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Poesias-->HILÉIA - poemeto épico amazônico -- 02/07/2005 - 10:20 (Jayro Luna) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
HILÉIA

(poemeto epíco-epifânico-ecológico da Amazônia - 1988)



I – Noctigênesis



A cria da Cobra-Grande

Não queria dormir com o noivo

Sob as vistas de Guaraci.;

Não havia o escurinho.

Era o Sol abraçando o dia.

A cria da Cobra-Grande

Mandou buscar a noite.



Jabuti, Cururu, Tamanduá

E a Onça Pintada

Entraram andando no mato:

Andaram... andaram...

Seguiram de canoa:

Canoaram... canoaram...

No onde-acaba-que-termina o igarapé

Cobra-Grande coco de tucumã deixou.



Dentro do coco é que estava a noite

Xé – xé – xé... tém – tém – tém...

Seria a térmita Sarará-cambigique?

Quem sabe os primos do sapo-cururu?

Ou então as Maniuaras

E os bichinhos-candeeiros do Uratau?!



-“Quem tem pressa come cru e quente” –

(Já pensava mais ou menos assim,

mas por outras sentenças, o Strauss)

Quebraram o coco de tucumã,

Cabrummm! Cataprummm! Pum! Pum!

Estrondo de trovão Tupã-Cunenga!

Tudo tingido de escuro,

Todo pau virou bicho do mato

Ou então saía voando...

Táp! Táp! Táp!

Noivo corajoso se cobriu de medo.;

Da cor encarnada do tanino

Que cai na água dos igarapés

Surgiu o sangue que deu vida aos peixes.



A cria da Cobra-Grande

Tirou uma só trançinha da cabeça

E pôs mágica,

Essa é a madeixa pequenina

Que a gente nem pode ver,

Que separa a cara do dia

Do véu da noite.



Jabuti, Cururu e Tamanduá,

Por causa de serem curiosos,

Cobra-Grande mudou suas aparências

Em macacos pançudos por uma noite,

Só a Onça Pintada que era sabichona,

Escapou-se mato adentro se esquecendo dos sapatos

E viu a primeira noite.



II – Uapê-Jaçanã



Os candeeiros da Jararaca

Acendiam no céu,

A Coiré também, despertando saudades.

Cada astro era uma índia bonita

Que tinha se casado com Jaci,

Jaci era um tuxaua pulcro e corajoso,

Que vivia as noites voando no Céu.

Nacaíra dos Maués bem prá diante, veja!

Janã dos Aruaques pras bandas de cá, veja!



Uma dia Naiá, virgem venusta

Deu de não aceitar pedidos de núpcias

De três pretendentes.

Era o tempo da Enxó-cheia-de-penas,

Na mata amadureciam o uacum e o miriti.

Naiá queria se casar com Jaci do Céu.



Naiá quedava-se todas as noites

Vigiando o céu...

...Passaram-se as noites

..........Do Passarinho-muito-bonito,

Naiá vigiando o céu...

...................Do Caranguejo-muito-bonito,

Naiá vigiando o céu...

..........Do pedaço-de-candeeiro-do-céu,

Naiá vigiando o céu...

...Da Garça-da-enchente,

Naiá vigiando o céu...



Naiá ia depressa pro mato

Pra ver se pegava o horizonte,

E depois se atirar no pescoço de Jaci,

Cair nos braços branco-prateados de Jaci,

Naiá nunca que conseguia.



Naiá entristeceu-se,

Amesendou-se às margens do igarapé,

Desmanchou-se em choro às águas do igarapé,

Viu na água a imagem de Jaci,

Tão pertinho que estava,

No juntinho do Igarapé.;

Naiá bonitou-se, esqueceu-se das mágoas.

-Brigas de Amor nunca mais!-

Naiá jogou-se nos braços brancos-prateados de Jaci.

Naiá enganara-se!

Naiá entrou-se pras águas

Quando devia ir pro céu.



Jaci tuxaua bonito e corajoso,

Enterneceu-se de Naiá,

Com sua mágica de deus e de astro,

Mudou o corpo de Naiá

Em adorno da natureza...

Putira que bóia nas águas

Sempre se mirando pra Jaci no céu.



III – Uirapuru



Oribici amava o Cacique,

Oribici, moça donairosa,

Mas outra cunhã cortejava o Cacique.;

O intrépido tuxaua entregou

O destino aos deuses:

A índia que mira mais certeira tivesse

Decerto conquistaria

O coração do Cacique.

