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Erotico-->22. O BISPO MOISÉS -- 28/09/2003 - 08:39 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Vamos deixar Plínio e Margarida entendendo-se a respeito de tudo por que passaram nos últimos tempos e volver ao Cleto, agora a tutelar Ovídio.

Vocês devem estar lembrados de que, com exceção de umas poucas notícias, o testemunho dado durante o culto religioso fora a mais legítima expressão da verdade, claro que com o fito de preservar a conquista que realizara junto à família de Timóteo, ou seja, o coração de Aurélia.

O público presente à confissão do rapaz reagiu de modo o mais simpático possível, deixando-se enlevar pela expressão que lhe pareceu sincera e honrada, tanto que muitos fizeram questão de apertar-lhe a mão, propondo-se para oportuno auxílio.

O sucesso da apresentação repercutiu no seio da comunidade eclesiástica, interessando o bispo da circunscrição quanto a deslindar algum mistério em relação ao orador.

Uma semana depois, quando adentrava o recinto da igreja, foi chamado por Ovidinho:

— O Bispo Moisés me mandou chamar você. Ele está lá nos fundos.

Cerrada a porta, encontraram-se frente a frente apenas os dois: Moisés e Anacleto. Foi do bispo a iniciativa da palavra:

— Vejo que não se enganaram quanto à sua constituição física e à beleza de seus traços. Disseram que você se deu muito bem, testemunhando a sua vida de marginal, dizendo-se arrependido e tudo o mais. Contudo, é preciso que saiba que a nossa comunidade existe em quase todos os municípios do país, sendo fácil investigar a respeito de qualquer indivíduo que deseje prevalecer junto aos pastores, obreiros e fiéis. Para defender Timóteo, já se justificava uma pesquisa rigorosa de seu passado. Mais ainda quando você se apresenta dentro do templo, trazendo emoções comoventes para a maioria das pessoas. Você sabe que esse tipo de pronunciamento arrasta os indecisos e permite que outras pessoas viciadas se predisponham a abandonar as drogas?

Moisés dava tempo para Cleto assimilar as idéias novíssimas que lhe fornecia. O moço, no entanto, caminhou célere e foi capaz de ultrapassar o missionário em seus raciocínios, respondendo:

— Tenho visto esse tipo de declaração repetir-se durante os cultos, mesmo nos programas noturnos da televisão, que mantemos ligada na farmácia, dado que eu trabalho à noite. Se o senhor quer convidar-me para repetir, em outros locais, tudo o que eu disse, devo informar que aceito, com a condição de deixarem o meu irmão “fora da jogada”.

A esperteza do jovem agradou sobremodo o pastor:

— Você acertou em cheio. É de gente assim que estamos precisando. Gente rápida no pensar e séria no agir. Só vou referir um fato importante, qual seja, o de que você omitiu certas informações, as quais apuramos. Quer que as mencione?

— Para quê? Para eu reconhecer que errei?

— Absolutamente, meu caro. Ninguém aqui vai ser acusado de nada. Ao contrário, se pudermos “livrar a sua barra” e a de seu mano, nós o faremos, convictos de estarmos ajudando o templo a ganhar uma alma para o sacratíssimo trabalho de conduzir o rebanho ao Reino do Senhor.

Cleto pressentia nos dizeres do homem à sua frente que havia malícia e segunda intenção. Estremeceu mas criou coragem para revelar o que pensava:

— Se é tão importante que toda a verdade seja posta diante da congregação, devo afirmar que não acredito que nem os obreiros, nem os pastores, nem os bispos, desta ou de qualquer outra seita ou religião, católica, budista, espírita ou protestante, trabalhem pela salvação dos fiéis. O que fazem é se manter montados no dinheiro e no “bem-bom” de uma vida regalada, com todos os prazeres.

— Em outros termos, você nos considera a todos hipócritas?

— Ou vendilhões do templo, porque tudo se faz em função da arrecadação financeira.

— Você não tem medo de ser escorraçado daqui ou o seu irmão?

