desperdiço a madrugada doce,
perfeita pra sussurros e arrepios.
estando vazante, não quis levar-te
ao abismo que me desafia.
esperas minha doçura, eu sei.
não a posso dar-te
porque não a tenho mais.
levaram-na...
diariamente tento retomá-la
para oferecer-te,
ensaio sorrisos,
imagino que um beijo teu
pudesse trazê-la de volta.
lembro-te o corpo
- que pernas, meu Deus...
mas não, nem tuas pernas perfeitas
me redimiriam.
enquanto me tentas com promessas de carícias,
olho o vazio.
enquanto me chamas com voz quente e doce,
eu esfrio.
não posso.
vivo a dizer-te: amanhã, talvez, um dia.
páro agora de prometer-te o impossível.
o que queres, não posso dar-te.
o meu desejo, coitado, aprisionado,
não te alcançaria.
não haveria umidade em meu corpo
pra receber-te,
e o arrepio da pele, não te destinaria.
levaram-no.
e o meu beijo?
como haveria de dar-te,
se é outra boca que quero,
que preciso?
vamos assim.
sê meu amigo,
coisas de amor, agora, não me digas,
que se ando cheia de desejos e arrepios,
não é por ti,
que bem merecias.
vão-se os dias assim.
puro egoísmo:
não quero que desistas.
és como um porto na minha noite.
és como a porta de saída.
13/11/2000
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