Gravou o Cacique no tronco do Japurá

Um coração e invocou Tupá,

As setas atravessaram o espaço,

Mas a seta oribicíaca

Era cometa sem direção.

Oribici chorou. Chorou... chorou...

Seu chororô saiu-se como igarapé em chuva.



Oribici pediu a Tupã-beraba

E de acordo com o pedido: -Cabrummm!

Oribici virou Uirapuru,

Passarinho que não é passarinho,

E apareceu ao noivado do Cacique...

Oribicirapuru

Cantava num pé de ingá,

Enquanto amavam-se os nubentes no casamento...



Uirapurubici cantou. Cantou... cantou...



Oripurubici mandou-se embora pra outras matas,

Partiu adentro mata amazônica...

Quando bem dentro

Uirabicipuru canta

Os outros pássaros

Permancem de bico trancado,

Quietos, ouvindo o canto mavioso

Do Uirapuru.

...........................................Uirapuru...

................................Uirapuru...

................................Uirapuru...

.....................Uirapuru...

.............Uirapuru...

........Uirapuru...

Uirapuru...





IV – Jurupari



Um dia Jurupari pegou das Icamiabas as paxiúbas.

Começara o tempo dos patriarcas!

Ditou suas normas o deus ditador!

Ai do bugre

Que não seguisse seus preceitos!

Se danaria no saruá!

Quebrar as ordens era como beber veneno!



A genitriz desse deus culturizador,

Virgem, engravidou-se

Ao mascar ipadu com sumo de cucura,

Que desceu sobre seu ventre.



A primeira cesariana do mundo:

A Traíra abriu o ventre da ci

E nasceu assim Jurupari,

Pondo chamas por todos os buracos da cabeça,

Por todos os dedos das mãos.



Jurupari tem a energia da Mãe-Natureza,

Só amadurecem as espigas

Se Jurupari abençoar.



V – Princípio do Homem



Inapiricure é o herói

Que construiu o mundo seco,

Mundo desbastado, se amundando até onde termina a vista,

Pros cumes das montanhas, Thomas Stearns, o Piricure.

Umeninincu desenhou as bacias hidrográficas

Pros Tucanos pirogarem.

Odisseu-umeninincu.

Mavutisinin criou os homens

Das toras de quarup

E as tranças da cabeça com os cordames do buriti,

Homero-mavutisinin.

Guaraci desceu do céu

Em aparência humana.

Caçava, pescava, zumbia, dançava

E brincava com as virgens.

Ovídio-guaraci.

Mas os tuxauas

Não o tinham por saqueador do amor de suas noivas.

O Sol iniciou-os nos segredos

Da abastança da agricultura.

Admiravam-se os índios

Do séquito deste Cacique:

Pássaros e Jacarés!

Caçaibê não tinha pai nem mãe,

Não se podia negar de dar pra Caçaibê a caça, se a pedisse...

Caso contrário, acabava-se virando um Tapir.

Caçaibê ensinou o índio

A caçar e a produzir puba branquinha.

Caçaibê-prometeu.



De noite Arucum

Juntava sainhas caídas de Jaci no Céu

Que serviam para sementes na seara,

Mas Apô catou a amada de Arucum...

Cunhãmucupuxiuera.

Por isso metade dos Caxinauás

Seguiu Arucum,

Outra metade está com Apô...

E uéra se encheu de tribos...



VI – Monam



Monam tocava menbí

Na sua oca no alto do céu...

Na caaçauá os tuxauas brincavam

O dia inteiro com as cunhãs...

Monam desgostou-se com tanto brincar,

Com tanto se embestar dos índios:

-‘Muraqui! Muraqui!

Uquirica! Upinatica!”



Num dia medonho

Irado ateou chamas no chão do mundo!

Queimou todo o mato

Dum canto a outro canto do mundo!

Mas depois das chamas

Mandou Monam chover:

-“Amana! Apipica!

Arú, Arú! Aruã! Upipuca!”



Era a chuva cauda-girando-da-Jararaca.

Monam conseguiu com que se salvasse

Um casal de cada espécie de bicho.

Noé-monam. Monam-noé. Monoé. Mané.

Ariré, depois, muito depois

Para usar os ensinamentos de Monam

Chegaram ao mundo as nações.



-“Indaué! Indaué, anauê anauê!

Guajajaras, Mundurucus, Maués,

Tamoios, Tembés, Apiacás,

Tupiniquins, Tupinambás!”



Nesse tempo o Amazonas

Já estava pronto

E as árvores descansavam

De tanta estudar

Matemática do Acaso.



