Entro num restaurante na Praça da Bandeira, peço o prato "carioca", que e´ composto de bife, arroz, ovo e batata frita. A vida anda dura e confesso que por vezes tenho medo de faltar-me os recursos de sustento. Tenho me virado em mil para ganhar dez.
Creio mesmo que Jesus tem me ajudado a ganhar esses dez e caminhar essas mil léguas. Meu destino tem sido o de um romeiro da metrópole em busca de achar um porto seguro. O dinheiro curto fez-me pensar num russo, que não tenho certeza do nome, que escreveu um livro chamado Pão. Estava com esses pensamentos quando um rapaz, vestido de modo simples e portando uma bolsa nas costas me pediu comida, dentro do restaurante. Olhei em volta, vi que tinha gente menos preocupada e comendo pratos mais caros que o meu e perguntei-me porque o rapaz veio direto a mim.
Sentou-se do meu lado.
Eu já´ havia posto o bife, arroz, feijao e alguma batata no meu prato. Dei-lhe a outra parte que ainda restava na bandeja, mas não lhe dei a água mineral, que ele olhou de forma sorrateira. Não quis demonstrar muita bondade, porque poderia ser contraproducente. Fiquei pensando na situação inusitada do sujeito pedir comida a um cliente do restaurante e não ao dono ou gerente. Era um jovem, dizendo estar desempregado. Eu ali, dividindo meus limites com ele.
Terminei de comer pensativo nesse acontecimento.
E pedi a Deus que nunca me deixe chegar na situação daquele rapaz.
Fiquei triste pensando porque ele me escolhera e não a outro.
Impossível, mesmo dentro de um restaurante, fugir a indignidade desse pais, que comercializa a vida e a integridade humana a um preço sórdido e a uma covardia sem par.
E parece que só´ eu me incomodo com isso.
Deve ser porque sou estrangeiro.