melhor torturar o filho, que, em desespero, desce correndo a escada, chega até a rua, apressa-se até a ponte, de onde haveria de se projetar, para cumprir a formidável condenação paterna que sobre ele desabara. Num típico epílogo kafkiano, o último parágrafo faz saber que a cidade vivia o seu normal, com o tráfego a fluir regularmente pela ponte e arredores.

É a mesma tranqüilidade com que a família, liqüidado o "inseto monstruoso", sai a passear pelo parque ensolarado, ou o artista da fome, em narrativa homônima, é varrido com a palha da jaula onde ocupara o lugar de uma pantera.

A interpretação sociológica, que norteou a leitura de Welles, teria vida longa. Pelo viés da Teoria Crítica, que, redescoberta pela geração de 68, continua a inspirar gerações de leitores, o autor tcheco não faz senão relatar o percurso sinistro de uma sociedade que caminha para ser totalmente administrada.

Mas a gravidade das conseqüências não descarta o grotesco dos desdobramentos possíveis. Não deixa de ser engraçada, como no filme de Welles, a visão futurista dos enormes espaços fascistas, a abrigar miríades de outras Marias Kafka.

Das experiências totalitárias de direita (nazi-fascismo) e de esquerda (socialismos diversos), ao neoliberalismo econômico que veio a um só tempo coroar e pôr em xeque o capitalismo, sabe-se quanto os tropeços de um pensamento único e as trapalhadas da burocracia podem servir de inspiração ao humor dos cartunistas. Haja inseticida! Ou vassouradas!
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