labareda que me lambe
os pés me inflama
os calcanhares e me
chamusca a pele a panturrilha
as coxas e me incendeia o sexo
e me assa e me ameaça as nádegas
o ânus que se estrebucha em
hemorróidas pregas pragas
comichãs pruridos danos
percorre o ventre o umbigo
adentra a epiderme faz derreter
colesteróis camadas de gordura
me compromete os órgãos os sentidos
e me percorre as veias sobe
perigosamente rumo ao cerebelo
ao cérebro chispas lancinantes
"faíscas cintilações
eu ouço o canto enorme do Brasil"
até me arder o peito de um jeito
que eu não sei
de um jeito que eu não hei
e que inda vai fazer do meu
apaixonado coração
um churrasquinho do bom
da hora e bem passado como
os poemas de outros corações
que irremediavel inexoravel poetica sensível
e pateticamente enlouquecem
enrouquecem escarram sons equivocados
esgaravatam-se em penumbras toscas
choram gemem uivam tremem
tocos de dentes
ranger de gengivas
a abundância borbotante das salivas
inesquecíveis traumas dramas tramas
a arder arder
crepitações edemas redundantes
doridas excrecências (serão poemas?) e desconhecem o arder o arder o arder o arder
o fogo o fogo o fogo a consumir
presunções vaidades infundadas
dilemas irrecuperáveis ai
de mim de ti de vós de nós
de nossa voz o usina agora a arder
a arder a arder a arder a arder a arder
em chamas