Dia de folga, quinta, resolvo queimar algumas folhas do quintal, tributo de algumas árvores e arbustos.
A preguiça é visível nos meus braços, do percorrer da vassoura. Por isso, deixei acumular tantas folhas secas.
Sei que gostas desta atividade nos finais- de- semana, mas quis poupar-te o cansaço.
Insisti na tarefa e consegui muitas folhas e galhos... Deu um fogueirão.
Sento-me distante a observar o fogo que crepita. E minha mente viaja pela chama de outras fogueiras.
Penso nas tuas palavras, quando estamos juntos e eu te nego amor sob pretexto do cansaço. E tu, queixoso de minhas dribladas, dizes não compreender como pode o amor ser inimigo do bem estar... Recorro à enxaqueca e tu te acalmas na promessa de um “outro dia”.
Assim vivemos.
Mas hoje, especialmente, o fogo fez-me mergulhar em outras idéias.
Afundei-me em Camões “Amor é um fogo que arde sem se ver”... Em Vinícius “Que não seja imortal, posto que é chama”... E em tantos outros fogos: fogo da paixão, fogo do ideal, fogo de guerra, “fogo no rabo”...
E tive o imenso desejo de sentir o fogo de tua pele morena a incendiar a minha, que lateja.
E, nestas idéias fogosas, meu corpo é todo calor, todo ternura...
Pus-me a rememorar momentos de quando entravas em casa, sedento de paixão a procurar-me aflito e fazíamos o maior amor do mundo... Na criação de gestos e carícias que fariam corar o mais imoral dos mortais.
Sem escrúpulos ou pudor, nossas línguas se atracavam e percorriam cada milímetro de nosso corpo, ardente de desejo.
O champanhe e o vinho eram nossos aliados freqüentes e percorriam, em cascata, nossos mais íntimos recantos.
Quando voltei a mim, deste mergulho no passado, percebi o quanto te faço sofrer por negativas insensatas e tolas...
Mas, ainda tenho a felicidade de ter o teu amor, tão paciente e profundo... E sei que daqui a pouco chegarás... Como sempre, com “olho pidão”.
Já coloquei na geladeira o vinho e, no som, “Yesterday”... Nossa música predileta.
Quero recuperar o tempo de “bobeira”.
Não demores!
Já estou cheia de bobeiras na cabeça.
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