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Contos-->O assassino -- 20/07/2004 - 13:19 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu ouvira falar de Chiquinho outro dia...não me lembro onde nem quem me dissera que ele havia matado um bandido. Melhor dizendo, não dissera o informante que se tratava de um bandido. Há diferença entre matar um bandido ou um homem de bem? Não sei, é estranho de qualquer maneira ouvir que um parente seu é um assassino. Se bem que Chiquinho não chega a ser um parente de sangue, pois é apenas primo da minha esposa.
- Sabe, primo - dizia-me Chiquinho enquanto eu o levava para Montenegro - a Helena era uma mulher muito alegre...nunca vi aquela mulher com raiva; só não dava o coração porque não podia tirar do peito.
- Ela morreu cedo, né, Chiquinho? Quis disfarçar o desejo de saber como foi o caso da morte do bandido.
- Foi, primo. Ela era muito bonita. Os meninos eram todos pequenos. A Valquíria não se lembra de mim, nem a Elisa. A Vanusa era a maiorzinha. Puxa! Faz tempo que eu não vejo essas meninas...Elas moravam em Montenegro e foram ainda crianças para Bragança, onde a mãe morreu; depois foram morar em Belém. Eu fiquei por aqui mesmo.
- A Valquíria e a Eliete estão na casa da Fátima. Eu havia dito pro Chiquinho que ele poderia contar a história uma vez só pra todo mundo, tive que suportar a cuíra até que vencêssemos os trinta e seis quilômetros que separavam Bragança de Montenegro. E como o chão de piçarra estava tomado de buracos e “costeletas de vaca”, a viagem levaria mais de uma hora para chegar ao fim. Mas chegamos.
- Val, esse é Chiquinho, lembra dele?
- Claro...e aí Chiquinho, tudo bem? Minha mulher não pôde ocultar a surpresa, pavor, melhor dizendo, ao observar que o primo descera do carro com um revólver nas mãos. Logo, logo, saberíamos o motivo daquele simplório trabalhador rural andar com um trinta e oito na cintura com se fosse um pistoleiro desses que matam trabalhadores do campo nas disputas agrárias. Era hora do almoço, e enquanto a bóia estava assando nos reunimos eu, Chiquinho, João e Pereira, para ouvir como nosso primo se tornara um assassino.
- Era coisa de seis da tarde, a noite já vinha chegando quando eu e o Pedro fomos ao comércio do Brás, lá no 28. Quando chegamos, havia um sujeito que não conhecíamos. Não parecia ser gente ruim. Ficou de longe, tirando a gente. Pedimos uma dose de cana. Bebemos. De repente, o sujeito se aproximou de nós e pediu que pagássemos uma conserva pra ele, pois estava o dia todo sem comer. Pedi pro Brás entregar a carne enlatada. O homem pegou a lata e guardou na mochila. Eu fiquei desconfiado, porque se o cara diz que tá com fome, ele como logo, não é mesmo?
- É mesmo, Chiquinho. Emendamos em coro, ávidos pela continuação da narrativa.
- Em seguida o homem pediu que eu pagasse uma dose de cana e depois um cigarro. Eu disse pro Brás: “Dá o que ele te pedir” Fiz aquilo porque não queria confusão. Logo após eu ter tirado uma nota de vinte reais pra pagar toda a despesa, peguei a bicicleta e chamei Pedro pra irmos embora. Quando estávamos de saída, o elemento se ofereceu para nos acompanhar, antes indagando se iríamos para o 38. Tanto faz dizer que iria para tal ou qual lugar, o homem nos acompanharia de qualquer jeito. Sem que o sujeito percebesse, o Brás me emprestou uma peixeira, talvez precisasse dela no caminho.
- E então?....Perguntei.
- Bem, saímos nós três rumo à ponte do mocajubinha. Toda vez que o sujeito diminuía o passo, nós também parávamos, nunca ficando lado a lado. Depois de alguns minutos, o homem se afastou um pouco mais, se virou e foi logo dizendo: “O que eu tenho procês é isso aqui, ó”, apontando uma cartucheira pra mim e Pedro.
- Qual foi tua reação, primo? Apartou João.
- Eu não contei conversa; o homem partiu pra matar nós, o que eu podia fazer era puxar a faca. Já estava escuro e então eu segurei a ponta da arma e cravei a faca no peito do homem. Ele caiu e me puxou pro chão. Eu dei outra facada no pescoço dele. E mais outra no bucho. Depois saímos correndo. Quando encontramos o Carlos contamos tudo. Ele foi ver o homem e disse que precisávamos terminar o serviço, pois o elemento ainda estava vivo.
- E vocês fizeram o quê?
- Nós íamos voltar para terminar o serviço, mas faltou coragem.
- E o homem? Levaram ele pro hospital? Quis saber Pereira.
- Levaram, mas disseram que jorrava sangue do pescoço dele e não tinha como fazer nada por ele.
- E esse furo aí na tua perna?
- Rapaz, eu não senti nada. Nem vi quando ele puxou uma faca e enfiou na minha perna.
- E esse revólver?
- Hummm...O dono do comércio nos disse depois que o homem costumava aparecer por lá sempre naquela hora, já na boca da noite. E quando não tinha mais ninguém ele anunciava o assalto. Nunca aparecia uma criatura para combater o pilantra. Tem mais, outro dia ele matou um cara porque perdeu uma aposta no bilharito. E parece que matou um policial. A família toda é de bandidos. Um irmão dele está preso no Maranhão; outro está preso em Americano. Por isso o Brás me falou para arranjar uma arma e sair de Bragança. Como tenho parentes aqui em Montenegro, resolvi me esconder por uns dias.
- Olha, Chiquinho, os parentes desse elemento podem saber que tu estás aqui, e virão atrás de ti.
- Vão morrer!
- E a polícia está te procurando?
- Acho que não...mas é melhor não arriscar.
- Mas não dizem que quem rouba ladrão tem cem anos de perdão? Então quem mata um assassino deveria ter mil anos de perdão e ganhar uma medalha de honra ao mérito, não é mesmo? Quis encorajar Pereira.
- É, primo, eu matei pra não morrer. O resto, Deus me julgue.
E assim é a história de Chiquinho, que hoje está em Montenegro, fugido, com medo, acuado, mas vivo. Durante a conversa não notei um tico de arrependimento nos olhos dele. Falava como se tivesse matado um porco. Soube dias depois que ele já havia matado outro homem, porque este tinha brigado com um colega seu, durante uma bebedeira. Os conhecidos disseram que Chiquinho é uma pessoa calmíssima quando sóbria, mas quando bebe “vira o cão”, principalmente se tem que defender um amigo ou parente. Ainda bem que ele agora é meu primo.
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