VII -Japim



Japim cantava no céu pra Tupã dormir,

Mas Mací dizimava as tribos do mundo,

Não tinha puçanga de pajé

Que pudesse curar.

Índios queriam ir pro céu

Morar com Tupã:



-“Ueuê! Uciqué iuáca, ueuê!”



Caaçauá, a mata,

Estava jururu, índio acabava panema.

Tupã disse “Não” em som de trovão:

-Cabrummm!

Mas mandou o Japim

Cantar pros índios.



Marupiara!

Os índios se tornaram contentes, marupiara!

Mací não podia ouvir

O canto contente do Japim

E se mandou pros Andes.

Japim que cantou contente por sua obra:

Marupiara!



Porém o Japim passou a imitar

O canto dos outros pássaros,

Era pura zombaria.

Então o Uiratatá, o Araçari,

O Tucano, a Araçaripoca, a Arara,

Oropêndua, Papagaio, Parauarí,

Cotinga, Inhambu, Mutum, Jacutinga

Juntaram-se em comissão de samba,

Partiram pra conversar do Japim com Tupã,

Se zangavam, diziam com descaso e chateação:

-“Não passa dum Xexéu!”

-“Não passa dum Juão-conguinho!”



Doutro canto da mata,

Japim dizia com despeito e com gestos indecentes:

-“Ah!...É....Ih! Ó: Uhhhh!”



Tupã castigou Japim:

-“De agora pra diante

Não terás mais seu canto,

Viverás a imitar

Os outros pássaros,

Que hão de te bicar e azunhar,

Te perseguir até o ninho,

Quebrar teus ovos,

Machucar teus pequenininhos!”



Japim chorou, chorou:

-“Uiaxiú... Uiááá-xiúúú...”



Mas as vespas da árvore voromã vieram:

-“Não chores mais, amigo Japim,

Monte teu çuati junto às nossas casas.

Não tem ave que tenha coragem

De invadir nosso quintal!



Disse a Matinta Pereira,

Que é um caburé que sabe o tudo das coisas,

Que o Japim monta nheengare moderna,

Seu canto é a paródia, o pós-moderno,

Art-pop da mata.



VIII – Coração Curupiresco



Escurece o céu de negro e tanimbuca,

Tupã-beraba assina seu nome por todo o espaço!

Joga setas pontudas no chão do mundo!



Tupã-cunenga brada indecências indescritíveis:

-“bababadalghaghtakammninaroonkonnbronntonneroonntuonn

thunntrovarohounnawnskawnntoohoohoordenemthurnuk!”

Um espectro se desenha na selva,

Por seu penteado desajeitado e encarnado,

Por causa do seu couro bronzeado.;

Por causa dos pés virados pra trás:



Ai que é o Curupira!

Ai que é o Curupira!



Bate o Curupira nos troncos dos paus.

Toc-toc-toc! Toc-toc-tém! Toc-toc-tém!

A ver se estão seguros:

-“Apôis! Pódi caí amana!

Arre água!”

Curupira, pequeno deus protetor

Das matas e dos animais,

Que vaga na selva montado num Tapir:

-“V’ambora Juão! V’ambora!”



Curupira tava cum precisão de cumê, muita iumací:

-“Anema quiuíra!

Dá-me teu coração!

Dá-me teu coração

Num prato pra eu cumê!”



Índio enganou Curupira

E deu coração de macaco.

Curupira pensou que era verdade.

Piá! Piá!

Que podia se abrir o peito,

Piá! Piá!

E se tirar o coração pra se cumê.



Curupira ainda tinha muita precisão de comida:

-“Ui! Iumací, iumací!”

Abriu seu próprio peito...

Curupira iucauára!

Caiu de peito despedaçado...



No outro acaiú

Índio sentiu vontade de montar miçanga

Com os dentes verdes do Curupira.

Voltou à mata e procurou

Caveira do Curupira:

-“Mixicuí!”

Tacou crânio de Curupira nos troncos

Das árvores: Toc-toc-tém!

Pra ver se os dentes caíam...



Acangacuera de Curupira se gargaiou, se contentou:

-“Uh uh uh upucá!”

Índio com medo sumiu-se, se escondeu detrás

De um pau de cunuri.

Curupira se nasceu de novo...

Gritou de sopetão, chamando Tapir:

-“V’ambora Juão! V’ambora!”



Taiaçu veio depressinha.

Curupira saiu montado no Juão por aí.

