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Erotico-->32. OVÍDIO AMEAÇA RETORNAR -- 08/10/2003 - 07:13 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Conforme prometeu a Cleto, Ovídio, que tinha de cor o inteiro teor do texto furtado, pôs a folha num envelope, redigiu uma carta e enviou aos pais.

Ei-la, na íntegra:



“Meu Querido Pai e minha Querida Mãe:

“Vocês já devem ter visto a folha que tirei do quadro de avisos. Desculpem-me. Li com atenção o texto, onde percebi que Jesus dava a Deus os atributos da perfeição. Quero que vocês me perdoem de tudo, inclusive dos palavrões de quando me visitaram lá no ‘inferno’.

“Estou cansado desta vida aqui. Gostaria de voltar para casa. Vocês me recebem? Se a resposta for ‘sim’, preparem o meu quarto e digam quando é que vou poder voltar.

“Um beijo arrependido, deste seu filho...”



Margarida não pôde conter as lágrimas, contudo, Plínio foi mais cauteloso:

— Querida, o Vidinho deve estar com idéias. Você está lembrada de que Cleto disse que o menino é uma espécie de faz-tudo no templo? Aqui ele era um “faz-nada”...

— Nos últimos anos, porque, de pequeno, era um amor, o mais carinhoso dos três.

— Apesar de você preferir o nosso Arizinho...

— Por ser o caçula.

— Isso não vem ao caso. Eu vou escrever, pedindo para ele esperar, até a gente pôr o quarto em ordem. Mas o mais importante é saber se o delegado está disposto a deixá-lo solto.

— É verdade. Tudo indica que a ordem de prisão está valendo ainda.

A menção da polícia abalou um pouco a mulher, que, involuntariamente, começou a passar um pano sobre os móveis da cozinha, a retirar um pó que não se via. Plínio percebeu a ameaça da recaída:

— Margarida, eu vou pedir para o Vidinho ficar com o irmão. Acho preferível. Eu não ouvi ninguém falar nada, mas acho que, se ele aparecer por aqui, alguém vai dedo-durá-lo a troco de favores.

— Amanhã, a gente vai correndo conversar com o juiz, pedir que perdoe o rapaz.

Plínio sentiu que a idéia era totalmente inconveniente, mas concordou:

— Isso mesmo.

Antes que fossem deitar, leram um trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que era como Plínio achava que iria acalmar a esposa.



Na manhã seguinte, Margarida levantou mais animada, esquecida dos temores da véspera, insistindo num ponto:

— Querido, escreva logo, antes que o Vidinho chegue.

— Com certeza. Mas eu bolei um plano para ver se a polícia ainda está de olho nele.

Naquela manhã, as cópias da mensagem proibida foram impressas e, de noite, distribuídas. No dia seguinte, Ovídio recebeu a missiva paterna, formulada nos seguintes termos:



“Querido Filho:

“Nós queremos que você venha para casa o quanto antes. Todavia, é preciso saber se os investigadores não estão de ‘campana’, para pegarem você. Por outro lado, deve agradecer muito aos pastores que têm cuidado de você, porque, se não fossem eles, nós achamos que estaria ainda no mundo das drogas. Qual é a opinião deles quanto a voltar para casa? Mande a resposta assim que conversar com Cleto e com eles. Se preferir, telefone. Enquanto isso, nós vamos comprar os móveis do quarto. Você quer alguma coisa em especial?

“Um beijo carinhoso da mamãe e um abraço apertado...”



Ao ler a carta, o rapazelho percebeu que estava totalmente perdoado, porque, junto, encontrou a mesma cópia do texto que devolvera. Pensou:

“Ou muito me engano ou eles estão com medo que eu volte ao tráfico. Está certo que achem isso mesmo. Se perguntar ao Cleto, vai dizer que todos os meus amigos estão envolvidos, numa ou noutra quadrilha. Aqui, pelo menos, tenho colegas da igreja e da escola que nunca experimentaram nada. Alguns nem sabem o que seja bebida alcoólica. Embora alguns pastores e ajudantes fumem, estão proibidos de se mostrarem em público com um cigarro na mão. Também o delegado que ofendi deve estar querendo pôr as mãos em mim. Nisso os velhos têm razão. Agora, conversar com o Bispo Moisés e agradecer a hospedagem, nem pensar, porque eles não vão me deixar ir embora.”

Ovídio ainda se preocupou em caracterizar os serviços que prestava à comunidade e se viu importante. Aliviou, assim, a ânsia de retornar para casa, adquirindo uma serenidade que até então não havia tido. É que sentiu, nas palavras da carta, uma atenção por ele que ia além da simples posse sentimental que os pais têm em relação aos filhos. Sentiu amor, como se o papel estivesse impregnado de vibrações sutis. Se estivesse ligado com os superiores do etéreo, saberia que vinha sendo amparado fluidicamente.

À noite, Cleto estava compondo o texto de seu pastoreio, quando o irmão apareceu e foi logo convidando-o:

— Meu caro, vamos sair. O pessoal vai visitar uns pontos de mendicância. Vamos praticar a benemerência, que eu acho que isso está faltando a nós. Afinal, você disse ao pai que nós também ajudamos os miseráveis.

Cleto estava cansando-se de tanto burilar as frases. Não queria fazer feio. Não obstante, Ovídio acertara num ponto fraco de seus sentimentos, porque tinha sentido certa dor-de-cotovelo quanto aos planos da caridade evangélica dos espíritas. Mas reconheceu:

— Você tem razão. A gente não tem de ficar apenas falando. Se não dermos demonstração ao povo de que temos bom coração e de que o dinheiro que arrecadamos serve para melhorar as condições de vida das pessoas que vivem debaixo dos viadutos, vão falar mal de nós.

— Cleto, você está muito preocupado com os outros. O bem, a gente deve fazer sem alarde. Foi assim que o Cristo ensinou.

— O que ele disse, eu sei. Mas a verdade é que os apóstolos não esconderam as curas, os milagres, as parábolas e outros feitos grandiosos do Messias. Fazer, a gente tem de fazer. Isto é óbvio. Mas temos de fazer render, para podermos continuar fazendo. Você sabe muito bem que o nosso jornal publica todas as nossas saídas noturnas, muitas vezes com fotografias. Eu vi, na televisão, que todas as religiões distribuem muita coisa. Ora, se eu vi, é porque mostraram. Então, todos estão preocupados com o que os outros pensam, até lá no centro espírita, onde aquele amigo de papai nos falou a respeito, para justificar o lema do Espiritismo: “fora da caridade não existe salvação”.

No etéreo, Pedro Otávio se regozijava com o fato de conduzir os irmãos para junto dos mendigos e dos favelados.

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