Cuba é um pequeno pedaço de terra perdido no meio do Caribe. Em sua paisagem urbana formada, quase em sua totalidade, por casas humildes e gente mais ainda, as pedras parecem querer falar, pois os habitantes da ilha sufocaram a própria voz, talvez por ainda viverem entorpecidos pela utopia comunista, talvez porque decepcionados com as deficiências de um modelo de sociedade que lhes prometeram ser perfeita se acham sufocados pelas contradições entre o discurso fideliano e a realidade que os envolve.
Depois de quarenta e três anos, não se podem ver nem mensurar os momentos em que, ainda crianças, no ano de 1959, os hoje adultos cubanos foram apresentados a uma realidade chocante, que os encaminhou o resto da vida por tortuosas vias de ilusão. Não que o sonho comunista fosse em si mesmo algo castrante, uma foice que decepasse ainda na infância o elo entre a expectativa de um mundo perfeito e sua efetiva concretização, ainda que as promessas do paraíso ruíssem trinta anos depois, junto com o muro de Berlim, marco histórico do início do fim da maior das utopias.
Para entender Cuba, seu povo e as contradições de um sonho comunista, devemos retroceder ao tempo quando os camponeses russos, liderados por Lênin, assumiram o poder na Russia. Não admitiam esses miseráveis trabalhadores camponeses que a nobreza e os aristocratas russos vivessem cercados de privilégios materiais, de boa comida, boas roupas e bons vinhos, enquanto eles sucumbiam à mercê de privações humilhantes. Sua fome, doença e rudeza foram a matéria prima da revolta, o elo principal entre o desejo de vingança pelas privações e a destituição daqueles que, no rosto nédio e risonho, revelavam o descaso pelo sofrimento de milhões de homens, mulheres e crianças. Deu-se, assim, o movimento revolucionário de outubro de 1917.
A Revolução Russa, modelo seguido por Fidel Castro décadas após, teve como estratégia fundamental à sua realização a adoção de práticas revolucionárias extraídas do arcabouço teórico elaborado por Karl Marx e Engels. É preciso relembrar em que contexto histórico o socialismo marxista tomou corpo como ideologia sob cuja influência a revolução bolchevique foi gestada e efetivada.
Quando os teóricos do liberalismo preconizaram a redenção da humanidade por meio das soluções que o capital possibilitaria, certamente não pensavam propositadamente em estabelecer um limite para o alcance delas, posto que inexistente do ponto de vista da teoria, nem que as sociedades seriam caracterizadas por um fosso quase intransponível entre os que iriam se beneficiar do acúmulo de capital e os que, sem condições objetivas de acumular riqueza, ficariam à margem de seus benefícios.
Não há dúvidas que o fracasso dos pressupostos liberais quanto à promissora função do capitalismo de acabar com a pobreza no mundo, antes sendo mesmo a causa essencial do empobrecimento da maioria dos homens para que a minoria mantenha sua condição de acumuladora de capital, ensejou que as críticas ao modelo liberal se tornassem o invólucro das idéias socialistas, culminando com a sistematização de todo o pensamento socialista anterior a Marx e Engels naquilo que viria a ser conhecido como Socialismo Científico.