Agora deu pra se aparecer do jeito de gente

Na tauapuranga da Guanabara.

Depois já o viram na capital do Brasil: Paranoá-tauapiçaçu,

Se candidatou, dizem, pra deputado...

Do partido verde! Do Greenpeace até...

E inté na tauacuera-paris discursou:

- “Todo verde tem um coração curupiresco!”

Tapir se aparece também, mas em terno de assessor.



IX – Mani Made

(tradução metamoderna – transdução – de um soneto do Poeta Xavier)



Mani, criança branca que nasceu de virgem mãe: branquinha!

Toda tribo gostava da menina magrinha,

Devido de certo ao alto índice de mortes entre curumins:

171 por 1.000 nascidos vivos, de acordo com dados de 1.970...



Já depressa se mandou deste mundo, Mani, seria meningite?

A mãe chorou até juntar um igarapé.

Quando surgiu no céu o ajuntamentos de astros chamado Garça,

Brotou da cova uma arvorezinha mágica.;



Tinha os pés sob o chão, todo branco que os índios comeram,

Amassaram em cuí e maçuca, beberam em cauim: -Hic! hic!

Que o padre Durão no Caramuru achou um nojo: - Cruz credo!



Era uma coisa de canibal, coisa mágica comer çapú de Mani,

Toda tribo se contentou e dançou um tipo de carnaval:

Grêmio do Samba Unidos da Mandioca pede passagem!



X – Cobra Norato e Maria Caninana



Entre o Trombetas e o Amazonas.

Uma índia pariu a duas serpentes:

Cobra Norato & Maria Caninana,

Em couro de cobra, pirerabóia, se criaram nos igarapés.



Cobra Norato era turama cordial,

Duma vez tornou-se amigo de Poeta-Bopp,

Quando o poeta viajava no meio da selva selvagem,

Salvando o vate de se acabar na virada da ubá.



(Cairê se acende no céu,

Cobra Norato sai das águas do Amazonas,

Tira o couro de cobra, pirerabóia e vira homem.

-Viche Nossasinhóra!

Vai então visitar a princesinha da mata...

No céu as jacitatás brincam de acender e apagar num vôo...)



Maria Caninana era cobra má e juá,

Quebrava os barcos, jogava n’água os navegantes.

Duma vez mordeu a cauda da Cobra-Grande,

Que deu um salto que partiu o chão de Óbidos do mercado até a igreja...



Cobra Norato partiu então pra dar uma sova na irmã saída à Maquiavel! Bateu tanto na danada, que a marvada Maria Caninana zarpou-se, sumiu-se, desapareceu-se!

Cobra Norato, sem couro de cobra e com cara de moço,

Deu de dançar com as virgens,

Beber cauim e tragar charuto com os moços:



“O tragá contenta a gente,

o bebê nos dá prazê,

quem num bebi e num traga

Qui contenta há di tê?”



Poeta-Bopp e um soldado de Cametá

Partiram pra ajeitar uma mezinha de cura

Pra Cobra Norato se desencantá:

-“Taque o machado virgem

na cabeça da cobra, soldado!

Eu vou fazer puçanga com três gotas de mel tirado de seio de cunhã... Schuap! Schuap! Schuap!

Agora abre a boca do bicho

Que eu vou jogá ycamiauá dentro!”



-“Virgê Maria, Nossassinhóra, seu poeta!

Zóia o moço saindo do ventre da cobra!”



Cobra Norato saindo de dentro do couro da cobra, pirerabóia:

-“Tô desencantado!

Vamo bebê minha gente que é tudo por minha conta!”



Poeta-Bopp vestiu o couro de cobra

E se mandou a buscar

A princesinha da mata que mora no sem-nunca-se-achá!





XI – Uauiara



Uauiara nadava nos igarapés,

Era época da pocema.

Uauiara cantava e dançava

Nas noites de Jaci-no-céu:



-“Muié, dá-me uma chama

do teu amor que o homem tanto chama

põe tua boca junto à minha boca,

abre os segredos de teu beijo pra mim!”



As moças dengosas se jogam nas águas

Querendo abraços e beijos do Boto maroto,

Mas tem paixão que vira tragédia,

Se cunhãmucu não sabe uoitá como um pirá,

Se acaba nas águas de tanto suspirar!

O boto Zé Curuqui

Com dó traz o corpo da cunhã

Pras margens dos igarapés,

Deixa o corpo no seco...



Mas tem gente que acha

Que as vistas do boto

São um bom patuá...

O Uauiara disse que vai virar gente de vez

E entrar pra turma da cidade ou brincar de cinema!



