Considero-me uma pessoa razoavelmente bem informada, por isso às vezes tentado a avaliar meus conhecimentos políticos além do seus limites reais, contudo creio estar certo quanto à omissão da mídia no enfoque dado ao modo arbitrário como Ciro Gomes impediu, no auditório da UNB, que um estudante negro se manifestasse quando o candidato afirmou ser contra a lei que estabelece quota de vagas para estudantes negros.
Sem entrar no mérito dessa questão (sou negro, universitário da UFPA e sempre estudei em escolas públicas), o que mais me chamou a atenção foi a não percepção pela imprensa, escrita, radiofonada e televisionada, de um padrão de comportamento de Ciro Gomes que indica como seria o tratamento dispensado por ele aos interlocutores que dele venham a discordar: a mudez total ou a contraposição imediata à afirmação que lhe desagrade.
O primeiro caso é perfeitamente explicitado no episódio da UNB; Ciro simplesmente impediu que o estudante negro falasse, alegando que as regras do evento não previam tais participações. Ora bolas, regrinhas medíocres são mais importantes, mais dignas de respeito e observância do que a imprescindível existência do contraditório, do esclarecimento, do tirar dúvidas, em um evento no qual um candidato ao cargo mais importante da Nação esteja expondo suas propostas de governo?!!!
A segunda evidência do autoritarismo truculento de Ciro veio à tona, melhor, ao ar, literalmente no Jornal do SBT, na noite de segunda, 12.08, quando Hermano Henning perguntou a ele o que tinha a comentar sobre o apoio de Tasso Jereissat, um dos principais nomes do PSDB, à sua candidatura. Imediatamente Ciro contrapôs à pergunta a afirmação de que aquela notícia era exclusiva do entrevistador. A velha tática de quem foge da raia: “você é que está dizendo...”
Em sua defesa, Hermano enfatizou que não era dele a informação, mas de toda a imprensa. Ciro não respondeu.
Para o desalento dos que pretendem votar em Ciro Gomes, o seu lado autoritário, que não admite vozes contrárias, dá-nos a nítida impressão de que, uma vez eleito, o único conselho a que recorrerá para governar o país será o seu próprio -- coisa típica de ditadores, déspotas e tiranos, ou na ordem inversa, em respeito à História.