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cronicas-->O Oráculo -- 15/08/2003 - 00:18 (Patrícia Köhler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há cerca de duas semanas ganhei do meu pai um livro chamado "O Oráculo", e pelo título vocês já devem imaginar do que se trata.
Abaixo do título, as palavras "respostas para as perguntas da sua vida". Voilà! Resposta para todas, to-das as perguntas desta eterna criança curiosa!
Nunca havia visto tamanha parvalhice, mas resisti à tentação de ir à livraria e trocar o livro por algo bem mais cabeça, por exemplo, "Seu Creysson: vidia i óbria".
Este livro ficou uns dias na minha estante, me fitando, e eu tentando trazer à tona misticismo suficiente para pegá-lo e dar ao menos uma folheada.
Até que ontem sucumbi. Peguei o livro e abandonei minha leitura atual, o formidável e instigante "A obscena senhora D", da Hilda Hilst. Aliás, este sim, um verdadeiro oráculo.
Já ia bolar alguma pergunta e abrir numa página qualquer quando deparo com os dizeres COMO USAR O ORÁCULO, logo no começo do livro. Ah, sim, claro, existem regras para usufruir deste artifício, como tudo na vida. Não vou escrever ipsis litteris as instruções, mas deixarei um resumo pra vocês se situarem e perceberem a "seriedade" deste trabalho:
"Para começar, segure o livro com as duas mãos e faça algumas respirações profundas e purificadoras. Então se concentre em uma pergunta que possa ser respondida com um sim ou um não. Quando a pergunta estiver clara em sua mente, repita-a uma vez (mentalmente ou em voz alta). Depois passe o polegar pela lateral das páginas e, quando sentir que ele está no lugar certo, abra o livro. A resposta à sua pergunta será revelada. Algumas vezes uma resposta fará sentido de imediato e poderá ser diretamente aplicada a você e a sua situação. Outras vezes o conselho parecerá vago."
Até aqui todo mundo entendeu? Ótimo, passemos então à parte prática.
Fiz as tais respirações nem tão purificadoras assim - moro em São Paulo - e me concentrei numa pergunta que ando me fazendo há algum tempo, que é: "conseguirei ascender um dia como escritora"?, e passei meu pequenino polegar célere pela lateral do livro. Abro a página e leio:
"Você tirou a DAMA DE ESPADAS: procure a resposta com uma mulher de cabelos escuros".
Legal para começar, né? São dez e pouco da noite e moro apenas com a minha mãe e minha avó, que têm cabelos castanhos claros e brancos, respectivamente. Não saberei tão cedo se minha vocação um dia será aproveitada.
Tentei novamente, desta vez a pergunta foi: "conseguirei ter perseverança suficiente para me formar jornalista"? A resposta:
"Sua carta é o SEIS DE OURO: primeiro chore bastante".
Esta resposta me deixou completamente encafifada. Chorar bastante? Vou chegar à faculdade todos os dias com a cara inchada? E isso me assegurará força de vontade para estudar e não faltar às aulas? É isso?
Muito confuso. Resolvo então fazer uma pergunta absurda, mas que ronda não só a minha cabecinha como provavelmente a de vocês também, de vez em quando: "ganharei na mega sena um dia"? Desta vez a concentração foi tanta que ao correr o dedo pelas folhas, sentia como se já pegasse em notas de cem dólares!
A resposta:
"AS FOLHAS DE CHÁ formaram um trevo: indiscutivelmente sim".
Pó, maravilha, então. Quem precisa se formar ou se preocupar em vender livros, com um prêmio da mega sena à sua espera?
O problema é que esta bolada pode vir tanto semana que vem como em 2057, de que viverei então até lá?
Melhor outra.
Aí formulo a pergunta mais estapafúrdia do mundo, só por graça mesmo: "conseguirei me livrar da maldita celulite do bumbum um dia"?
A aterradora resposta:
"O QUIROMANTE analisou a conjunção de Quíron: faça isso pelo bem da humanidade".
Fechei o livro abruptamente, como se tivesse visto uma assombração. Que é isso, são uns furinhos - que toda mulher odeia - feios, mas não imaginava que fossem uma ofensa visual à humanidade toda! Que meda!
A esta altura, minha vontade foi de jogar o livro no lixo, mas o devolvi à estante. Desta vez deixei lá no fundo, atrás do meu Aurélio gigante, para que não fique à vista de ninguém, muito menos à minha.
E voltei à minha querida Hilda. Que consegue responder a todas as minhas inquietações mais profundas, com a vantagem de nenhuma pergunta ter de ser formulada. Ela responde, e só.
Na vida a gente precisa disso. Respostas que venham antes mesmo das questões.

Patrícia Köhler, estuda jornalismo.

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