XII - Iara



Iara, mãe d’água!

Iara, cunhã bonita de cor prateada!

Iara, cunhã bonita de zóios verdes de esmeraldas!

Iara, cunhã bonita de penteado cor de ouro!

Iara, vive nas águas dos igarapés.

Iara encanta enquanto canta nas águas como as sereias...



Unheengare Iara!

Unheengare Iara!



Jaraguari, curumi-açu bonito como o Sol!

Jaraguari, curumi-açu-jaguar-bonito!

Jaraguari, subia toda tarde

com sua canoa até a ponta do Tarumã...



Mamé Jaraguari? Pergunta pro xamã-pajé!

Mamé Jaraguari? Inquire tuxaua corajoso!

Mamé Jaraguari? Busca saber dos curumins!

Mamé Jaraguari? Busca ouvir as cunhatãs!

Mamé Jaraguari? Indaga sua mãe preocupada...



Jaraguari está a se casar com Iara,

Sua igara agora aguareja vazia no igarapé...



XIII – Cecás de Curumim



-Tupá dê um curumim pra essa índia dos maués!

Pediu o pajé e Tupá atendeu.

O curumim cresceu vigoroso e sadio,

Sábio, cordial, curi, prazenteiro.



Anhangá teve ódio, virou serpente:

-“Vem cá, curumim. Vem cá...

Come destas iuazinhas doces, são só uns ingênuos araçás!”



O menino pegou as iuás

E Anhangá deu o bote...



Machucou curumim que dormiu pra sempre

por causa do veneno da serpente.



A índia-mãe de curumim chorou e chorou pedindo ajuda a Tupá:

-“Tupá! Tupá! Dê nova vida ao meu embira!”

Tupã-beraba desenhou seu nome no céu

E se ouviram nheengas por todo o azul escuro...

-“É um aviso de Tupá,

tire os zóios do menino e jogue no chão da mata”, disse o pajé.



Nasceu depois de sete dias um matinho com bocadinhos

parecidos os zoinhos do curumim...

-“Guaraná! Guaraná!”



Uma indústria de Piratininga

Soube da poranduba,

Mandou buscar os cecás do curumim que davam no matinho

E produziu bebida adocicada...

Americano-yankee só toma Coke

Porque não sabe dizer o nome do curumim:

-“GWA-RAH-NAH!”



Tem vergonha que o bodegueiro caçoe de seu sotaque...



XIV – Micura e Iauretê



A micura de novo com sede já estava

Bateu uma de sorva árvore

Besuntou-se bem goma-de-sorveira-com

E espojou-se caa-seca em,

E chegou da águapoço a.

A Onça viu quando o tal animal disse:

-“Eu sou o bicho caa-seca.”

Iauretê disse: -“De beber antes,

Jogue da águadentro eu ver

Para não bóia se teu couro.

Micura se jogou águadentro.;

Seu couro não boiou,

Porque goma não se soltou na águadentro.

Desse jeito a micura beber pode

Águadachuva o tempo chegou quando...



XV – Festa da Tribo



J_e_n_i_p_a_p_o_________________v_e_r_d_e_Y

T_u_i_ú_c_a_i_a_________________v_e_r_d_I_A

C_a_r_v_ã_o_k_i_________________v_e_r_I_A_K

U_r_u_c_u_m_r_a ________________v_e_I_A_K_I

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C

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b_r_a_n_c_o........t_a_u_á______v_e_r_d_e_Ç_v_e

n_e_g_r_o.........t_i_n_g_a_____r_d_e_v_e_A_r_d

a_z_u_l.........t_u_r_u_n_a_____e_U_R_U_C_U_M_v

v_e_r..........p_i_r_a_n_g_a____T_U_I_U_C_Á_e_r

v_e..........i_a_q_u_i_r_a

v...........ç_u_i_q_u_i_r_e









XVI - As Amazonas



Quando Macunaíma mandou uma carta pras Icamiabas,

Chico que era desbravador espanhol a serviço de gigante Pietro Pietra que era o Mapinguari,

buscou na caixa de cartas e pegou endereço,

descobriu onde moravam as índias combatentes.

Se mandou pro Amazonas querendo conquistar as Icamiabas. Ignorava Chico Espanhol que as Amazonas não eram só bonitas, mas também corajosas,

brigavam sem medo, energia sob Guaraci e Jaci.

Manejavam o arco e a seta com perícia.