— Vocês sabem quem somos e o que fazemos. O senhor acha que vamos ter medo de alguma coisa?

— Diga se estou enganado: não é verdade que o seu documento é falso, que o seu cabelo é tingido, que...

— Por que isso agora?

— Para demonstrar que você deveria temer ser preso.

— Eu não quero ser preso nem vou. Se a polícia for chamada, no que não acredito, vocês vão perder um colaborador, porque o Senhor Bispo não me chamaria aqui para me ameaçar.

— Você está me saindo melhor que a encomenda. Vou abrir o jogo. Dada a facilidade que você tem com as idéias e as palavras, dentro de algum tempo, será convidado a pregar a palavra do Senhor em algumas congregações menos importantes. Se se sair bem, no que acredito piamente, virá a ser um dos meus auxiliares diretos. Quem sabe, futuramente, dependendo do seu desempenho e da repercussão junto ao povo, poderá cuidar de algum posto no campo do desenvolvimento dos oradores, ajudando-os a confeccionar os sermões. Que você acha disso?

— Quero saber, antes de dar a minha resposta, se o senhor concordou com a minha maneira de acusar a todos disto e daquilo. Tenho ou não tenho razão?

— Você está levantando um ponto crucial para quantos se dispõem a explicar os textos bíblicos. Como você afirma ter acompanhado as transmissões dos cultos pela televisão, deve ter observado que os pastores acusam as pessoas, de maneira muito geral, acompanhando os textos que reproduzem, de serem egoístas, falsas, orgulhosas, prepotentes etc. Não é verdade? Então, fica bastante evidente que todos nós conhecemos os pecados, como ainda nos referimos aos castigos, na vida e depois da morte. Você está me acompanhando?

— Certamente.

— Conclua, então, por favor...

— Não sei se captei a idéia mas o senhor está sugerindo que vão enfrentar sem medo, como eu mesmo afirmei antes, qualquer conseqüência desagradável, caso estejam enganando os crentes.

— Não é bem isso. Você passou perto. O que eu desejei demonstrar é que nós somos absolutamente verdadeiros quando afirmamos os princípios bíblicos. Devo afirmar, para ser justo, que, tanto quanto você, a maioria de nós começa pensando que os pregadores não têm convicção religiosa.; mais ainda: que somos completamente materialistas. Quando “amarramos” as mãos nas costas dos que se apresentam possuídos pelos demônios, damos a impressão de havermos forjado uma representação teatral com a finalidade de angariar lucros morais e monetários para a igreja. Muitos de nós, afoitos, já fizeram isso. Contudo, as pessoas se apresentam espontaneamente e nos pedem para livrá-las da maldade dos entes malignos. Aí, começamos a ver que existe aquela realidade. A nossa crença vai se firmando, até que, de repente, nos vemos totalmente integrados à doutrina que contém as diretrizes ideológicas, morais, filosóficas e religiosas dos nossos cânones eclesiásticos.

— Se bem entendi, se eu ficar a repetir o meu testemunho, vou acabar acreditando que vivi exatamente tudo o que inventei?

— Você terá de acrescentar os fatos que nos sonegou na primeira “performance”. Se for assim, não é justo estabelecer como real o desejo de continuar empregado na farmácia, até casar-se com Aurélia e compartir a herança de Timóteo? A vida é uma somatória de realizações. No final, cada pessoa tem de analisar o que fez, o quanto fez, o que deixou de fazer, para merecer partir em paz e colocar-se perante o juízo de Deus. Você acha que estou inventando isto tudo?

Para Anacleto, a verborrágica manifestação do bispo continha, no mínimo, muita coerência, apesar de não haver compreendido todos os meandros por onde transitaram os pensamentos envoltos em terminologia apurada e complexa. Foi obrigado a admitir que Moisés não gastaria boas velas com mau defunto e se sentiu ufano por tamanha condescendência e atenção:

— Quando começo?

Moisés sorriu satisfeito, não escondendo a alegria de haver convencido o jovem a cooperar com a causa.

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