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Erotico-->35. ARI SE INSTRUI -- 11/10/2003 - 07:25 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Edgar, por favor, esclareça-me quanto a uma dúvida que me vem amarrando ao mundo da fantasia.

Ari não precisou elaborar a frase para ser compreendido. Então, vamos ter de nos entender, para darmos seguimento ao narrado, caso contrário, todo o deslanchar de aprendizado do rapaz vai quedar no campo da erraticidade. Que outro sistema adotaríamos que não o do diálogo entre os encarnados?

— Você quer saber se vai ficar preso ao leito por muito tempo. Devo dizer-lhe que pode levantar-se a qualquer instante, bastando que...

Imediatamente, Ari pôs-se de pé, apoiando-se num móvel, espécie de consolo, sobre que repousavam alguns frascos e petrechos, cuja descrição demandaria esforço considerável se quiséssemos dar pálida idéia do que se tratava. Eram, de qualquer modo, elementos de que os médicos e enfermeiros lançavam mão para o tratamento energético e vibratório, fluídico, diríamos melhor, do paciente.

— Sinto uma tontura como se me faltasse o ar.

— É natural, porque você não tem completo domínio dos movimentos do corpo semimaterial que lhe dá sustentação nesta atmosfera. Vamos recriar a forma humana que melhor lhe convenha para nos relacionarmos...

— Quer dizer que o meu pensamento me impediu de realizar os contornos de uma figura que se assemelhasse à sua? Posso ver-me no espelho?

— Pode, sim, se conseguir.

— Como assim?

— O seu esquema corpóreo não está definido. Você me vê como lhe apareço, porque tenho domínio sobre a minha figura. Desejo dar-lhe a segurança de um ser sábio e poderoso no campo da medicina. Desse modo, visto-me com este jaleco porque lhe lembra a roupa habitual dos médicos encarnados, conforme a sua própria recordação. Para você se enxergar no espelho, haverá de construir uma imagem reconhecível, seja do rapaz que viveu na última encarnação, seja do homem da penúltima. Recomendo-lhe que adote a que lhe possa dar maior tranqüilidade, uma vez que ambas trarão reminiscências penosas, o que eu gostaria, se puder, de impedir.

— Quer dizer que o melhor é não me ver no espelho?...

— Com certeza. Mais tarde, você irá adquirir certos conhecimentos, a respeito das conseqüências dos eventos de que participou, próprios para extrair lições que lhe darão os fundamentos sobre que assentar a vontade. Nesse momento, alcançará a estabilidade emocional para refrear os impulsos advindos de meras sugestões exteriores.

— Devo deduzir, caríssimo instrutor, que, se eu for, por exemplo, visitar os meus pais, à vista dos objetos e das pessoas, irei sofrer o baque emotivo correspondente às acusações da consciência, pela percepção da perda da oportunidade de crescimento espiritual?

— Bem posto, querido amigo. Apenas quero alertá-lo quanto à distância que vai entre os conceitos meramente filosóficos sobre a realidade e o empuxo...

— Posso concluir, a ver se estou capacitando-me a acompanhar os seus raciocínios?

— Perfeitamente.

— Preciso tomar ciência de que o ensino que estou recebendo é intelectualizado, de maneira que se encontra sob bloqueio a parte de minha personalidade que denominaria de sentimental, emocional, sensível aos desarranjos provocados pelos apontamentos das frustrações. Uma coisa é realizar as experiências dos cálculos das fórmulas, para o aprendizado da Química. Outra é o manuseio dos ingredientes, na quantificação passível das reações em estudo. Uma coisa é saber que as forças da energia elétrica se deixam controlar segundo sua potência, em função dos capacitores que a conduzem. Outra é estabelecer na prática a quantidade dela que os isolantes com que se trabalha são suficientes para contê-la.

— Gostaria de lhe assegurar que você está utilizando-se de conceitos absorvidos na penúltima encarnação. Será essa a aparência que irá dar ao seu perispírito?

— Preciso de algum aspecto exterior, para poder andar pela colônia?

— Todos nos mantemos com uma figura que transmita aos demais a segura informação do nosso adiantamento. Se você, por exemplo, adotar a aparência de um jovenzinho de dez anos, irá ser tratado como tal pela maioria, pelo menos até que seja colocado em xeque pelo professor da classe que o receber como aluno. Neste caso, é sempre preferível adotar semblante e estatura correspondentes ao desenvolvimento mental, que está longe de pertencer àquela faixa etária. Que tal uma idade de vinte e poucos anos?

— Com o mesmo arcabouço da derradeira passagem terrena? Será possível?

— Com os elementos contidos em sua memória, você será capaz de, a partir dos traços com que emergiu no etéreo há pouco mais de um ano, elaborar envelhecimento correspondente a mais doze ou quinze anos, sem esforço de monta, apenas concentrando o pensamento na linhagem familiar que detém na memória. Vamos tentar?

— Não posso fazê-lo sozinho?

— No máximo, iria definir uma similitude. Se me der a liberdade de auxiliá-lo, vou impor ao seu operar as características genéticas do extinto arcabouço físico, porque já possuo o poder de assimilar os roteiros delineados desde os ancestrais de cada progenitor, segundo o ADN de que você foi portador.

Ari estava muito mais interessado em sentir-se dentro de um corpo com certa cristalização material do que em absorver a novíssima informação sobre o ácido desoxirribonucléico. Por isso, deixou de lado a nomenclatura que não lhe repercutia nos arcanos da memória e insistiu no trabalho de transformação perispiritual.

Aos poucos, percebeu que a imagem das mãos e dos pés bem como o volume do corpo, que mantivera sob a impressão da altura correspondente à época do desenlace, ia modificando-se, adquirindo formato maior e mais esguio. Nenhuma sensação de agrado ou desagrado lhe deu qualquer noção de que providenciava as alterações planejadas. Quando tocou o rosto, sentiu na pele dos dedos o raspar dos pêlos duros de uma barba de dois dias, recordação antiga que se integrava perfeitamente no saber atual. A pergunta era inevitável:

— Doutor Edgar, se eu quisesse recuperar uma aparência de mulher de encarnação mais antiga, sentiria o toque de acordo com a constituição masculina atual ou recuperaria também o aparato mental feminil?

— Você, particularmente, não tem condições de fazê-lo. Se tivesse, iria estar tão adiantado nesse setor dos conhecimentos físicos e morais (integrados como um único elemento intelectual e sensual) que não notaria nenhuma diferença e não sentiria qualquer prazer ou desprazer, conforme a mesma reação que teve ao se desenvolver para uma estatura que, na derradeira vida, não foi atingida. Mas a sua pergunta demandará explicações bem mais profundas, do ponto de vista filosófico ou existencial, para as quais irá ter de preparar-se em cursos que nunca freqüentou, apesar de possuir inteligência desenvolta e agudo sentido de observação. São, porém, ingredientes da personalidade adquiridos em situações morais específicas dos seres humanos. Sendo assim, terá de extrair inúmeros preconceitos agregados à sua maneira de ser, esses, sim, a oferecer-lhe motivo para algum sofrimento, porque você não poderá trabalhar apenas com hipóteses. Antes, terá de envolver-se consigo mesmo, para o que lhe daremos adequada sustentação fluídica, para que possa suportar as pressões da própria organização de sua consciência em formação.

Edgar só não prosseguiu porque Ari estava empolgado com o corpo que lhe fora atribuído pelo mentor, não sem deixar escorrer duas lágrimas, como a lamentar a perda de um ente muito querido.

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