Chico Espanhol tomou uma boa sova e saiu se mancando pra capital do Pará, nem parou em Manaus e sabe-se pouco se alguém o viu em Santarém!

As Amazonas só se casam com índios Guacaris...

Só continuam na tribo as meninas. Os curumins voltam com os pais pra oca dos Guacaris.

Jaci protege as Icamiabas.

Nas águas do Jaciurá, Jaci desce do céu, nada até o Jamundá

pra tomar banho com as Icamiabas.

Icamiabas cheirosas de putiras na cabeça,

Icamiabas dançando até o coração de Jaci pegar tatá.

As Icamiabas jogam çacuena no Jaciurá:

-Vamos pegar cerâmica do Jaciurá e moldar muiraquitã sagrado com a cara dos bichos do Jamundá!

-Não podemos esquecer de mandar um pro herói!

Tuiuca Iquira que parece de aço ao secar. O trágico Chico Espanhol ainda tem tanto medo das Icamiabas que doutra vez encontrou os índios Cunuris madeixudos e se atirou dentro dum tonel e voltou pra Europa girando, girando...

XVII – Puçanga de Pajé



A certeza-boa sígnica da cura,

A tragança do petam do pajé,

Uma maraca, aray, a conjectura.;

Gênesis do Mytho: Umbaé! Umbué!



Um choque entre diversas culturas,

Sabedoria de mil anos, açupé,

Tratado de imperceptível cesura,

O traduzir numa espécie de Sé.



ARaoni através de imagem dá o diagnóstico:

-“Um homem que está com cara de sapo!”

Sapaim concorda: -“Virou Sapo!” - Gnósticos!



-“Caso isso cure, ao beiço meto um prato!”

Homem douto diz. Mas qual um acróstico,

Invisível se não se vê, mas guapo.



XVIII – Malpertuis



Era a hora da chuva, garoava muito...

Uma igara grande e antiga

cheia dos mais antigos heróis e mitos do Hades

desembarcou em Marajó

e começaram a erguer cidades.



Macacos nas árvores

coçavam a cabeça e catavam quiuas

se perguntado o prá que de tantos teiados...



Os passarinhos acabaram na cadeia,

bruxos hipnotizavam jacarés

pra depois virar todos em sapatos,

árvores distraíadas caíam tropeçando nas cadeiras,

Jacó-pum-pum se mandou a buscar seus trajes

de couro de cobra,

nunca que os achou mais!



Numa estranha inquisição

outros paus acabaram nas chamas,

O Chico, pegaram de emboscada no Xapuri,

Seringueiras choraram seiva de sangue,

Xexéu voou pra Nova York

e contou essa história

pra cidadão Orson

que passeava de jangada

com neguinho amigo do Oscarito e cantora Batista.



Um branco saxão

de nome parecido com espora,

aguou uma árvore de canções

e tirou pestana esperando crescer,

quando deu sombra

chamou cacique e cantor pensador

e começaram a tragar cachimbo da paz...

Camêra de cinema copiou tudo,

Estavam todos na beira do igarapé

Esperando o Xexéu voltar

De Wall Street

Com o Guesa e o Citizen Kane

que tinha escondido o muiraquitã do Macunaíma

na sua grande oca de pedra.



Na selva escura as árvores

Deixam uma estreita passagem,

Onde só o viandante com sabedoria pode passar.

Cassavius! Cassavius! Um assobio de Jean-Jacques...

Um dragão comedor de sentenças e todos os motes

dizquediz que vai mudar tudo

que metade da mata vai virar carvão

e outra metade em papel

pra se escrever teses de histórias de cangaceiros da idade média.



Malpertuis quer dizer casa de anhangá,

Jean-Jacques procura o manuscrito antigo

que vai ensinar o segredo do ontem e do agora pra diante...

Nas águas da mata, antiga igara espera a volta dos mitos

e dos heróis do Hades...



XIX – Caricupanema



A Cobra–Grande estava dormindo na sua toca

enquanto caía chuva sem parar inundando as árvores grávidas

O Jabuti, a Onça, o Tamanduá, o Jaguar & a Preguiça,

E até o soneca do Matamatá,

Mais o Mutum, o Mão Nua-Sem-Nada,

A Cuíca d’Água,

A chispante Jaguatirica

E o compadre Tatu

E todos os demais bichos do mato

Subiram a se abrigar na Montanha Nua-Sem-Nada.;



A Cobra-Grande que também era Boi-Guaçu subiu

até o alto da Montanha Nua-Sem-Nada...

