A ENTREVISTA
Paccelli M. Zahler
Gente, vocês não imaginam o quanto nosso país é grande. Há nele uma diversidade de raças, usos e costumes que poucos conhecem. Este desconhecimento faz com que os brasileiros do Norte nada saibam a respeito dos brasileiros do Sul e vice-versa, provocando absurdos que acabam no radicalismo, preconceito e separatismo, como a recente proclamação da República do Pampa Gaúcho.
Para quebrar essa barreira besta e aproximar nortistas e sulistas, resolvemos entrevistar um personagem típico do Rio Grande do Sul - o gaúcho! É um gaúcho macho com todas as letras maiúsculas, macho pra ninguém botar defeito. Trata-se do gaudério Francisco Dourado, 1,90 m de altura, 90 quilos, calçando 45, faca atravessada na cintura pro caso de algum "paisano" se estranhar com ele.
É campeão de rodeio, tiro de laço, gineteada, acostumado a pegar touro a unha, que só não é mais macho pra não humilhar a concorrência.
Ele nos recebeu em sua estância em Dom Pedrito e transcrevemos abaixo o conteúdo de sua entrevista.
Nome: Francisco Dourado, tchê! Kico Dourado pros conhecidos, Kicozinho Dourado pros íntimos!
Nascimento: No glo-ri-o-so dia 24/4/54, em Pelotas, RS, bisneto de Gomercindo Dourado, herói da Revolução Federalista de 1893.
Formação profissional: Olha, guri, me formei na Faculdade da Vida, criando gado, ordenhando vaca, tosqueando ovelha. Sofri uma barbaridade até aprender a montar cavalo xucro e transformá-lo em redomão. Desenvolvi gosto pelo rodeio ainda piá, brincando de cavalinho com os amigos. Hoje, sou estancieiro! E campeão!
"La fresca", quanta coragem e determinação! Depois de tantos campeonatos, qual foi a maior emoção profissional? "Cuê-pucha!" Foi me apresentar no rodeio de Americana, SP. Tinha aqueles peões vestidos de gringo, roupa de couro, franjinhas, botininhas de bico fino (hum, cala-te boca!), mas não tiveram chance. Eu ar-ra-sei com meu lenço vermelho no pescoço, minhas botas de garrão, guaiaca na cintura, camisa branca e bombacha florida. Tu acreditas que a indiada me aplaudiu de pé, tchê? Eu a-do-rei!
Número da sorte: 24, sempre!
Cidade dos seus sonhos: Campinas, SP
Lugar bonito: Chapada dos Veadeiros, GO
Cor predileta: Rosa choque
Filme predileto: "Bambi", pois me identifiquei muito com o personagem.
Cantor: Os do Sul, mas em nível de Brasil, índio velho, Cauby Peixoto. Cada vez que ele reboleia aquele lencinho branco no ar e entoa "Conceição", me arrepio todo e tenho ganas de abraçá-lo, ai!
Cantora: Ângela Rô-Rô, sem dúvida!
Mulher bonita: Roberta Close! Acho-a linda, lindérrima, uma Vênus, Afrodite, sei lá!
Homem bonito: Que é isso, piá, tá me estranhando? Mas é claro que são os de Bagé! Hum, cada gauchão, santa, er...er..., digo, rapaz!
Ídolo: Lindo, chiquérrimo com aquelas plumas e paetês esvoaçando ao vento. Estou falando do Clóvis Bornay!
Esporte predileto: Salto com vara.
Pratos prediletos: Churrasco, tchê, principalmente se for de picanha; lingüiça e peru ao molho picante.
Aprovas a separação do Sul? De jeito nenhum, tchê! Onde já se viu? Agora, cada que que tiver que viajar para Campinas vou ter que tirar passaporte? E eu o-dei-o ter que passar pela alfândega. Ficam aqueles fiscais apalpando a gente e, como sabes, macho que é macho não se deixa apalpar, como diz aquela música: "trato todo mundo com muito respeito, mas se alguém me pisar no pala, meu revólver fala e bochincho está feito".
Hobby: Chimarrão, na sombra de um cinamomo.
Estado: Depois do Rio Grande do Sul, tchê, lógico que é o Pará! Quando tomei banho na Praia de Mosqueiro, uma coisa mágica tomou conta de mim e liberou meu lado "yin" e, digo com certeza, virei outra pessoa. Quando vou a Belém, não deixo de freqüentar a Praça da República e tomar uns chopes com aqueles rapazes divertidos, alegres e dados do Bar do Parque.
(Publicado no Jornal PQP, Belém, PA)
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