E ainda no outro dia estava chovendo,

Boi-Guaçu com iumací, que é precisão-de-comer,

Começou então a comer os cecás (que sãos os zóios) dos bichos

Os cecás que Boi-Guaçu comeu

Continuaram chamejando como tochas

Dentro do ventre da serpente gigante,

E então, Tupã-Beraba

Deu uma chicotada pela malvadeza de Boi-Guaçu

E Boi-Guaçu que era a Cobra-Grande virou Boitatá.



Os cecás-zóios que Boitatá não comeu

Mas que já tinha tirado dos bichos

Viraram pepitas de ouro: Caricu! Caricu!

Caricu chamejante que acabaram chão-dentro

A serpente escondeu caricu

no chão-dentro de Montanha Nua-Sem-Nada!

Mas Anhangá que tem cecás de fogo

Se banzou dos bichos sem zóios

E catou cecás de guaraná

Que já tinha muito no chão da mata-sem-cultura

E botou nos animais da selva escura...



Mas isso aconteceu no tempo

em que não se contava o tempo,

Nos tempos de agora-hoje-em-dia a Montanha Nua-Sem-Nada

Se vestiu de aventureiros,

Porque Uauri foi contar esse segredo nas cidades do sertão...

E Montanha Nua-Sem-Nada virou cratera de Jaci,

Virou um buracão onde o gigante Mapinguari se esconde

Por de trás das nuvens de poeira da enorme cratera

pra poder enganar e pegar alguns garimpeiros

e depois tirar as cabeças

que Mapinguari adora chupar como se parecessem inçás...



Chup...chup...chup... scrasch! Croc-croc!

Chup...chup...chup... scrasch! Croc-mastisch-croc!

Chup...chup...chup...







XX – Ipanema na Amazônia



Boiúna nadava nas águas

Querendo pescar, armou caiá

Na Pari-cachoeira no una,

É una bom de peixe o Tiquié.;



Não pegou nenhum aracu,

Nenhum mandí, nenhum pacu,

Nem surubim ou mandubé,

E nem mesmo pirá-mirim.



Boiúna armou matapi

Num igarapé morongoso

Também nada pescou, nadinha.

Aí Boiúna armou cacuri



Nos igapós beira-do-una,

Nada pescou! Nada pescou!

Pois nem piranha-pirainha!

Pois nem nadinha de acará!



Nenhunzinha de qualquer traíra

Ou de qualquer tucunaré,

Aí Boiúna pôs jereré

De noite e de nada adiantou.;



Pôs tinguijada com timbé

De boa erva pra envenenar

Peixe que tivesse no una,

Mas quando Boiúna pisava



Çauá pra tirar boa espuma

Chegou o Cacique-sem-medo

Dos Tapanhumas e disse

Prá Boiúna: -“Nada que adianta,



O homem já envenenou todos

Os peixes daqui, matou una.”

Boiúna tanto se admirou

Do timbó do homem caraíba.



-“Não é o timbó”- disse Cacique –

“É o mercúrio que matou peixe.

Jogamos no chão tudo que é

De pescar, peixe bom não há.;



Do una não tem mais serventia.”

Dito isso cacique chamou

Boiúna pra casa da oca:

-“Vou te ensiná a fazê aquário!”



XXI – Maranduba



pau da máquina dizquediz-na-distância tocou na mata,

Caapora se ajeitou pra atender:

-“Pois não, aqui é da mata, com quem você quer conversar?”

era a Jaguatirica discando do jardim-zoo da Guanabara:

-Caapora, comadre Arara manda te dizê que tá boa

e também te manda uns abraços.

Caapora: -Qui qui manda avisá?

Jaguatirica: -Junte os bichos do mato todo e se mande pra cá.

Caapora: -Uai, por quê, comadre?

Jaguatirica: -Porque caçadores querem tirar a vida da mata, e por os couros dos bichos pra se mostrar nas casas da moda da Europa. Cunhãs bonitas de caraíba vão usar os couros dos bichos pra sapato, bolsa, casaco e vestido!

Caapora: -Viche Nossassinhóra! Credoincruiz! E junto tumbém os passarim? As avezinhas nem couro que preste têm, uai!...

Jaguatirica: -Tumbém comadre, os passarim são presos, são empaiados, nunca mais vão pudê vuá...



Caapora deixou máquina dizquediz-na-distância

E se mandou pros matos a avisar os bichos da urgência,

A Matinta Pereira que ouvia tudo,

Pois sua toca era no pau da máquina dizquediz-na-distância, pensou e disse:

-Caraíba quando quizé vê bicho

vai tê que montá um na arte origami...



XXII – A Cunhamembira dos Caraíbas



No princípio

todos os povos tinham surgido da Cobra-Grande,

Os Tucanos saíram da cabeça da Cobra-Grande,

Que estava nas bandas das matas boas de pescar.;

Já os Desanas têm que trocar maniura por peixe.

Cada tribo tinha sua sabedoria e seu canto.



No princípio

o homem branco não tinha a sabedoria da selva virgem.

Diziam: “-Hades? Éden?

Anhangabaú verde, ninguém pode viver na mata escura!”

Mas o homem branco não se importou com a Natureza,

Se esqueceu que também era taíra do mundo.





Primeiro,

Com 1.000 canoas, com armas de trovão,

Prenderam morubixaba Ajuricaba como muçuranas,

Ajuricaba disse:

-“Se viver solto não posso,

se viver com minha tribo

na mata solto não vou,

também escravo não quero,

também vencido não sou,

sou solto no mundo sou,

sou da caaçauá e do caaiarí!”



Dito isso se atirou mesmo encordoado

Nos braços da mãe d’água...



Depois,

Com açucri, sabunetis e ispêis

Enganaram e prenderam o herói Émeco Boréca.

Conduziram Émeco Boréca pra Guanabara,

Torturaram então o herói na ocara de pedra

E tiraram-no a sabedoria.



Por fim,

Disseram os caraíbas: -“Vamos montar Cunhamembira!

Vamos tirar também toda a energia

Deste bravo morubixaba!”



E assim se deu,

Homem branco veio machucar o bojo da Cobra-Grande,

Trocaram o nome das coisas,

Monstros-tratores comiam o mato,

Bicho-corta-tudo-sozinho escangaiva as árvores...

Pindorama cedeu seu canto à cor do Arabutam.



Ironia,

Novo nome de Pindorama é da cor do pau pegando chama-tatá!

Queimarão toda a mata,

Matarão toda a vida,

Até os unas bom de pescar e nadar...

Subirá nuvem negra pro céu

E aí caraíba vai ver

Que não destruiu Pindorama, pois Pindorama já não havia,

Destruiu sim sua nação

Que tinha posto no canto de Pindorama.



E na distante Iuaca azul, azul,

Junto de Jaci, de Guaraci,

De Papaceia, da Ursa Maior,

Máquina-voa-sozinha-em-volta-do-mundo

Que está sempre de butuca

Vai soltar chororô e tossir

Por causa da poeira negra

Que subirá do mundo em chamas-tatá...



XXIII – Tapera



E quando todo a selva estiver malsã,

Imprestável no chão,

Nas águas, no ar,

Tupá vai descer de sua oca no céu.

Guaraci virá numa coisa de chama-tatá,

Jaci numa nuvem.

Se ouvirão os gritos de ira de Tupã-Cunenga

E Tupã-Beraba vai queimar meio mundo.

Tupá virá numa ubá voadora toda de chamas,

Com muitos tuxauas e morubixabas

Mostrará pra caraíba que sua casa é nossa casa...



Não existirão mais toras de pau pra montar quarup,

Por isso os espíritos vagarão pelo mundo,

Sem destino,

Sem saber o caminho do céu

Nem o porquê e o porquém das coisas...

Mundo de pedras vatós, sem vida, só de areia e pó.



itá.....itamurutinga....itatinga........itapeuá

itá.....itapajé.........itaúna..........itapuã

itá.....itacoatiara.....itamaracá.......itatauá

itá.....itapiranga......itacendi........itaverá

itá.....itaquera........itaturí.........itá-tatá



E distante no céu todas as noites

Os astros irão chorar...

Isso que caraíba chama de deserto

Na nheenga do índio não existia esse conceito,

Todo o mundo tinha que ter vida,

Nheenga de índio não concebe mundo sem vida.



nheengatu.......nheengaíua......nheengaturupi

auanheem........auapecu.........auanheenga

quichua.........apecu



Não mais haverá nada que dê jeito,

Nem puçanga,

Nem putirum!



XXIV – O Acabou-se

(No deserto da desolação, Tupá hasteia uma bandeira numa duna de areia e volta prá selva do bem-distante no céu, parecendo Armstrong pisando em Jaci, só precisava agora tocar o tema de Aquário ou do Danúbio azul):



jara___________________________zara

__________eté___________the____

________________sy_sih_________

__________eghi__________ugüy___

shem___________________________sema



***Fim de Hiléia***





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